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A moda não é construída com uma pessoa única para uma pessoa única, segundo o Antropólogo Marcel Mauss, a moda é uma linguagem de uma dada localidade, de uma determinada geração, dentro de uma determinada época no tempo, que constrói regras de comportamento social que são obrigatórias e que expressam as ideias de um tempo determinado isto é, a moda é uma prática social obrigatória e temporal, efêmera.
A moda é uma linguagem e como tal precisa ser transmitida e recebida da mesma maneira, sem intenções em nenhum dos lados da transmissão de informação, a teoria das comunicações diz que todo processo de comunicação implica em ruídos que acabam distorcendo a recepção e este problema somente pode ser remediado com os filtros anti ruídos.
A moda revela informações que nem sempre podem ser decodificadas igualmente por todos os participantes do processo, porque a decodificação da mensagem precisa e depende da capacidade e do conhecimento da linguagem, assim como em qualquer linguagem ela tem uma gramática que pode ser tão complexa como qualquer gramática, e tem a semântica e as figuras de linguagem e dos maneirismos singulares como por exemplo as gírias e as expressões idiomáticas e culturais.
Estamos diante de uma moda e uma nova linguagem onde a sociedade ou parte dela se expressa e se comunica suas intenções e expressam a época e suas regras sociais obrigatórias. Essa nova linguagem é o Funk, e como toda moda é totalitária e não exclui nada nem religião, nem relações familiares, casamento, sexo, namoros, escolaridade, cultura, roupa, maquilagem, gestos, comida, bebidas, expectativas sociais, inclusive a música, poesia, artes, penteados, tatuagens, enfim, não exclui nada, por isso é tão impactante, leva a todos a se envolverem e reagirem de todas as maneiras possíveis, de adesão e de repulsão.
O nome Funk atrai o pensamento para o homônimo norte americano mas são movimentos aculturados e diversos com um sentimento comum de fundo na etnia negra ou afro, os ritmos compassados e sincopados, a simplificação melódica e as letras sem sofisticação literária, tentando causar impacto através da quebra dos padrões estéticos e morais falando em sexo, dinheiro e poder, as três esferas da necessidade e interesses humanos.
A moda Funk se insere em um momento em que as liberdades formam um núcleo central de preocupação obsessivo diante das circunstâncias e momentos então a expressão dos comportamentos sociais são expressos na linguagem da moda na agenda construída pelo momento.
Somente existe a liberdade contra uma proibição ou contra regras estabelecidas, sem os limites não existe o exercício de liberdade, porque a liberdade não é um valor absoluto e abstrato, a liberdade somente pode ser exercida contra um limite, sem limites não existe a liberdade de ultrapassar barreiras inexistentes, um depende de outro, são mutuamente excludentes e dependentes, o limite e a liberdade, são cúmplices e complementares.
Para constituir a liberdade é preciso proibir alguma coisa, a liberdade não se constrói no vácuo, a liberdade se constrói contra a falta de liberdade que significa a presença de regras para serem quebradas em nome da liberdade. A liberdade é como o frio e o escuro, apenas existem na ausência de calor e da luz.
O Funk não é ele simboliza tudo que a sociedade aspira e se revela através de seus instrumentos em forma de manifestação artística carregando e se alimentando das mesmas coisas que ele cria e recria a partir dos incentivos que recebe e da resistência que provoca e se definha apenas com a indiferença e com a fadiga do tempo, como qualquer moda.
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