disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha
Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político
Blogger-Um modelo diferente de
desenvolvimento para o Brics (Brasil)
Estamos vivendo um novo tempo
para a humanidade em que uma agenda inteiramente nova se coloca, onde
ingredientes indispensáveis não podem ser mais ignorados por nenhum governo,
partido político e pelas instituições públicas e privadas.
Esta nova agenda já vem pronta e
não se pode adiá-la mais. Teremos que construir modelos de administração
pública e de comportamento social baseados numa nova era onde não podemos virar
as costas para a:
Vermelha tinha 7.705 estudantes freqüentando universidades de 14 países, a
maioria na Rússia.
A finalidade do Plano era pôr a
China a par do mundo "naqueles ramos da ciência e da tecnologia que são
essenciais à economia nacional".
A investigação no campo da teoria
científica ou "ciência pura" era considerada secundária.
Calculando que seriam necessários
cerca de 500 cientistas dos mais aptos e 800 engenheiros para a realização dos
projetos de produção de energia nuclear, a contribuição teórica seria,
provavelmente, retardada durante alguns anos.
disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha
Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político
O C dos BRIC e o B de Brasil: a engenharia da educação em engenharia
Quando Mao Tse Tug anunciou o “Grande Salto Para Frente” da China, o mundo todo tremeu. Mas, foi um rebate falso.
Fracassou o plano do Grande Ditador de fabricar milhões de toneladas de ferro gusa em fornos domésticos, comunitários, pela população chinesa, num esforço patriótico para lançar a China na vanguarda industrial mundial.
Viu-se que o ferro gusa produzido, em fornos domésticos, não tinha a qualidade esperada. Faltavam: tecnologia, conhecimento, especialização, instalações industriais, enfim faltavam engenheiros.
Mais tarde a China daria um grande salto para frente. Mas antes deu um grande salto pra frente na preparação tecnológica, precedida pelo salto na engenharia, precedido pelo salto na formação em massa de engenheiros. Em quantidades chinesas, como nunca se viu no mundo.
Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político
Bolha Brasil: o apagão de conhecimento
I - Estação Espacial Internacional
Parabéns para o Brasil que o PT de Lula nos legou nestes dois mandatos gloriosos, onde os avanços nunca antes tidos na História do Brasil aconteceram pelas mãos de ninguém menos do que o representante legítimo do povão que chegou ao poder nunca antes na nossa elitista História nada gloriosa desde o Brasil Colônia.
O que vou relatar aqui se insere naquela velha circunstância histórica em que séculos de desprezo pela nação nos legaram vícios da elite dominante que explorou o País, servindo-se muito bem dele e da nação para vangloriar-se na Europa, passear e curtir os ganhos-Brasil lá fora, nas estações de esquis, nos cafés, nos cassinos, falando fluentemente Francês, Inglês, Alemão, e envergonhadamente, o Português.
A nossa elite sempre gostou de mandar seus filhos estudarem na Europa, agravando aqui no Brasil a idéia de que os títulos pós-graduados somente têm valor quando escritos em língua estrangeira, embora as nossas melhores universidades sigam à risca toda a bibliografia vinda do exterior, seus programas de treinamento são totalmente clonados das melhores universidades americanas e européias. Mas os títulos daqui não têm o mesmo valor segundo a nossa tradição.
Esta elite que despreza o Brasil e os brasileiros, acostumada a se abastecer no exterior, despreza tudo que é nacional, nunca deu valor ao que aqui é e pode ser desenvolvido pelos caboclinhos brazucas.
Esta elite agora pensa que pode comprar conhecimento tecnológico no exterior. Por isso tem encontrado enormes dificuldades para suprir as lacunas do Estado nesta nova fase que se apresenta o Brasil como ator político destacado no cenário das relações internacionais.
Os baluartes do mundo da tecnologia investiram décadas de pesquisas, treinando gente, gastando tempo e dinheiro, espionando, copiando, patenteando invenções e no desenvolvimento de invenções para obterem vantagens comparativas no mercado internacional, e em alguns casos, obterem a superioridade absoluta em certas tecnologias.
A nossa elite, acanhada, quis guardar para si o acesso exclusivo ao conhecimento científico. Mas, ocorre que o conhecimento científico precisa de massa crítica para florescer. As pesquisas precisam de continuidade. A elite não dá conta sozinha de produzir e de reproduzir a competência intelectual, precisa da participação em massa da massa, do povão.
A elite nunca sonhou em partilhar e compartilhar os seus privilégios de classe com o povão, seria um enorme risco retirar de seus dependentes a garantia da continuidade, dos privilegiados e preguiçosos descendentes.
Mas, mesmo assim, fora oferecido ao Brasil compartilhar e desenvolver a sua própria pesquisa num projeto de maior importância para a humanidade: o consórcio da Estação Espacial Internacional. O que fez a nossa elite de estreiteza visionária? Recusou a oferta generosa. Tecnologia nunca se vendeu na história da humanidade! Vende-se tecnologia obsoleta. Tecnologia se cria ou se rouba!
Mas, a nossa elite acostumada a ir às compras, na Europa, ainda acredita em se poder encontrar um supermercado de tecnologias à venda! Quanta ilusão!
A nossa elite está esperando os “trouxas” desenvolverem a tecnologia lá na estação espacial para quando eles descerem de lá nos venderem aqui na Terra!
II - Compra de aviões projeto FX
Abriu-se uma licitação internacional para a compra de tecnologia avançada embarcada nos aviões militares de caça para a nossa gloriosa Força Aérea Brasileira – FAB.
Este processo começou no mandato de Collor de Melo, atravessou o mandato de Itamar Franco, passou pelos dois mandatos do Presidente Fernando Henrique, e depois atravessou os dois mandatos do presidente Lula da Silva, e ainda aguarda no mandato de Dilma Roussef.
O que impede o processo ser concluído, em resumo? A transferência de tecnologia terá que fazer parte do pacote de venda dos aviões.
Imagine que a nossa elite vive ainda acreditando que depois de toda a corrida espacial, da Guerra Fria, e de trilhões de dólares, francos e rublos os países idiotas vão nos vender a tecnologia desenvolvida durante quase 70 anos na aviação, eletrônica, processamento de sinais digitais, técnicas de construção, fórmulas de cálculos de engenharia para perfis aerodinâmicos de alto desempenho!
Durante a Segunda Grande Guerra Mundial mesmo sob um dilúvio de bombas alemãs desabando sobre o seu território, com o penoso sacrifício de milhares de civis sendo arrasados pelos Stukas, Heinkel, V2, V1, os ingleses a tudo suportaram, com o auxílio inquestionável dos EUA, seu maior aliado contra os alemães. Com tudo isso, os ingleses esconderam muitos segredos tecnológicos dos norteamericanos, que poderiam ajudar ao EUA a ajudar a encerrar a guerra mais rápido e com grande poupança de vidas aliadas, civis e militares. Os ingleses esconderam dos EUA, durante a guerra: a invenção dos freios a disco, que poderiam abreviar o esforço de pouso de aeronaves embarcadas em porta-aviões em 80%, permitir que grandes bombardeiros pousassem em pistas muito mais curtas, e que pilotos com aviões avariados pousassem com maior segurança. Esconderam também dos norteamericanos as suas pesquisas sobre computadores eletrônicos, turborreatores, e radares.
Os EUA não possuem um único material em seus inventários das forças armadas, USARMY, USAF, USMC Marines, USNAVY que não tenha sido produzido nas indústrias norteamericanas. E o Brasil acredita que vai vender aeronaves Tucano para os EUA.
Durante a década de 80, a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas projetou a formação de cerca de 300 mil matemáticos por ano! Entre engenheiros, estatísticos, físicos e matemáticos para suportar a corrida tecnológica com o seu mais bem preparado adversário na Guerra Fria, os Estados Unidos da América do Norte!
E o Brasil ficava deitado em berço esplêndido, subvalorizando os seus engenheiros, sem falar dos físicos que eram formados apenas para serem professores, juntamente com as levas de matemáticos, isto a uma taxa anual de alguns milhares, quando muito não passavam de 20 mil formados por ano, enquanto isso as nossas universidades continuam a despejar milhares de médicos (60 mil, incluindo auxil. e terapeutas) e de advogados (70 mil) na maior advocracia do mundo, perdendo em número de advogados por habitante apenas para o Japão. (O Brasil forma por ano: 277 mil Cientistas Sociais - Campeão mundial neste setor é o País do Blá-blá-blá, como diria o Ex-ministro Sérgio Motta: "masturbação sociológica", - 200 mil Educadores e 108 mil administradores. Veja quanto os países protagonistas da tecnologia lançam de engenheiros por ano: China 1.640 mil/ano; Índia 640 mil/ano, EUA 201 mil/ano; Rússia 190 mil/ano; Japão 177 mil/ano; França 103 mil/ano; Alemanha 66 mil/ano; Inglaterra 60 mil/ano, Espanha 50 mil/ano; Polônia 50 mil/ano; Itália 36 mil/ano).
Advogados e médicos não constroem e projetam submarinos atômicos, aviões de caça avançados, programas de computadores militares estratégicos, computadores, chips de computadores e tecnologia de ponta.
A grande falha na revolução educacional de Cuba, que se difere das revoluções educacionais em Corea do Sul, Japão, URSS, EUA é que faltou ênfase nas Ciências Matemáticas em Cuba.
A Matemática é tão importante para a humanidade que na entrada da academia grega de filosofia estava escrito "Não entre aqui quem não souber Geometria" condição sine qua nom para ser filósofo; Augusto Comte o pai da Sociologia declarou que a Matemática é a Ciência base para todas as demais ciências.
O Brasil não pode dar as costa ao ensino das ciências ligadas à Matemática. Não existiria tecnologia sem ela.
Assim, ficamos no papel de quem espera Godot chegar e ele nunca chega para nos vender a tecnologia. E também não corremos atrás do tempo perdido na criação de cérebros preparados para não somente criar tecnologia, mas até para copiar tecnologia se precisa de técnicos preparados para compreendê-la e depreende-la na engenharia reversa.
Alguém precisa dizer aos nossos governantes que tecnologia se conquista ou se rouba!
Seja como for, o Brasil não irá a lugar algum apenas pensando em pequenas aquisições condicionadas a uma improvável e fantasiosa transferência de tecnologia. Somente alcançará seus objetivos se abrir os olhos para reais parcerias de desenvolvimento, caminhando aí sim para obter tecnologia própria no futuro.
Talvez eles acordem para a realidade de que a tecnologia traduz a cultura de uma civilização que vai ali codificada no seu modo particular de perceber a realidade, são maneiras particulares de relação com a ciência. O computador japonês é diferente do chinês, que é diferente do americano, que é diferente do russo, que é diferente do polonês, que é diferente do alemão; a tecnologia reflete não apenas o grau de desenvolvimento do conhecimento senão a forma particular de fazê-lo. Não se copia a cultura. A cultura sempre é amalgamada quando entra em contato com outras culturas diferentes, nunca sai ilesa da interferência de outra cultura da qual entra em contato. Ambas se modificam. Tecnologia é cultura.
A cultura é um fenômeno desconhecido e misterioso. A cultura não pode ser anulada, transferida, censurada ou ensinada. Cultura não desaparece, nem surge do nada. Ditadores sonham que um dia, uma vez, podem submeter um povo ao seu domínio através da sua perspectiva cultural.
Não tem sido assim na História da humanidade. O dominador é o dominado, e o dominado é o dominante.
Assim, o capoeirista poderia ser preso praticando a sua arte marcial, antes da sociedade desistir de domá-la; mas, o Estado e a sociedade não assimilaram a lição. Perseguiram e estigmatizaram pela criminalização e pela exclusão social os primeiros sambistas, os cabeludos, os barbudos, os rockeiros, os hippies, a feijoada, o bikini, a minissaia, a guitarra-elétrica, os artistas populares, o forró, tudo, antes de virar "chique" e ser transformado pela fusão cultural.
Este processo contínuo de transformação que termina na aceitação, não sem antes modificar os ingredientes da cultura insurgente modificando-a através de uma nova síntese, num processo dialético contínuo de reconstrução.
A cultura é uma criação anônima e coletiva. É a ponta do iceberg de subculturas que vão se amalgamando e consolidando à medida que recebe reforços sociais construtivos e destrutivos, incentivos e discriminações.
Nenhum professor sai ileso de uma sala de aula. É melhor não entrar nela quem pensa que vai ensinar alguma coisa aos seus discípulos. O professor e o aluno saem da sala de aula transformados, trocaram experiências sensitivas e cognitivas sem a consciência do processo lento e vigoroso.
A engenharia social consiste em misturar as experiências de etnias e culturas para forjar o novo. Assim como a América não se transformou na Nova-Europa, com a migração dos britânicos e dos germânicos protestantes, uma nova civilização diferente ali se construiu. E assim vai se construindo uma nova civilização contra a vontade dos israelenses no Oriente médio, porque será inevitável que as duas culturas, ou as muitas culturas árabes, ocidental, judia, cristã, muçulmana, fenícia já estarão produzindo as suas variantes de novos islamismos, judaísmos, cristianismos sem que os seus protagonistas o percebam ou o desejem.
Nós do Ocidente não percebemos o quanto o judaísmo nos marcou. Quando acordamos aos domingos e ao invés de irmos trabalhar ou formos para a escola tudo pára: é o costume judaico que nos obriga a guardar e separar o dia de domingo. O costume da monogamia, a supervalorização do dogma da virgindade, e, assim, sem o percebemos foram introjetados no nosso modo de vida elementos culturais alienígenas, mesclados e transformados, alguns destes elementos vão parar nas nossas leis, outros não escritos como guardar o domingo e a virgindade, mesmo não escritos têm enorme importância tanto ou mais do que as normas formais.
Assim, o silvícola domou e domesticou o jesuíta, ensinou-o a gostar do fumo, de tomar banho, a amar e reverenciar a natureza, comer tomate, batata, mandioca, chocolate, o jesuíta que pensou estar interferindo ou destruindo a subcultura inferior não percebeu que foi contaminado por algo que julgava inferior e inútil.
III - Max Holster e a Embraer
A empresa brasileira Embraer tornou-se hoje um paradigma de como o Estado Brasileiro quando investe em formação e tecnologia apresenta resultados equiparados aos mais altos níveis universais.
Os militares nos anos 60 criaram a instituições certas para darem o salto tecnológico que resultou na criação do maior sucesso do complexo educacional-tecnológico-empresarial do Brasil, até então.
Primeiro criaram os instituições de ensino de primeiro nível, com a criação do Instituto Militar de Engenharia - IME, do Instituto de Tecnologia Aeronáutica - ITA, instituições de ensino. Criaram institutos de tecnologia e pesquisa como Centro Técnológico Aeronáutico – CTA, Instituto de Pesquisa da Marinha – IPEM, assim estavam formadas as bases para o surgimento da Embraer.
Para criarem o seu primeiro produto, o ITA contratou o engenheiro francês especialista em estrutura de aviões Max Holster, e firmou um convênio para a utilização de supercomputadores da NASA para efetuarem os delicados e complexos cálculos de engenharia aerodinâmica do projeto de seu primeiro produto que foi a aeronave batizada de Bandeirante.
Sem a participação de Max o projeto certamente seria um fracasso. Outras idéias mirabolantes e nada práticas foram descartadas sob o comando técnico de Max e do major Ozires Silva, o primeiro diretor da Embraer.
Max Holster trouxe o conhecimento avançado que faltava para introduzir no projeto do Bandeirante, e com a sua participação chave projetou a Embraer como uma empresa competente, e firmou o nome do Brasil dentre os três maiores e mais importantes fabricantes mundiais de aviões.
Mas, não fabricamos ainda os motores turbojatos, nem os aviônicos das aeronaves. Como queremos ser líderes em fabricação de aeronaves? Faltou algo na lição de casa. Se tivéssemos nos dedicado a estes setores certamente que o Brasil não estaria de pires nas mãos com o projeto FX encalhado nas docas da tecnologia que deixou de ser desenvolvida a tempo.
IV - A religião católica
O fator cultural do Brasil rebate em uma das bases de nossa formação que é a religião predominante que segundo Sérgio Buarque de Holanda, marca profundamente o modo de ser e de pensar da nossa civilização brasileira.
Em sua teoria sobre o desenvolvimento e o capitalismo o sociólogo alemão Max Weber associou o sistema capitalista ao espírito protestante e o seu jeito de ser.
Sem maiores preâmbulos, e estendendo a tese de Weber sobre o espírito religioso e a sua influência no comportamento social, econômico e político de uma nação, adicionaríamos, com a vênia de Weber o espírito confucionista e o budista aos requisitos religiosos dos países vitoriosos no capitalismo.
Os países católicos desenvolvidos estão alguns degraus abaixo do desenvolvimento capitalista mundial. Todos os países subdesenvolvidos ou são muçulmanos ou são católicos,segundo Weber.
Esta é uma relação complicada, complexa e não muito clara entre a religião e o desenvolvimento social e econômico, mas ela nos estimula a pensar se realmente existe esta relação direta entre certas religiões e o desenvolvimento capitalista.
Um outro fator determinístico do desenvolvimento vem a ser o fator clima. É sabido que as regiões de clima quente não colaboram para o espírito de contrição, meditação, contemplação, recolhimento e calma necessários para o desenvolvimento intelectual, em contraposição o clima severo do frio nas regiões polares deu a oportunidade para que o processo de evolução se deparasse com as três alternativas possíveis para as espécies ali estabelecidas: a) migração; b) adaptação ao meio ambiente; c) adaptação do meio ambiente ao ser humano.
Diferentemente dos esquimós, os povos nórdicos não procuraram se adaptar as intempéries nem se aproveitar dos meios de fortuna para sobreviverem, mas, pelo contrário, estudaram e desenvolveram a tecnologia para modificar o meio ambiente. Esta é a diferença entre conhecimento científico e conhecimento tradicional.
Os povos situados nas latitudes mais baixas se projetaram como os maiores vencedores na tecnologia e no conhecimento, conforme atestam os ganhadores do Prêmio Nobel.
V - Produção de chips de microprocessadores
Os países de ponta já dominaram e domaram as técnicas de difusão de pastilhas de microprocessadores em seu ciclo completo. Nenhuma potência mundial depende desta tecnologia.
O Japão fez a lição de casa e até nos ensinou como obteve esta tecnologia. Fez um filme documentando como foi que roubou esta tecnologia dos laboratórios da Intel nos EUA, logo após a descoberta do chip de computador pelo Dr. Noyce.
Mas estavam preparados para isto. Nesta fase o Brasil dava passos largos para obter a sua tecnologia de chip. Aí então veio o governo collorido e matou as pesquisas avançadas em andamento no Brasil tirando a irrigação de verbas, extinguiu empresas de pesquisa, desbaratou grupos de pesquisa e abriu as portas do mercado brasileiro extinguindo a reserva de mercado de informática, coisa que os EUA mantém até hoje através do Buy American Act que garante a reserva de mercado de tecnologia para as empresas americanas, como se viu recentemente na última tentativa da venda de aviões Tucano da Embraer para as forças armadas dos EUA, barradas por uma concorrente americana, mesmo depois de anunciado o resultado da concorrência internacional onde a Embraer sagrou-se a vencedora.
Não é preciso dizer que o domínio da microeletrônica é o passaporte para tudo que vier daqui pra frente. Mas, perdemos o bonde desta história.
VI - Indústria automobilística nacional
Nenhuma potência está ausente do mercado de fabricação de automóveis sem a sua própria indústria nacional de automóveis.
Não se sabe a relação direta que isto tem a ver com o fato de ser potência mundial, mas, nenhumas das potências mundiais apresenta esta ausência. Assim como todas as potências mundiais possuem as suas marcas nacionais de automóveis, nenhuma delas deixou de apresentar um programa de lançamento e construção de naves e lançadores espaciais de satélites artificiais e tripulados.
Dominar a tecnologia espacial e automobilística virou uma referência para ser uma superpotência.
Nenhuma delas prescinde do domínio do processo do controle completo do ciclo da energia nuclear.
Diante destes símbolos, como o Brasil vai estar presente sendo diferente, embora pareça ser mera questão de status?
A explicação é que a pesquisa espacial, o domínio da energia atômica é o certificado de qualidade de um rigoroso e competente sistema de domínio das bases de conhecimentos completas de todos os ramos da tecnologia.
Um submarino nuclear é o artefato tecnológico mais complexo jamais construído pela tecnologia humana, a seguir em nível de complexidade tecnológica vem os engenhos espaciais.
O nosso sub nuc precisaria de mais 10 mil novas patentes de invenção e de pelo menos mais 20 mil engenheiros, matemáticos, físicos e químicos com isso e mais dez anos estará concluído o sub e com a sinestesia da complexa evolução nas técnicas de metalurgia, ligas, eletrônica, medição, matemática, hidrodinâmica, sensores, hidroacústica, computação de guerra, e todos os setores relacionados diretamente e indiretamente a indústria naval avançada.
Sem esta certificação não adianta posar de parceiro e ombrear os líderes mundiais em tecnologia.
VII - Ensino e pesquisa: o apagão
O Brasil não vai ser a potência mundial que se anuncia.
Estamos vivendo um apagão de preparação na educação que se comunica com a tecnologia ausente, e este apagão vai estourar a bolha de desenvolvimento que nos movimenta para ocupar os primeiros lugares em desenvolvimento econômico mundial.
Infelizmente este momento está bem próximo. A nossa defasagem tecnológica, educacional vai implodir todo este esforço que colocou o País na aparente vanguarda da economia mundial nestes últimos 10 anos.
Não é a economia quem vai nos explodir, ao contrário do que aconteceu em 2008 nos EUA: o que vai nos explodir é a educação.
Vivemos um gap de educação que não se vai resolver nem que o governo brasileiro invista 100% do PIB nos próximos dez anos, continuamente.
Faltariam professores, universidades, alunos vestibulandos, material didático, pedagogia, incentivos aos alunos para estudarem engenharia ao invés de correrem para os cursos de medicina e de direito.
Todos os países que foram ou são potências mundiais nunca desprezaram a educação e a tecnologia. Não será o nosso País a única exceção. Seria pura fantasia esperar que pudéssemos manter a competitividade com a Índia, que lidera na ciência da Matemática, em programas de computadores, Astronáutica, Engenharias, como a Rússia que lidera em conhecimento tecnológico em todas as áreas de conhecimento básico como Química, Astronáutica, Matemática, Engenharia Naval, Engenharia Aeronáutica, Engenharia Eletrônica, Engenharia Civil, Medicina, Biologia, Estatística, a China domina as Engenharias, Matemática, Química, Astronáutica, Computação, Metalurgia, e o Brasil: dominando o Direito, Relações Internacionais, a melhor diplomacia do mundo, Novelas de TV, Carnaval, Futebol e Astrologia!
O Brasil não tem demanda para poder formar e empregar o grande exército de matemáticos, físicos e engenheiros de que necessitaria para alçar um voo para o primeiro lugar no mundo tecnológico porque está preso ao círculo vicioso de que não precisa de engenheiros porque não possui projetos e programas de pesquisa intensiva e não pode tocar projetos de pesquisa intensiva como o sub nuc porque não tem massa crítica de engenheiros, matemáticos e de físicos.
Para sair deste impasse mexicano, sugiro a criação de um poderoso incentivo econômico que vai desviar a nossa juventude do sonho único de serem astros do futebol, e trazer de volta ao país aqueles que levaram para outros países o conhecimento que o Brasil vai precisar dentro de 40 anos para ser a referência número um em tecnologia quântica.
A ideia é a de criar um programa de prestação de serviço patriótico civil obrigatório para todo aluno de escola pública que se formar em Matemática, Física, Estatística e Engenharia intensiva em Matemática.
Estes egressos fariam uma prova anual para receberem durante toda a sua vida uma bolsa que varia entre R$ 2.000,00 e R$ 4.000,00 de acordo com a nota da prova anual de Matemática, Física e Engenharia de uso intensivo de Matemática. Para os Mestres seria paga a quantia vitalícia de R$ 8.000,00 e para os doutores a quantia de R$ 12.000,00.
Todos estes bolsistas ficariam durante toda a sua vida à disposição do Estado para prestarem serviços por demanda para resolverem e participarem de problemas e projetos de interesse nacional em empresas atuando no Brasil privadas ou estatais, escolas e instituições de pesquisa, produzindo quando não estiverem atuando nestes projetos algum artigo científico a ser publicado em revistas especializadas acadêmicas uma vez por ano, alternativamente ao trabalho ou prestando assim a contrapartida inclusive lecionando quando preciso for.
Assim, dentro de 50 anos estes profissionais estariam colaborando e até formando empresas de consultoria, indústrias e patenteando inventos tecnológicos comerciais e estratégicos sigilosos para o Brasil se ombrear e ocupar o primeiríssimo lugar na tecnologia em todos os ramos.
A comunicação social, citando fontes do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar, informa sobre um acordo prévio russo-chinês visando o fornecimento para a China de 24 caças Su-35. O contrato poderá facilitar a entrada deste avião russo no mercado mundial, embora a cooperação com a China envolva certos riscos.
Veja as fotos do caça Su-35
O caça Su-35BM virou a última interação da plataforma T-10C. O seu primeiro modelo era o famoso caça Su-27 que, a par da sua modificação, o Su-30 conquistou, nos anos 1990-2000, a fama mundial. Os aviões baseados em plataforma T-10 têm gozado de grande procura nos últimos 20 anos.
Convém notar que foi a China que lhe abriu o caminho para o mercado internacional. O primeiro contrato, prevendo o fornecimento de 20 caças Su-27SK, foi assinado em 1991, enquanto que o segundo, visando a venda de 16 aparelhos do gênero, foi firmado em 1996. Em seguida, foi firmado um acordo de entrega de 100 lotes para a montagem autorizada. Depois disso, a China adquiriu os aviões de marca Su-30MKK.
Aos contratos acima se seguiram os acordos com a Índia, a Malásia, o Vietnam, a Argélia e outros países. Todavia, o sucesso comercial tem um lado reverso. Ao proceder à montagem, a China começou a copiar o caça russo, tendo lançado a produção do avião "local" próprio J-11. Por uma série de características, inclusive o recurso de propulsores e o equipamento de bordo, a versão chinesa copia em muito o original. Mas o processo de reprodução aumentou as potencialidades da indústria de aviação militar chinesa, o que permitiu acelerar a modernização da Força Aérea, a qual, no início dos anos 2000, tinha a seu serviço os engenhos J-6, quase idêntico aos Mig-19 soviéticos dos anos 50 do século XX.
Não é primeira vez que a China manifesta um vivo interesse em relação aos aviões de 5ª geração. Todavia, o destino do Su-27 na China implica reflexões sobre uma eventual repetição da história com o Su-35. Quem poderá garantir que não haja tentativas de copiar o avião russo? As perdas potenciais com isso poderiam ser diminuídas por um significativo lote de cerca de 50 aparelhos voadores. Tal aquisição privaria de sentido a reprodução, enquanto que o dinheiro auferido pelo produtor, poderia ser canalizado para a projeção de engenhos mais sofisticados.
Uma partida de 24 aviões não seria suficiente para aceitar uma hipótese de que, daqui a 10-15 anos, venha surgir no céu um clone chinês. O risco poderá ser diminuído pelo eventual fornecimento da versão simplificada do Su-35 que, provavelmente, será posto em prática. O preço de 1,5 bilhões de dólares por 24 engenhos não parece muito elevado. O preço das versões "top" com base em T- 10 já superou a fasquia de 100 milhões por uma unidade.
O fornecimento da versão simplificada, tomando em conta que a reprodução da máquina levaria 5-7 anos, poderá vir a ser uma opção razoável mas não ideal. O ideal seria a redução de fornecimentos do equipamento hi-tech militar russo àquele país. As perdas potenciais poderiam ser compensadas à custa da encomenda interna.
Disputa por cérebros
Ação Civil Pública quer limitar Boeing a contratar apenas 21 engenheiros por ano da Embraer
Empresa americana já contratou quase 100 profissionais da brasileira desde 2022
Em meio à contratação pela Boeing (BOEI34) de quase uma centena de engenheiros extremamente qualificados da Embraer (EMBR3) em São José dos Campos (SP), berço da empresa brasileira (e do setor aeroespacial e de defesa do país), uma Ação Civil Pública (ACP) tenta impor uma série de restrições à gigante americana, por ameaça à soberania nacional.
O foco das contratações tem sido por engenheiros de nível sênior, principalmente das áreas de estratégia e aviônica, de profissionais com anos de experiência e que chefiam importantes áreas de desenvolvimento de aeronaves, com informações privilegiadas de projetos com segredos industriais, como os caças Gripen.
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Das mais de 200 contratações feitas pela Boeing nos últimos meses, mais de 90 foram de profissionais da Embraer (veja mais abaixo). E, com o avanço das contratações, a Boeing tem buscado até engenheiros em meio de carreira.
A ação judicial movida pela Abimde e pela AIAB (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil), quer impedir a Boeing de contratar mais do que 0,6% do quadro de engenheiros por ano de cada uma das Empresas Estratégicas de Defesa (EED) e das Empresas de Defesa (ED), que atuam no desenvolvimento de Produtos Estratégicos de Defesa (PED). A Embraer é associada tanto à Abimde quanto à AIAB.
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Caso o pedido seja atendido, a Boeing seria limitada a contratar apenas 21 engenheiros da Embraer por ano no Brasil, pois a multinacional brasileira tem cerca de 18 mil funcionários atualmente, dos quais 3,5 mil são engenheiros, e praticamente nenhum profissional das empresas menores do polo aeroespacial de São José dos Campos. Ainda não há uma decisão sobre o mérito do processo, que foi movido em novembro pelas associações e pelo escritório Tojal Renault Advogados.
“Eles não cessaram as contratações. Sabemos que, quanto mais o tempo passa, mais a situação se agrava”, afirma Julio Shidara, presidente da AIAB. Gallo, da Abimde, diz que “o volume [de contratações] não é a parte mais importante. Não é só um número alto, é fundamentalmente uma questão do ponto de vista quantitativo. Se tira uma pessoa que tem o conhecimento de todo um ciclo do produto e leva para uma única empresa, qual é a chance de a propriedade intelectual ir parar na mão de uma concorrente? É uma pergunta retórica”.
Enquanto a primeira reportagem mostrou a “disputa por cérebros” entre a Boeing e a Embraer, a desta quarta-feira (22) destaca as acusações da Ação Civil Pública contra a Boeing — e a defesa da gigante americana no processo.
A ACP também pede que a gigante americana seja multada em R$ 5 milhões por profissional de engenharia contratado acima do limite (e que o valor seja revertido à empresa afetada), além de obrigá-la a pagar à Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais (Funcate) o mesmo valor que a Embraer e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) já gastaram nos 21 anos do Programa de Especialização em Engenharia (PEE).
O PEE oferece um curso de mestrado profissional – a principal porta de entrada para engenheiros recém-formados na Embraer –, e a empresa brasileira investe cerca de R$ 5 milhões por ano no programa, que em 21 anos de existência já formou 1,6 mil engenheiros (uma média de 76 profissionais por ano). As associações querem que a verba destinada à Funcate seja aplicada em projetos para formar profissionais de engenharia aeronáutica no país, devido à escassez de mão de obra do setor.
“A presença maciça da Boeing atua como um fator de desequilíbrio entre oferta e demanda dos profissionais. Se a Boeing viesse com 10 bilhões pra formar profissionais, não haveria problema”, afirma Leonardo Bissoli, um dos advogados que assinam a ação. “Ninguém quer impedir a Boeing de atuar aqui no Brasil. Quer que haja um equilíbrio para todos os ‘players’ do setor de defesa. É isso o que a ação busca”.
Na ação, a Abimde e a AIAB afirmam ainda que as contratações da Boeing são “inconstitucionais e ilegais”, “porque impõem um processo degenerativo à Base Industrial de Defesa (BID) nacional, possibilitam a transferência de tecnologias militares nacionais e segredos do Estado brasileiro a controle estrangeiro e, consequentemente, colocam em xeque a autonomia tecnológica de defesa, indispensável à garantia da soberania nacional” (veja mais abaixo).
O que diz a Boeing
Antes mesmo de ser intimida a se defender no processo, a Boeing já se manifestou duas vezes. A gigante americana diz que a Abimde e a AIAB “não possuem legitimidade ativa para propor uma Ação Civil Pública” e querem impedir a empresa de “exercer seu direito constitucional de livre contratação de funcionários”. Diz também que “as associações não fornecem qualquer base legal para as medidas extremas pleiteadas” e pede a extinção do processo.
A empresa afirma ainda que a ação, “travestida de uma defesa da soberania nacional”, terá como consequência “arrefecer a concorrência por empregados no Brasil, em um enorme prejuízo à mão de obra brasileira”. “As autoras estão essencialmente sugerindo que não deveria ser permitido que engenheiros brasileiros apliquem para vagas de trabalho da Boeing Brasil, mesmo que a oportunidade aprimore sua carreira, resulte em desenvolvimento profissional ou ofereça maior salário”.
A Boeing chama o limite de 0,6% de contratação, que a Ação Civil Pública tenta impor, de “número irrisório e arbitrário” e diz que “não pode ser impedida de oferecer bons salários e boas posições aos trabalhadores no Brasil”. “As autoras utilizam esta ação para estabelecer cláusulas de não-concorrência com todos os seus antigos empregados sem qualquer custo ou justificativa”, afirma a empresa. “Uma cláusula de não-concorrência geralmente requer uma fundamentação razoável e uma compensação paga, uma vez que limitará o direito do empregado de trabalhar por um período de tempo específico. Entretanto, as autoras querem obter um cheque em branco do Judiciário”.
“Os pedidos formulados pelas autoras não apenas são abusivos, incertos e indeterminados, mas também carecem de qualquer correlação lógica com a prática que as autoras atribuem à Boeing Brasil. As autoras requerem a limitação de contratação em um percentual arbitrário de 0,6%, com base em um cálculo em nota de rodapé da petição inicial, e obrigação pecuniária a ser destinada a uma fundação, sem nexo causal com a suposta prática da Boeing Brasil de contratação de engenheiros e sem revelar qual o real valor requerido que deve ser transferido”, afirma.
A Boeing diz ainda que as associações “não demonstraram indícios mínimos de apropriação de segredos industriais que teriam sido indevidamente obtidos” e pede que a ACP seja rejeitada, “uma vez que o seu pedido é danoso à ordem econômica nacional, à livre iniciativa e à livre concorrência”. Diz também que muitas das associadas à Abimde e à AIAB são empresas estrangeiras com filiais no Brasil, assim como a Boeing (entre as quais estão Airbus, BAE Systems, Collins Aerospace, Pratt & Witney e Saab).
“A hipocrisia da demanda das autoras é clara ao se considerar a tutela de urgência que estão requerendo: que a Boeing Brasil fique proibida de contratar funcionários brasileiros, enquanto as associadas das autoras com acionistas que tenham sede estrangeira […] continuariam livres para contratar profissionais brasileiros. Ao invés de uma Ação Civil Pública apropriada, destinada a salvaguardar a defesa nacional e a soberania, a petição inicial nada mais é do que queixas individuais e heterogêneas de natureza comercial”, afirma a Boeing.
Segundo a empresa americana, que é representada no processo pelo escritório Pinheiro Neto Advogados, as associações “buscaram retratar o que claramente são reclamações comerciais individuais como danos coletivos à defesa e segurança”, mas o propósito da ação é “mascarar uma disputa privada (que possui diferentes leis, jurisdição, requisitos, custos, etc.) como uma ação coletiva”. “Se trata de participantes da indústria competindo por talentos”.
Na sua segunda manifestação no processo, a empresa afirma ser “preocupante que outras empresas da indústria tenham se unido para propor uma ação judicial com o expresso objetivo de limitar as ações da Boeing Brasil para concorrer pelo mercado de trabalho, criando dificuldades para o livre exercício profissional e a livre iniciativa”, e pede que as associações que ingressaram com a ACP “sejam condenadas ao ressarcimento das despesas processuais despendidas pela ré e ao pagamento de honorários advocatícios”.
A empresa americana afirma também que a Abimde e a AIAB “falharam em explicar e demonstrar quais direitos de propriedade intelectual específicos foram violados e qual foi o dano causado”, pois “o segredo industrial é, essencialmente, um direito de propriedade individual”. Diz ainda que “qualquer suposto prejuízo às autoras foi decorrente do próprio livre arbítrio de seus funcionários, que decidiram buscar melhores oportunidades de emprego”.
“Engenheiros brasileiros são livres para trabalhar na empresa que ofertar melhores condições de trabalho, especialmente em um mercado altamente especializado”, afirma a Boeing em sua petição. “A proibição da contratação desses engenheiros por Boeing Brasil, em vista do risco potencial de desvio informacional, sem qualquer mínima evidência da existência de que tal desvio tenha ocorrido, seria abusiva e desproporcional”.
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“Não há nos autos qualquer elemento de prova e sequer se esforçam as autoras a indicarem quais segredos industriais da Embraer teriam sido indevidamente apropriados”, completa a Boeing. “Além de saltar aos olhos o uso de uma Ação Civil Pública para defesa de interesses individuais da Embraer, a ausência de informações mínimas sobre quais seriam as supostas informações confidenciais estratégicas evidencia não haver qualquer probabilidade de violação do pretenso direito”.
Acordo frustrado, disputa bilionária
A “disputa por cérebros” entre a Boeing e a Embraer no interior de São Paulo ocorre anos após a gigante americana desistir de comprar a divisão comercial da brasileira, em um negócio de US$ 5,2 bilhões. As duas empresas formariam uma joint venture, e a Boeing pagaria US$ 4,2 bilhões à Embraer por 80% da nova empresa (os outros 20% continuariam com a multinacional brasileira).
O negócio foi divulgado pela primeira vez no fim de 2017 e evoluiu para um acordo, mas em abril de 2020, depois de mais de dois anos de negociação e adaptações (a Embraer chegou a segregar toda a sua divisão comercial, para concluir o acordo), a Boeing anunciou a desistência do acordo.
Na ocasião, o mundo vivia a incerteza do início da pandemia de Covid-19 e a Boeing enfrentava uma série de graves problemas com o 737-Max. Dois aviões do modelo caíram em um intervalo de cinco meses, matando 346 pessoas, o que fez com que governos proibissem o 737-Max de voar e companhias aéreas de todo mundo fossem obrigadas a permanecer com suas aeronaves em solo.
Ao anunciar a desistência, a Boeing afirmou que a Embraer não tinha “atendido às condições necessárias” nem cumprido o contrato. A empresa brasileira negou e disse que a Boeing rescindiu “indevidamente” o acordo, “fabricando falsas alegações”. Disse ainda que a americana vinha adotando “um padrão sistemático de atraso e violações repetidas ao MTA (acordo), pela falta de vontade em concluir a transação, pela sua condição financeira, por conta dos problemas com o 737-Max e por outros problemas comerciais e de reputação”.
As duas empresas estão em um processo de arbitragem, que já se arrasta por quase três anos, para definir quem está com a razão (e se uma companhia deve indenizar a outra pelo fim do acordo).
Em seus balanços financeiros, a Embraer diz que “não há garantias com relação ao tempo ou resultado dos procedimentos arbitrais ou qualquer reparação que a Embraer possa receber ou perda que a Embraer possa sofrer como resultado ou com relação a tais procedimentos arbitrais”; já a Boeing afirma que “a disputa está atualmente em arbitragem”, que não pode “estimar razoavelmente uma faixa de perda, se houver”, e que espera que o processo seja concluído “no final de 2023 ou início de 2024”.
Ameaça à soberania nacional
Na Ação Civil Pública, a Abimde e a AIAB afirmam que as contratações da Boeing são “inconstitucionais e ilegais” e “possibilitam a transferência de tecnologias militares nacionais e segredos do Estado brasileiro a controle estrangeiro”. “Consequentemente, colocam em xeque a autonomia tecnológica de defesa, indispensável à garantia da soberania nacional”.
Assinada pelo escritório Tojal Renault Advogados, a petição inicial diz que, no negócio frustrado entre a Boeing e a Embraer, a empresa americana “obteve uma série de informações sigilosas e estratégicas da Embraer – e, consequentemente, de todas as Empresas Estratégicas de Defesa (EED) e Empresas de Defesa (ED) do setor aeroespacial, já que praticamente todas são prestadoras de serviços e/ou fornecedoras da própria Embraer, a maior empresa de defesa da América Latina”.
As associações dizem que a Boeing “tinha o interesse não apenas em adquirir parcela da aviação comercial da Embraer, mas sim o de obter toda a estrutura de engenharia e desenvolvimento integrado do produto, que tornaram a companhia brasileira ponto de referência mundial na produção de aeronaves”. Dizem ainda que a engenharia aeroespacial brasileira é capitaneada pela Embraer e, em volta dela, “orbitam diversas empresas de excelência e estratégicas à defesa da soberania nacional”.
A ação acusa a Boeing de “se valer das informações estratégicas […] que obteve nessas tratativas para tomar à força a capacidade humana produtiva da área de engenharia aeroespacial nacional”. “Isso em vez de efetivar a parceria, pagar os valores dela decorrentes e obter todas as aprovações regulatórias cabíveis, em um processo que certamente evitaria a desestruturação da indústria de defesa nacional e a eventual divulgação de segredos de estado a estrangeiros”.
Segundo a Abimde e a AIAB, as empresas perderam para a Boeing até 10% dos seus engenheiros e até 70% dos profissionais de áreas específicas e essenciais às suas atividades. “Todas as empresas mais relevantes do setor de defesa aeroespacial já perderam e vêm perdendo engenheiros [para a Boeing]”, afirmam as associações.
Elas citam como exemplos Akaer, Avibrás, AEL Sistemas, Safran e Mac Jee, além de empresas de “pequeno porte” (menos de 50 funcionários), como a Orbital Engenharia, “que é protagonista de importantes projetos de defesa nacional, tais como o Projeto PSM (Plataforma Suborbital de Microgravidade), Projeto 14x (propulsão hipersônica) e o Projeto do Satélite Amazônia 1 (satélite ótico de observação da terra)”.
O processo diz que, mesmo a Embraer, “que é a principal empresa do setor de defesa aeroespacial brasileiro e que tem melhores condições operacionais e econômicas de resistir e enfrentar os atos de aliciamento que estão sendo sistematicamente praticados”, perdeu até novembro “65 profissionais de engenharia altamente especializados, que exerciam, em sua maioria, posições de liderança, e tinham, em média, mais de 13 anos de trabalho na companhia” (esse número já subiu para mais de 90 neste ano).
A ação afirma ainda que a Boeing tem tido uma “preferência pela área de aviônica”. “Não por acaso, é a área de maior escassez de profissionais especializados no âmbito da engenharia aeronáutica, uma vez que são esses profissionais os responsáveis pelo desenvolvimento dos sistemas de integração homem-máquina, ou seja, que desenvolvem os sistemas de navegação, comandos, comunicação, controles de voo e piloto automático”.
Escassez de profissionais
O documento aponta também uma escassez de engenheiros espaciais no mercado, apesar de a Embraer ser líder mundial na aviação comercial de aviões para até 150 passageiros e São José dos Campos ser “um dos principais polos de formação de engenharia aeronáutica no mundo”, que foi “construído ao longo de mais de 70 anos de investimentos do Estado brasileiro em pesquisa, tecnologia e educação, com o objetivo de garantir a autonomia tecnológica necessária à defesa da soberania nacional”.
Segundo a ação, diante da “escassez crônica de engenheiros altamente qualificados” e devido à grande dificuldade de formação desses profissionais, a Boeing está “operando uma sistemática captura profissional de empregados estratégicos”, adotando “estratégias agressivas”. “As proporções do assédio assumem contornos econômicos desastrosos” por causa do seu “notório poderio econômico-financeiro”.
Para tentar “estancar a sangria” e reter seus talentos, o InfoMoney mostrou que a Embraer tem dado aumentos de salários e pagado benefícios aos funcionários, como cursos de formação e qualificação (que profissionais pagavam do próprio bolso). Há relatos de reajustes inclusive para engenheiros que não receberam propostas da Boeing, mas trabalham em áreas estratégicas da empresa.
Mas a multinacional brasileira tem cerca de 18 mil funcionários em todo mundo, dos quais 3,5 mil são engenheiros. Para efeito de comparação, a Boeing tem mais de 150 mil empregados e pretende contratar mais 10 mil em 2023, após já ter contratado 23 mil pessoas em 2022 (mais do que todo o quadro de funcionários da Embraer), segundo a Dow Jones Newswires.
As associações incluíram no processo um parecer técnico de Armando Castelar Pinheiro, economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Formado em engenharia eletrônica pelo ITA, mestre em matemática pela Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e doutor em economia pela University of California, Castelar afirma que “esse tipo de cooptação é uma forma conhecida de absorver a propriedade intelectual desenvolvida pela empresa de que saem os trabalhadores”.
“[O trabalhador] leva esse conhecimento consigo e, quando o recrutamento é feito de forma sistemática, cobrindo as diferentes áreas de operação da empresa de que saem os funcionários, tem-se um conjunto coordenado de informações”, afirma o especialista. “É certamente plausível que, ao contratar um conjunto selecionado de engenheiros até então, ou até pouco antes, empregados nas empresas dos setores aeroespacial e/ou de defesa, uma empresa traga junto o conhecimento que eles detêm sobre os produtos, as tecnologias e os processos desenvolvidos e utilizados por essas empresas. Uma forma, portanto, de adquirir esse conhecimento sem pagar por ele”.
Segundo Castelar, “o Brasil corre um sério risco de retrocesso e desestruturação de seu setor aeroespacial e de defesa, ameaçando não só a sobrevivência das empresas do setor, mas também colocando em risco todo o investimento que o país fez no seu desenvolvimento ao longo de décadas”. “Esse movimento vai de encontro ao interesse coletivo e deveria ser fonte de preocupação para o Estado brasileiro e a sociedade em geral, pelas sérias repercussões que poderia ter para o país”.
“É certo que esse processo agressivo de contratações, promovido em um curto período, em um setor da economia essencial à soberania nacional, precisa sofrer limitações pelo Poder Judiciário, de forma a evitar a captura de segredos de Estado pela Boeing, bem como para evitar a obliteração de toda a base industrial que garante a autonomia tecnológica de defesa, afetando, consequentemente, a soberania nacional”, afirmam as associações na ACP.
“O cenário que se coloca é o de um grupo estrangeiro, com enorme capacidade econômica, tomando à força a capacidade produtiva das empresas que conformam a Base Industrial de Defesa (BID) nacional para a instalação de um escritório de projetos de engenharia, o qual terá por finalidade única constituir propriedades intelectuais que serão remetidas aos EUA, onde serão usufruídos os seus frutos”, diz a ação. ”O Poder Judiciário não pode permitir que o Estado brasileiro se ajoelhe perante outra nação sem a imposição de restrições”.
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