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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

É a ética, estúpido!

disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político É a ética, estúpido! O fundamento da sociedade é a Ética. Todas as relações sociais estão estabelecidas pela ética, foi assim que a sociedade teve o seu primeiro estatuto, não escrito, baseado nos costumes sociais, que foi o primeiro contrato social que fundou a sociedade familiar e clânica. São encontradas estas normas éticas em quaisquer grupos sociais primitivos como as tribos, as castas sociais e entre os mais antigos grupamentos humanos. A ética é diretamente reconhecida e aplicada dos costumes que surgiram em momentos e lugares desconhecidos e incrustadas nas regras que determinam, por exemplo, o lugar para se assentar com os filhos na roda do encontro familiar, o respeito aos mais velhos, as regras para as relações sexuais, a divisão das tarefas por idade, sexo e função, o reconhecimento e o respeito pelos guias curandeiros, pelos guias religiosos, pelos chefes guerreiros, pelos caçadores, pelos provedores enfim por todas as funcionalidades sociais decorrentes da divisão do trabalho social. Esta estrutura social foi passando de uma geração para a geração seguinte pela força da tradição que foi por meio deste processo cultural ir-se aperfeiçoando a instituição social que permitiu a sobrevivência e garantiu a perpetuação da espécie inteligente dos sapiens na Terra. A partir do estatuto social consuetudinário pioneiro firmamos o segundo contrato que foi o contrato jurídico escrito que fundou a nação e as normas orgânicas que fundaram o Estado civil, também chamado Estado de Direito. Sendo o final do processo da fundação da sociedade concluído pela fundação do Estado de Direito representado pela lei maior, a sua constituição, todo o resto depende do primeiro passo fundamental, que o antecedeu das leis constitucionais, que são os fundamentos éticos. Todas as constituições são fundamentadas diretamente e indiretamente na ética e é o que devemos demonstrar. A Ética não é apenas um eixo principiológico religioso ou filosófico, é a razão de ser da possibilidade da vida social em sua plenitude. A vida poderia existir sem a ética, mas, a sociedade nunca. Sem a ética não existiria a vida social, ela ficaria inviável sem os princípios fundamentais da convivência humana que são: garantias recíprocas do direito à vida, direito à liberdade, direito à propriedade, o direito à privacidade e o respeito ao próximo. Estes direitos são inalienáveis, são também direitos insubstituíveis e inegociáveis, não podem ser compensados, não podem ser limitados e não podem ser suprimidos. Não existe punição suficiente para coibir a violação de quaisquer deles, ou compensá-los. Portanto, a perda de cada um deles importa em um dano irreparável, nenhuma sansão poderá restituir a perda ou a restrição de quaisquer deles, portanto as leis seriam insuficientes para punir e reparar quaisquer danos ou lesões destes direitos quais sejam: a perda da vida, perda da liberdade, perda da propriedade e a perda da privacidade. Como se pode reparar a perda de uma vida? Como se pode compensar a perda de liberdade? Como se podem compensar a perda da propriedade e a perda da privacidade depois de se produzirem os seus danosos efeitos no tempo, alterando a vida das pessoas, se o tempo que passou não pode ser restituído no usufruto da propriedade e da privacidade conspurcadas, que são direitos justamente caracterizados pela oportunidade de fruição no tempo e no espaço; sabemos do tempo da sua irreversibilidade e das oportunidades serem aleatórias ou ocasionais? A única maneira de se coibir estes crimes irreparáveis é impedir que eles ocorressem, e não puni-los através da lei. Evita-se o cometimento de delitos pela contenção individual, pelo convencimento e pelo condicionamento comportamental. Conhece-se o mecanismo próprio extralegal para condicionar o comportamento social e este mecanismo sempre existiu acima e fora das leis, na verdade este princípio foi o preceito que fundou as primeiras leis que constituíram os direitos fundamentais do ser humano. Este princípio que nasceu antes das leis fez parte do acervo cultural das tribos, clãs e dos grupamentos comunitários mais primitivos baseados nos princípios da solidariedade, na confiança e da reciprocidade: chama-se a ética. Este princípio primitivo fundou a tradição e as religiões. Então fomos buscar nas tradições e nas religiões os fundamentos para constituirmos as primeiras leis costumeiras não escritas para que o passo seguinte no estado de direito o formalizar-se da constituição, criando o contrato social fundador da nação e do estado civil. Os princípios primitivos do convívio social eram fundamentados na ética. Os primeiros princípios primitivos visavam primeiramente a manutenção da ordem social baseada nas divisões das tarefas sociais em conformidade com os critérios de idade, do sexo, e firmado nos costumes. A sociedade moderna escrutinada pelos ensaios sociológicos de Maximiliam Carl Emil Weber acreditava na eficiência e na eficácia dos instrumentos burocráticos normativos, que incluem todos os procedimentos normativos, leis e regras, no princípio da autoridade legalmente constituída e no cumprimento de todas as normas. Não é suficiente para manter a ordem social. A saída de Max Weber foi editar o princípio da dominação legal racional burocrática, ou seja, todos se submetem às regras inclusive quem aplica as regras. É um princípio formal, de impossível efetivação sem a cooperação da sociedade. Este princípio foi intuído do confucionismo chinês baseado ali naquela religião e cultura cinco vezes milenar; Max Weber acreditava poder transplantar para o Ocidente europeu um comportamento social extraído de outra cultura alienígena oriental chinesa sem as devidas vênias desprezando o fator mais importante que é a religião confucionista. Não foi uma transposição adequada. Não se pode copiar uma cultura. Ela sempre será adaptada a despeito de qualquer cuidado que se coloque. Este é um destes casos. A população chinesa estava devidamente adaptada dentro dos princípios milenares da disciplina confucionista para adequar-se àquelas regras rígidas cujo comportamento faz parte da ética e cultura confucionista. A nossa confiança no sistema burocrático normativo por excelência a democracia liberal ocidental despreza o fator essencial sobre a qual se baseia implicitamente: ignora formalmente a questão fundamental da ética, mas não prescinde da ética no cumprimento e na formalização das normas e no comportamento social em que estão alicerçadas as suas instituições, indiretamente, então voltamos à questão da ética. Então em seu outro livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo” Max Weber retoma o caminho da primazia da ética sobre a primazia das normas burocráticas abandonado na obra referida anteriormente chamada a Estado e Sociedade onde aborda a Teoria da Burocracia. Em sociologia das organizações, burocracia é uma organização ou estrutura organizativa caracterizada por regras e procedimentos explícitos e regularizados, divisão de responsabilidades e especialização do trabalho, hierarquia e relações impessoais.1 Em princípio, o termo pode referir-se a qualquer tipo de organização - empresas privadas, públicas, sociais, com ou sem fins lucrativos. O modelo weberiano De acordo com Max Weber, os atributos da burocracia moderna incluem a impessoalidade, a concentração dos meios da administração, um efeito de nivelamento entre as diferenças sociais e econômicas e a execução de um sistema da autoridade que é praticamente indestrutível.1 A análise weberiana da burocracia relaciona-se a:1 • As razões históricas e administrativas para o processo da burocratização (especialmente na civilização ocidental). • O impacto do domínio da lei no funcionamento de organizações burocráticas. • A orientação pessoal típica e a posição ocupacional dos oficiais burocráticos como um grupo de status. • Os atributos e as consequências mais importantes da burocracia na organização burocrática no mundo moderno Princípios da burocracia Uma organização burocrática é governada por sete princípios: 1. O negócio oficial é conduzido em uma base contínua de conhecimento empírico 2. O negócio oficial é conduzido estritamente de acordo com as seguintes regras: 1. O dever de cada funcionário ao fazer certo tipo de trabalho é delimitado em termos de critérios impessoais 2. O funcionário tem a autoridade necessária para realizar suas funções tal como definidas 3. Os meios de coerção à sua disposição são estritamente limitados e seu uso é estritamente definido 3. A responsabilidade e autoridade de cada funcionário são partes de uma hierarquia de autoridade vertical, com respectivos direitos de supervisão e apelação. 4. Os funcionários não são proprietários dos recursos necessários para desempenho das funções a eles atribuídas mas são responsáveis pelo uso desses recursos 5. A renda e os negócios privados são rigorosamente separados da renda e negócios oficiais; 6. O escritório não pode ser apropriado pelo seu encarregado (herdado, vendido, etc.). 7. O negócio oficial é conduzido na base de documentos escritos. Um funcionário burocrático: • é pessoalmente livre e nomeado para sua posição com base na sua habilitação para o cargo; • exercita a autoridade delegada a ele de acordo com regras impessoais, e sua lealdade é relacionada à execução fiel de seus deveres oficiais; • sua nomeação e a designação de seu local de trabalho dependem de suas qualificações técnicas; • seu trabalho administrativo é uma ocupação de tempo integral; • seu trabalho é recompensada por um salário regular e a perspectiva de avanço em uma carreira por toda a vida. Um funcionário deve exercitar seu julgamento e suas habilidades, colocando-os, porém, a serviço de uma autoridade mais elevada. Em última instância, é responsável somente pela execução imparcial de tarefas atribuídas e deve sacrificar seu julgamento, caso esteja em conflito com seus deveres oficiais. A ética protestante no capitalismo segundo Weber Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’, Weber discorre sobre a relevância da reforma protestante para a formação do capitalismo moderno, de modo que relaciona as doutrinas religiosas de crença protestante, para demonstrar o surgimento de um modus operandi de relações sociais, que favorece e caracteriza a produção de excedentes, gerando o acúmulo de capital. Há de se dizer, então, que o mundo outrora dominado pela religião católica, era também concebido a partir da cultura por ela promulgada. Isso quer dizer que o modo de vida pregado no catolicismo, era propagado para além dos limites da Igreja, perpassando a vida dos sujeitos. Entretanto, o catolicismo condenava a usura, e pregava a salvação das almas através da confissão, das indulgências e da presença aos cultos. Desta forma, o católico enxergava o trabalho como modo de sustentar-se, mas não via prescrição em também divertir-se, buscando modos de lazer nos quais empenhava seu dinheiro, e produzindo apenas para seu usufruto. Menos temerário ao pecado que o protestante, e impregnado pela proibição da usura, o católico pensava que pedir perdão a seu Deus seria suficiente para elevar-se ao “reino dos céus”. Assim, seguindo esta cultura religiosa, a acumulação de bens não encontrou caminhos amplos, e permaneceu adormecida. Contudo, com o advento do protestantismo, a doutrina – e portanto, a cultura – católica modificou-se, e a salvação passou a ser para alguns, não mais passível de ser conquistada, mas sim uma providência divina, onde o trabalho era meio crucial para glorificar-se. Para o protestante, o trabalho enobrece o homem, o dignifica diante de Deus, pois é parte de uma rotina que dá às costas ao pecado. Durante o período em que trabalha, o indivíduo não encontra tempo de contrariar as regras divinas: não pratica excessos, não cede à luxúria, não se dá a preguiça: não há como fugir das finalidades celestiais. E, complementando toda a doutrina protestante, ainda é crucial pontuar que nesta religião não há espaço para sociabilidade mundana, pois todo o prazer que se põe a parte da subserviência a Deus, fora considerado errado e abominável. Assim, restava a quem acreditava nestas premissas, o trabalho e a acumulação, já que as horas estendidas na produção excediam as necessidades destes religiosos, gerando o lucro. Portanto, quando se fala em uma concepção tradicional de trabalho, trata-se da concepção católica, que não acumulava e pensava o trabalho como meio de garantir subsistência. Já a concepção que vê o trabalho como fim absoluto, é a protestante, que enxerga no emprego de esforços produtivos a finalidade da própria existência humana, interligada com os propósitos providenciais de Deus. Esta mudança no comportamento social, além do choque de culturas exposto nos parágrafos acima, suscita uma abrupta mudança no cenário econômico. Isso decorre do seguinte ciclo: O católico trabalha para viver, o protestante vive para trabalhar. O protestante gera excedente, e o acumula, investindo-o em cadernetas de poupança, gerando lucro. A finalidade protestante é salvar-se, e se o trabalho é salvador, empregar outros auxilia na salvação alheia. Logo, o protestante é dono dos meios de produção, detém os funcionários e acumula cada dia mais excedentes, gerando mais capital. E assim, a gênese do capitalismo moderno é concebida. Conclui-se, portanto, que a cultura – segundo Weber um modo de ser que detém as práticas - ao ser modificada, gera novos costumes, um comportamento inusitado, que embora não tivesse como objetivo estabelecer uma nova ordem econômica, e sim moral, passa a sustentar a essência do sistema. A ética protestante e o "espírito" do capitalismo (no original em alemão Die protestantische Ethik und der 'Geist' des Kapitalismus) é um livro escrito por Max Weber, um economista e sociólogo alemão. Escrito entre 1904 e 1905 com uma série de ensaios que foram, mais tarde, em 1920 - ano de sua morte - complementados pelo autor e publicados em um livro, no qual ele investiga as razões do capitalismo ter sido desenvolvido inicialmente em países como a Inglaterra e a Alemanha, concluindo que isso se deve à mundividência e hábitos de vida instigados ali pelo protestantismo na época. O livro foi traduzido pela primeira vez para o ingles por Talcott Parsons em 1930.1 É argumentado frequentemente que esta obra não deverá ser vista como um estudo detalhado do protestantismo, mas antes como uma introdução às suas obras posteriores, especialmente no que respeita aos seus estudos da interação de ideias religiosas com comportamento econômico. Neste livro, Weber avança a tese de que a ética e as ideias puritanas influenciaram o desenvolvimento do capitalismo. Tradicionalmente, na Igreja Católica Romana, a devoção religiosa estava normalmente acompanhada da rejeição dos assuntos mundanos, incluindo a ocupação econômica. Tais conflitos eram baseados na luta ascética - não valorização do corpo e desprendimento material. Por que não foi o caso com o Protestantismo? Weber aborda este paradoxo nesta obra. Ele define o espírito do capitalismo como as ideias e hábitos que favorecem, de forma ética, a procura racional de ganho econômico. Weber afirma que tal espírito não é limitado à cultura ocidental mas que indivíduos noutras culturas não tinham podido por si só estabelecer a nova ordem econômica do capitalismo. Como ele escreve no seu ensaio: "Por forma a que uma forma de vida bem adaptada às peculiaridades do capitalismo possa predominar sobre outras (formas de organização), ela tinha de ter origem algures, e não pela acção de indivíduos isolados mas como uma forma de vida comum aos grupos de homens". Após definir o espírito do capitalismo, Weber argumenta que há vários motivos para procurar as suas origens nas ideias religiosas da Reforma Protestante. Muitos observadores como William Petty, Montesquieu, Henry Thomas Buckle, John Keats e outros tinham já comentado a afinidade entre o protestantismo e o desenvolvimento do espírito comercial. Weber mostrou que certos tipos de Protestantismo (em especial o Calvinismo) favoreciam o comportamento econômico racional2 e que a vida terrena (em contraste com a vida "eterna") recebeu um significado espiritual e moral positivo. O Calvinismo trouxe a ideia de que as habilidades humanas (música, comércio etc.) deveriam ser percebidas como dádiva divina e por isso incentivadas. Este resultado não era o fim daquelas ideias religiosas, mas antes um subproduto ("byproduct"). A lógica inerente destas novas doutrinas teológicas e as deduções que se lhe podem retirar, quer direta ou indiretamente, encorajam o planejamento e a abnegação ascética em prol do ganho econômico. Deve-se notar que Weber afirmou que apesar de as ideias religiosas puritanas terem tido um grande impacto no desenvolvimento da ordem econômica na Europa e nos Estados Unidos, eles não foram o único fator responsável pelo desenvolvimento. Outros factores, relacionados, seriam o racionalismo na ciência, a mistura da observação com a matemática, a jurisprudência, a sistematização racional da administração governativa e o empreendimento econômico. Em conclusão, o estudo da ética protestante, de acordo com Weber, explorava meramente uma fase da emancipação da magia, o desencantamento do mundo, uma característica que Weber considerava como uma peculiaridade que distingue a cultura ocidental. Weber afirmou ter deixado a pesquisa do protestantismo porque o seu colega Ernst Troeltsch, um teólogo profissional, tinha iniciado o trabalho no livro "Os ensinamentos sociais das igrejas e seitas cristãs". Outra razão para a decisão de Weber foi que este ensaio providenciava uma perspectiva para a comparação mais larga de religiões e sociedades, que ele continuou em suas obras posteriores (estudos da religião na China, Índia, Judaísmo). A obra é considerada por muitos intelectuais contemporâneos como o livro do século. Em 1998 a International Sociological Association listou esta obra como o quarto livro sobre sociologia, mais importante do século XX.3 Nesta obra seu autor, o sociólogo alemão Max Weber, versa em seu corpo sobre a cultura de frugalidade - simplicidade de costumes de vida; temperança - propagada pela ideologia da Igreja Católica da época, e que foi reproduzida no Brasil desde o descobrimento, em oposição à valorização da santificação da vida diária pregada especialmente pelos protestantes da doutrina Calvinista. Da análise de seu texto se evidencia a correlação com a temática abordada por Emile Durkheim, a temática religiosa, contudo devido a análise de suas peculiaridades, a obra de Weber se distância da obra de Durkheim, principalmente devido a realidade vivida pela sociedade alemã do século XIX e da defesa do autor sobre a importância do papel da política na vida social, sendo esta realizada através de uma burocracia eficiente e controlada pela democracia, condição que justifica a origem de um sistema legal voltado para o capitalismo. O livro "A ética protestante e o Espírito do Capitalismo", se origina da união de dois longos artigos publicados pelo autor nos anos de 1904 e 1905, sendo que no artigo intitulado "Espírito do Capitalismo", o autor retrata suas observações quanto ao fato de em sua maioria, os homens de negócio, os grandes capitalistas, os operários de alto nível e o pessoal especializado do período pertencerem a religião protestante (calvinista), e através do isolamento de suas características em comum e estabelece um "tipo ideal de conduta religiosa", que consiste na elaboração limite de algo, vazio a realidade concreta. Com a publicação da Ética Protestante, o criador da obra literária expõe suas observações visando explicar a existência de algo em quem professa o protestantismo, em particular a doutrina protestante de linha calvinista, que se distingue por santificar a vida diária em contraposição à contemplação do divino, condição que favorece o espírito capitalista moderno, notoriamente o alemão, ou seja, o autor busca idealizar, identificar, o tipo ideal de conduta religiosa, em oposição ao conceito pregado pela Igreja Católica, que na época por meio do conceito da piedade popular e da espera da recompensa na vida após a morte; e a mensagem protestante de linha luterana, que acredita que o homem já nasce predestinado a salvação, condutas que repugnavam a obtenção do lucro e que deste modo iam de encontro ao ideal burguês. Ao definir propriamente o que seria a ordem econômica capitalista Weber afirma que tal ordem "é um imenso cosmos em que o indivíduo já nasce dentro e que para ele, ao menos, enquanto indivíduo, se dá como um fato, uma crosta que ele não pode alterar e dentro da qual tem que viver. Esse cosmos impões ao indivíduo, preso nas redes do mercado, as normas de ação econômica. O fabricante que insistir em transgredir essas normas é indefectivelmente eliminado, do mesmo modo que o operário que a elas não possa ou não queira se adaptar é posto no olho da rua como desempregado." Mais adiante em seu livro, Weber cita Pieter de la Cour para exemplificar o raciocínio do povo naquela época em que vivia: " [...] o povo só trabalha porque é pobre, e enquanto for pobre." Nesta breve citação, extrai-se algo extraordinário, que é dito por Weber anteriormente. Se o indivíduo tiver que trabalhar mais para poder ganhar mais, ele prefere trabalhar o mesmo tanto para continuar ganhando aquilo que ele já ganhava. Ou seja, a pessoa vai procurar trabalhar o mínimo possível para garantir o seu bom sustento e ter como comer e dormir. A ética protestante veio mudar este raciocínio, dizendo que a salvação do indivíduo estaria relacionada com o quanto que ele ganhava, o tanto de dinheiro que possuía, instruindo assim a relação com o capitalismo. Max Weber defende o estabelecimento de um raciocínio lógico capitalista, que o mesmo denomina racionalismo; sendo esta leitura realizada através da comparação da Alemanha do período com outros países civilizados do planeta em condição de desenvolvimento semelhante, ou seja, com existência do capitalismo e de empresas capitalistas, sendo identificado na primeira uma estrutura social, política e ideológica ímpar, que pode se ditar como a condição ideal para o surgimento do capitalismo moderno, que no seu interior defende a paixão pelo lucro como demonstração de prosperidade, fé e salvação. Neste contexto o autor expõe através do emprego do método e da pesquisa científica uma das várias facetas do capitalismo, o capitalismo ocidental, apresentando em sua obra científica como as principais características do Sistema Capitalista a organização capitalista racional do trabalho livre, a separação dos negócios da moradia da família e a implementação da contabilidade racional; da qual se origina a classe burguesa ocidental ligada estreitamente à divisão do trabalho. Referências 1. The Protestant ethic and the "spirit" of capitalism and other writings. [S.l.]: Penguin, 2002. ISBN 978-0-14-043921-2 Página visitada em 21 August 2011. 2. Kim, Sung Ho (Fall 2008). Max Weber. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Metaphysics Research Lab, CSLI, Stanford University. Página visitada em 21 August 2011. 3. ISA - International Sociological Association: Books of the Century. International Sociological Association (1998). Página visitada em 25-07-2012. 4. (Disponível em Wikipédia) O confucionismo (儒學, ? Rúxué) ou confucianismo é um sistema filosófico chinês criado por Kung-Fu-Tzu (孔夫子). Entre as preocupações do confucionismo estão a moral, a política, a pedagogia e a religião. Conhecida pelos chineses com "ensinamentos dos sábios". Fundamentada nos ensinamentos de seu mestre, o confucionismo encontrou uma continuidade histórica única. Além de tradição religiosa, o confucionismo é considerado uma filosofia, ética social, ideologia política, tradição literária e um modo de vida. Confúcio, forma latina de Kung Fu Tsé, filósofo chinês do século VI a.C, compila e organiza antigas tradições da sabedoria chinesa e elabora uma doutrina assumida como oficial na China por mais de 25 séculos. Combatido como reacionário durante a Revolução Cultural chinesa (1966-1976), o confucionismo toma novo impulso após as recentes mudanças políticas no país. Atualmente, 25% da população chinesa declaram-se adeptos do confucionismo. Temas do pensamento confucionista A humanidade é o núcleo no confucionismo. Uma maneira simples de apreciar o pensamento de Confúcio é considerá-lo como sendo baseado em diferentes níveis de honestidade, e de uma forma simples de entender o pensamento de Confúcio é examinar o mundo usando a lógica da humanidade. Na prática, os elementos do confucionismo acumularam-se ao longo do tempo. Existe o clássico Wuchang (五常), constituído por cinco elementos: Ren (仁, a Humanidade), Yi (义, justiça), Li (礼, ritual), Zhi (智, conhecimento), Xin (信, integridade), e há também o Sizi clássico (四字) com quatro elementos: Zhong (忠, lealdade), Xiao (孝 , a piedade filial), Jie (节, continência), Yi (义, justiça). Há ainda muitos outros elementos, tais como o Cheng (诚, honestidade), Shu (恕, bondade e perdão), Lian (廉, honestidade e pureza), Chi (耻, vergonha, juízo e senso de certo e errado), Yong (勇, bravura), Wen (温, amável e gentil), Liang (良, bom, bom coração), Gong (恭, respeitoso, reverente), Jian (俭, frugal), Rang (让, modéstia, discrição) . Entre todos os elementos, o Ren (Humanidade) e o Yi (Justiça) são fundamentais. Às vezes, a moralidade é interpretada como o fantasma da Humanidade e da Justiça.1 Ver agir em relação aos outros, mas de uma atitude subjacente da humanidade. O conceito de Confúcio de humanidade (仁, ren) é provavelmente melhor expresso na versão confucionista de Ética da reciprocidade, ou a Regra de Ouro: "não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a ti". Confúcio nunca disse se o homem nasce bom ou mau,2 observando que "Naturalmente, os homens são semelhantes; Na prática, os homens são diferentes'3 , o que implica que seja bom ou mau, Confúcio percebeu que todos os homens nascem com semelhanças intrínsecas, mas também que o homem é condicionado e influenciado pelo estudo e prática. A opinião de Xunzi é que os homens originalmente só querem o que eles instintivamente querem, apesar dos resultados positivos ou negativos que aquilo pode trazer; por isso o desenvolvimento é necessário. Do ponto de vista de Mencius, todos os homens nascem para compartilhar a bondade, como a compaixão e o bom coração, embora possam se tornar malignos. O texto Clássico dos Três Personagens começa com "As pessoas no momento em que nascem são naturalmente boas (bondosas)", que decorre da idéia de Mencius. Todos os pontos de vista, eventualmente, levam ao reconhececimento da importância da educação humana e desenvolvimento. O Ren também tem uma dimensão política. Se o governante não tem o Ren, o confucionismo diz que será difícil, se não impossível, para os seus súditos comportarem-se humanamente. O Ren é a base da teoria política confuciana: pressupõe um governante autocrático, exortado a não agir desumanamente com seus súditos. Um governante desumano corre o risco de perder o "Mandato dos Céus", o direito de governar. Um governante sem tal mandato não precisa ser obedecido. Mas um governante que reina de forma humana e cuida do povo deve ser obedecido rigorosamente, pois a benevolência de seu governo mostra que ele foi incumbido pelo céu. O próprio Confúcio tinha pouco a dizer sobre a vontade do povo, mas seu principal seguidor, Mêncio, disse em uma ocasião que a opinião das pessoas sobre certos assuntos importantes devem ser consideradas. Ritual No Confucionismo, o termo "ritual" logo foi estendido para incluir o comportamento cerimonial secular e, eventualmente, refere-se também ao decoro ou polidez que se vê no dia a dia. Rituais foram codificados e tratados como um sistema completo de normas. O próprio Confúcio tentou reanimar a etiqueta das dinastias antigas. Após sua morte, as pessoas o viam como uma grande autoridade sobre os comportamentos dos rituais. É importante notar que o "ritual" desenvolveu um significado específico no confucionismo, ao contrário de seus significados religiosos usuais. No confucionismo, os atos da vida cotidiana são considerados rituais. Os rituais não são necessariamente regimentados ou práticas arbitrárias, mas sim as rotinas em que muitas vezes as pessoas se inserem, consciente ou inconscientemente, durante o curso normal de suas vidas. Moldar os rituais de uma forma que leve a uma sociedade saudável e satisfeita e a um povo saudável e satisfeito é um objetivo da filosofia confucionista. Lealdade A lealdade ( 忠, zhong) é equivalente à piedade filial em um plano diferente. É particularmente relevante para a classe social a que a maioria dos alunos de Confúcio pertencia, porque a única maneira de um jovem estudioso e ambicioso fazer o seu caminho no mundo confuciano chinês era entrar em um serviço civil no governo. Como a piedade filial, no entanto, a lealdade era frequentemente subvertida pelos regimes autocráticos da China. Confúcio defendia uma sensibilidade à realpolitik das relações de classe na sua época. Ele não propôs que "o poder dá a razão", mas que um ser superior que recebeu o "mandato do céu" (天命) deveria ser obedecido devido a sua retidão moral. Anos mais tarde, no entanto, a ênfase foi colocada mais sobre as obrigações dos governados para o governante, e menos nas obrigações do governante para os governados. A lealdade era também uma extensão dos deveres do indivíduo com os amigos, cônjuge e familiares. A lealdade para com a família vinha primeiro, em seguida para o cônjuge, depois para o governante, e por último aos amigos. A lealdade era considerada uma das grandes virtudes humanas. Confúcio também percebeu que a lealdade e a piedade filial podem entrar em conflito. História Dos seguidores de Confúcio, o século I A.C. encontrou em Meng Zi (孟子)(Mêncio, e Xun Zi (荀子) um grande desenvolvimento e expansão na sociedade. Esses dois autores buscaram compreender o confucionismo dentro de um pensamento natural, recorrente nas forças que atuavam na sociedade em seus períodos de vida. Mêncio Mêncio acreditava na importância da educação para retificar a boa natureza humana, que teria sido depravada em função dos conflitos e das necessidades impostas pela vida. O ser humano possuiria a capacidade de desenvolver um espírito de ajuda mútua de modo a evitar os conflitos interpessoais inerentes à existência humana. Xun Zi Já Xun Zi recorreu ao verso da moeda para compreender o papel de Confúcio. Ele acreditava numa natureza perversa do homem, derivado dos mesmos instintos de preservação dos animais. Talvez pensando nos rituais propostos para a sociedade, e pela necessidade de ordenação, tal como no maior fundamento das lendas de fundação chinesas e na influência jurista, Xun Zi via no interior do homem uma inteligência capaz de articular meios pelo qual poderia evitar sua condição natural de forma arbitrária, mas que para isso haveria de ter criado uma escala de valores delimitantes da ação humana. Mêncio conseguiu uma boa repercussão popular por sua abordagem otimista da vida, mas as classes altas da sociedade viram em Xun Zi uma explicação razoável para suas dúvidas. Assim ao menos deixam transparecer algumas biografias de Sima Qian (II a. C.). Império chinês O Confucionismo se tornaria a doutrina oficial do império chinês durante a dinastia Han ( séculos III a. C. - III d. C.), encontrando continuadores ao longo deste período que se destacaram em vários campos diferentes. Donz Zhong shu, por exemplo, buscou revigorar e re-interpretar o confucionismo através das teorias cosmológicas dos [cinco elementos] (Terra, Madeira, Fogo, Metal e Água); Wang Chong utilizou-se de um ceticismo lógico para criticar as crenças infundadas e os mitos religiosos. Embora tivesse perdido um certo vigor após a dinastia Han, o confucionismo seria novamente desenvolvido no movimento conhecido como neoconfucionismo, datado do século X d.C., através da figura de personagens como os irmãos Cheng e Zhuxi, o grande comentador confucionista. Antiguidade De qualquer modo, já na antiguidade o confucionismo atingiu um pleno sucesso, tornando-se uma filosofia moral de profundo impacto na estrutura social e cotidiana da sociedade. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem, à consciência política e ao trabalho são lemas que o confucionismo introjetou de maneira definitiva na vida da civilização chinesa da antiguidade aos dias de hoje. Note-se que, ao contrário do que muitos afirmam, o confucionismo não se trata de uma religião. Não possui um credo estabelecido, mas apenas determinações rituais de caráter social, que permitem a um adepto do confucionismo a liberdade de crença em qualquer tipo de sistema metafísico ou religioso que não vá contra as regras de respeito mútuo e etiqueta pessoal. Dias de hoje O confucionismo é ainda praticado em vários países. Apesar da sua origem asiática, diversos países incorporam alguns conceitos do sistema em suas práticas notadamente urbanas. No Brasil, o confucionismo não é visto em nenhum segmento da sociedade. Ditos do Confucionismo Mesmo nas situações mais pobres uma pessoa que vive corretamente será feliz.Coisas mal adquiridas sempre trarão tristeza. Ética Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Ética é a parte da filosofia dedicada aos estudos dos valores morais e princípios ideais do comportamento humano perante a sociedade.1 A palavra "ética" é derivada do grego ἠθικός (ethos), e significa aquilo que pertence ao ἦθος2 , que significava "bom costume", "costume superior", ou "portador de carácter"3 . Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão.4 5 Na filosofia clássica, a ética não se resumia à moral (entendida como "costume", ou "hábito", do latim mos, mores), mas buscava a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver e conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, tanto na vida privada quanto em público. A ética incluia a maioria dos campos de conhecimento que não eram abrangidos na física, metafísica, estética, na lógica, na dialética e nem na retórica. Assim, a ética abrangia os campos que atualmente são denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, às vezes política, e até mesmo educação física e dietética, em suma, campos direta ou indiretamente ligados ao que influi na maneira de viver ou estilo de vida. Um exemplo desta visão clássica da ética pode ser encontrado na obra Ética, de Spinoza. Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento que se seguiu à revolução industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo da filosofia, particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas independentes. Assim, é comum que atualmente a ética seja definida como "a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas"6 e busca explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana e a moral é a qualidade desta conduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal. A ética também não deve ser confundida com a lei, embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética. Definição e objeto de estudo O estudo da ética dentro da filosofia, pode-se dividir em sub-ramos, após o advento da filosofia analítica no séc XX, em contraste com a filosofia continental ou com a tradição filósofica. Estas subdivisões são: • Metaética, sobre a teoria da significação e da refêrencia dos termos e proposições morais e como seus valores de verdade podem ser determinados • Ética normativa, sobre os meios práticos de se determinar as ações morais • Ética aplicada, sobre como a moral é aplicada em situações específicas • Ética descritiva, também conhecido como ética comparativa, é o estudo das visões, descrições e crenças que se tem acerca da moral Termo Em seu sentido mais abrangente, o termo "ética" implicaria um exame dos hábitos da espécie humana e do seu caráter em geral, e envolveria até mesmo uma descrição ou história dos hábitos humanos em sociedades específicas e em diferentes épocas. Um campo de estudos assim seria obviamente muito vasto para poder ser investigado por qualquer ciência ou filosofia particular. Além disso, porções desse campo já são ocupadas pela história, pela antropologia e por algumas ciências naturais particulares (como, p. ex., a fisiologia, a anatomia e a biologia), uma vez que os hábitos e o caráter dos homens dependem dos processos materiais que essas ciências examinam. Até mesmo áreas da filosofia como a lógica e a estética seriam necessárias em tal investigação, se considerarmos que o pensamento e a realização artística são hábitos humanos normais e elementos de seu caráter. No entanto, a ética, propriamente dita, restringe-se ao campo particular do caráter e da conduta humana à medida que esses estão relacionados a certos princípios – comumente chamados de "princípios morais". As pessoas geralmente caracterizam a própria conduta e a de outras pessoas empregando adjetivos como "bom", "mau", "certo" e "errado". A ética investiga justamente o significado e escopo desses adjetivos tanto em relação à conduta humana como em seu sentido fundamental e absoluto.2 Outras definições Já houve quem definisse a ética como a "ciência da conduta". Essa definição é imprecisa por várias razões. As ciências são descritivas ou experimentais, mas uma descrição exaustiva de quais ações ou quais finalidades são ou foram chamadas, no presente e no passado, de "boas" ou "más" encontra-se obviamente além das capacidades humanas. E os experimentos em questões morais (sem considerar as consequências práticas inconvenientes que provavelmente propiciariam) são inúteis para os propósitos da ética, pois a consciência moral seria instantaneamente chamada para a elaboração do experimento e para fornecer o tema de que trata o experimento. A ética é uma filosofia, não uma ciência. A filosofia é um processo de reflexão sobre os pressupostos subjacentes ao pensamento irrefletido. Na lógica e na metafísica ela investiga, respectivamente, os próprios processos de raciocínio e as concepções de causa, substância, espaço e tempo que a consciência científica ordinária não tematiza nem critica. No campo da ética, a filosofia investiga a consciência moral, que desde sempre pronuncia juízos morais sem hesitação, e reivindica autoridade para submeter a críticas contínuas as instituições e formas de vida social que ela mesma ajudou a criar.2 Quando começa a especulação ética, concepções como as de dever, responsabilidade e vontade – tomadas como objetos últimos de aprovação e desaprovação moral – já estão dadas e já se encontram há muito tempo em operação. A filosofia moral, em certo sentido, não acrescenta nada a essas concepções, embora as apresente sob uma luz mais clara. Os problemas da consciência moral, no instante em que essa pela primeira vez se torna reflexiva não se apresentam, estritamente falando, como problemas filosóficos.2 Ela se ocupa dessas questões justamente porque cada indivíduo que deseja agir corretamente é constantemente chamado a responder questões como, por exemplo, "Que ação particular atenderá os critérios de justiça sob tais e tais circunstâncias?" ou "Que grau de ignorância permitirá que esta pessoa particular, nesse caso particular, exima-se de responsabilidade?" A consciência moral tenta obter um conhecimento tão completo quanto possível das circunstâncias em que a ação considerada deverá ser executada, do caráter dos indivíduos que poderão ser afetados, e das consequências (à medida que possam ser previstas) que a ação produzirá, para então, em virtude de sua própria capacidade de discriminação moral, pronunciar um juízo.2 O problema recorrente da consciência moral, "O que devo fazer?", é um problema que recebe uma resposta mais clara e definitiva à medida que os indivíduos se tornam mais aptos a aplicar, no curso de suas experiências morais, aqueles princípios da consciência moral que, desde o princípio, já eram aplicados naquelas experiências. Entretanto, há um sentido em que se pode dizer que a filosofia moral tem origem em dificuldades inerentes à natureza da própria moralidade, embora permaneça verdade que as questões que a ética procura responder não são questões com as quais a própria consciência moral jamais tenha se confrontado.2 O fato de que os seres humanos dão respostas diferentes a problemas morais que pareçam semelhantes ou mesmo o simples fato de que as pessoas desconsideram, quando agem imoralmente, os preceitos e princípios implícitos da consciência moral produzirão certamente, cedo ou tarde, o desejo de, por um lado, justificar a ação imoral e pôr em dúvida a autoridade da consciência moral e a validade de seus princípios; ou de, por outro lado, justificar juízos morais particulares, seja por uma análise dos princípios morais envolvidos no juízo e por uma demonstração de sua aceitação universal, seja por alguma tentativa de provar que se chega ao juízo moral particular por um processo de inferência a partir de alguma concepção universal do Supremo Bem ou do Fim Último do qual se podem deduzir todos os deveres ou virtudes particulares.2 Pode ser que a crítica da moralidade tenha início com uma argumentação contra as instituições morais e os códigos de ética existentes; tal argumentação pode se originar da atividade espontânea da própria consciência moral. Mas quando essa argumentação torna-se uma tentativa de encontrar um critério universal de moralidade – sendo que essa tentativa começa a ser, com efeito, um esforço de tornar a moralidade uma disciplina científica – e especialmente quando a tentativa é vista, tal como deve ser vista afinal, como fadada ao fracasso (dado que a consciência moral supera todos os padrões de moralidade e realiza-se inteiramente nos juízos particulares), pode-se dizer então que tem início a ética como um processo de reflexão sobre a natureza da consciência moral.2 A ética, independente da dimensão em que se apresenta social ou individual, tem como objetivo, servir à vida, sua razão é o ser humano, seu bem estar, de forma que provenha a felicidade.2 História da ética Ética na filosofia pré-socrática A especulação ética na Grécia não teve início abrupto e absoluto. Os preceitos de conduta, ingênuos e fragmentários – que em todos os lugares são as mais antigas manifestações da nascente reflexão moral –, são um elemento destacado na poesia gnômica dos séculos VII e VI a.C. Sua importância é revelada pela tradicional enumeração dos Sete Sábios do século VI, e sua influência sobre o pensamento ético é atestada pelas referências de Platão e Aristóteles. Mas, desde tais pronunciamentos não-científicos até à filosofia da moral, foi um longo percurso. Na sabedoria prática de Tales, um dos Sete, não conseguimos discernir nenhuma teoria da moralidade. No caso de Pitágoras, que se destaca entre os filósofos pré-socráticos por ser o fundador não apenas de uma escola, mas de uma seita ou ordem comprometida com uma regra de vida que obrigava a todos os seus membros, há uma conexão mais estreita entre as especulações moral e metafísica. A doutrina dos pitagóricos de que a essência da justiça (concebida como retribuição equivalente) era um número quadrado indica uma tentativa séria de estender ao reino da conduta sua concepção matemática do universo; e o mesmo se pode dizer de sua classificação do bem ao lado da unidade, da reta e semelhantes e do mal ao lado das qualidades opostas. Ainda assim, o pronunciamento de preceitos morais por Pitágoras parece ter sido dogmático, ou mesmo profético, em vez de filosófico, e ter sido aceito por seus discípulos, numa reverência não-filosófica, como o ipse dixit do mestre. Portanto, qualquer que tenha sido a influência da mistura pitagórica de noções éticas e matemáticas sobre Platão, e, por meio deste, sobre o pensamento posterior, não podemos ver a escola como uma precursora de uma investigação socrática que buscasse uma teoria da conduta completamente racional. O elemento ético do "obscuro" filosofar de Heráclito (c. 530-470 a.C.) – embora antecipasse o estoicismo em sua concepção de uma lei do universo, com a qual o sábio buscará se conformar, e de uma harmonia divina, no reconhecimento da qual encontrará sua satisfação mais verdadeira – é mais profunda, mas ainda menos sistemática. Apenas quando chegamos a Demócrito, um contemporâneo de Sócrates e último dos pensadores originais que classificamos como pré-socráticos, encontramos algo que se pode chamar de sistema ético. Os fragmentos que permaneceram dos tratados morais de Demócrito são talvez suficientes para nos convencer de que reviravolta da filosofia grega em direção à conduta, que se deveu de fato a Sócrates, teria ocorrido mesmo sem ele, ainda que de uma forma menos decidida; mas, quando comparamos a ética democriteana com o sistema pós-socrático com o qual tem mais afinidade – o epicurismo – descobrimos que ela exibe uma apreensão bem rudimentar das condições formais que o ensinamento moral deve atender antes que possa reivindicar o tratamento dedicado às ciências. A verdade é que nenhum sistema de ética poderia ter sido construído até que se direcionasse a atenção à vagueza e inconsistência das opiniões morais comuns da humanidade. Para esse propósito, era necessário que um intelecto filosófico de primeira grandeza se concentrasse sobre os problemas da prática. Em Sócrates, encontramos pela primeira vez a requerida combinação de um interesse proeminente pela conduta com um desejo ardente por conhecimento. Os pensadores pré-socráticos devotaram-se todos principalmente à pesquisa ontológica; mas, pela metade do século V a.C. o conflito entre seus sistemas dogmáticos havia levado algumas das mentes mais afiadas a duvidar da possibilidade de se penetrar no segredo do universo físico. Essa dúvida encontrou expressão no ceticismo arrazoado de Górgias, e produziu a famosa proposição de Protágoras de que a apreensão humana é o único padrão de existência. O mesmo sentimento levou Sócrates a abandonar as antigas investigações físico-metafísicas. Essa desistência foi incentivada, sobretudo, por uma piedade ingênua que o proibia de procurar coisas cujo conhecimento os deuses pareciam ter reservado apenas para si mesmos. Por outro lado, (exceto em ocasiões de especial dificuldade, nas quais se poderia recorrer a presságios e oráculos) eles haviam deixado à razão humana a regulamentação da ação humana. A essa investigação Sócrates dedicou seus esforços.2 Ética sofistica Embora Sócrates tenha sido o primeiro a chegar a uma concepção adequada dos problemas da conduta, a ideia geral não surgiu com ele. A reação natural contra o dogmatismo metafísico e ético dos antigos pensadores havia alcançado o seu clímax com os sofistas. Górgias e Protágoras são apenas dois representantes do que, na verdade, foi uma tendência universal a abandonar a teorização dogmática e estritamente ontológica e a se refugiar nas questões práticas – especialmente, como era natural na cidade-estado grega, nas relações cívicas do cidadão. A educação oferecida pelos sofistas não tinha por objetivo nenhuma teoria geral da vida, mas propunha-se ensinar a arte de lidar com os assuntos mundanos e administrar negócios públicos. Em seu encômio às virtudes do cidadão, apontaram o caráter prudencial da justiça como meio de obter prazer e evitar a dor. Na concepção grega de sociedade, a vida do cidadão livre consistia principalmente em suas funções públicas, e, portanto, as declarações pseudoéticas dos sofistas satisfaziam as expectativas da época. Não se considerava a ἀρετἠ (virtude ou excelência) como uma qualidade única, dotada de valor intrínseco, mas como virtude do cidadão, assim como tocar bem a flauta era a virtude do tocador de flauta. Vemos aqui, assim como em outras atividades da época, a determinação de adquirir conhecimento técnico e de aplicá-lo diretamente a assuntos práticos; assim como a música estava sendo enriquecida por novos conhecimentos técnicos, a arquitetura por teorias modernas de planejamento e réguas T (ver Hipódamo), o comando de soldados pelas novas técnicas da "tática" e dos "hoplitas", do mesmo modo a cidadania deve ser analisada como inovação, sistematizada e adaptada conforme exigências modernas. Os sofistas estudaram esses temas superficialmente, é certo, mas abordaram-nos de maneira abrangente, e não é de se estranhar que tenham lançado mão dos métodos que se mostraram bem-sucedidos na retórica e tenham-nos aplicado à "ciência e arte" das virtudes cívicas. O Protágoras de Platão alega, não sem razão, que ao ensinar a virtude eles simplesmente faziam sistematicamente o que todos os outros faziam de modo caótico. Mas no verdadeiro sentido da palavra, os sofistas não dispunham de um sistema ético, nem fizeram contribuições substanciais, salvo por um contraste com a especulação ética. Simplesmente analisaram as fórmulas convencionais, de maneira bem semelhante a de certos moralistas (assim chamados) "científicos". Ética Socrática e seus discípulos A essa arena de senso-comum e vagueza, Sócrates trouxe um novo espírito crítico, e mostrou que esses conferencistas populares, a despeito de sua fértil eloquência, não podiam defender suas suposições fundamentais nem sequer oferecer definições racionais do que alegavam explicar. Não só eram assim "ignorantes" como também perenemente inconsistentes ao lidar com casos particulares. Desse modo, com o auxílio de sua famosa "dialética", Sócrates primeiramente chegou ao resultado negativo de que os pretensos mestres do povo eram tão ignorantes quanto ele mesmo afirmava ser, e, em certa medida, justificou o encômio de Aristóteles de ter prestado o serviço de "introduzir a indução e as definições" na filosofia. No entanto, essa descrição de sua obra é muito técnica e muito positiva, se a avaliamos com base nos primeiros diálogos de Platão, em que o verdadeiro Sócrates encontra-se menos alterado. Sócrates sustentava que a sabedoria preeminente que o oráculo de Delfos lhe atribuiu consistia numa consciência única da ignorância. No entanto, é igualmente claro, com base em Platão, que houve um elemento positivo muito importante no ensinamento de Sócrates, que justifica afirmar, junto com Alexander Bain, que "o primeiro nome importante na filosofia ética antiga é Sócrates". A união dos elementos positivo e negativo de sua obra tem causado não pouca perplexidade entre os historiadores, e não podemos salvar a consistência do filósofo a menos que reconheçamos algumas doutrinas a ele atribuídas por Xenofonte como meras tentativas provisórias. Ainda assim, as posições de Sócrates mais importantes na história do pensamento ético são fáceis de harmonizar com sua convicção de ignorância e tornam ainda mais fácil compreender sua infatigável inquirição da opinião comum. Enquanto mostrava claramente a dificuldade de adquirir conhecimento, Sócrates estava convencido de que somente o conhecimento poderia ser a fonte de um sistema coerente da virtude, assim como o erro estava na origem do mal. Assim, Sócrates, pela primeira vez na história do pensamento, propõe uma lei científica positiva de conduta: a virtude é conhecimento. Esse princípio envolvia o paradoxo de que a pessoa que sabe o que é o bem não pratica o mal. Mas esse é um paradoxo derivado de seus truísmos irretorquíveis: "Toda a pessoa deseja o seu próprio bem e obtê-lo-ia se pudesse" e "Ninguém negaria que a justiça e a virtude em geral são bens; e entre todos, os melhores". Todas as virtudes, portanto, estão sintetizadas no conhecimento do bem. Mas esse bem, para Sócrates, não é um dever que se opõe ao interesse próprio. A força do paradoxo depende de uma fusão do dever e do interesse numa única noção de bem, uma fusão que era prevalecente no modo de pensar da época. Isso é o que forma o núcleo do pensamento positivo de Sócrates, segundo Xenofonte. Ele não podia oferecer nenhuma abordagem satisfatória do Bem em abstrato, e esquivava-se de qualquer questão sobre esse ponto dizendo que não conhecia "nenhum bem que não fosse bom para alguma coisa em particular", mas esse bem particular é consistente consigo mesmo. Quanto a si, estimava acima de todas as coisas a virtude da sabedoria; e, no intuito de alcançá-la, enfrentava a penúria mais severa, sustentando que uma vida assim seria mais rica em satisfação que uma vida de luxo. Essa visão multidimensional é ilustrada pela curiosa mistura de sentimentos nobres e meramente utilitários em sua abordagem sobre a amizade: um amigo que não nos traga benefícios não vale nada; no entanto, o maior benefício que um amigo pode nos trazer é o aperfeiçoamento moral. As características historicamente importantes de sua filosofia moral, se tomarmos conjuntamente (como devemos) seus ensinamentos e o seu caráter pessoal, podem ser sintetizados da seguinte maneira: (1) uma busca apaixonada por um conhecimento que não está disponível em lugar algum, mas que, se encontrado, aperfeiçoará a conduta humana; (2) simultaneamente, uma exigência de que os homens deveriam agir na medida do possível conforme uma teoria coerente; (3) uma adesão provisória à concepção recebida sobre o que é bom, com toda a sua complexidade e incoerência, e uma prontidão permanente em sustentar a harmonia de seus diversos elementos, e em demonstrar a superioridade da virtude mediante um apelo ao padrão do interesse próprio; (4) firmeza pessoal em adotar essas convicções práticas. É só quando temos em vista todos esses pontos que podemos compreender como, das conversações socráticas, brotaram as diferentes correntes do pensamento ético grego. Quatro escolas diferentes têm sua origem imediata no círculo que se reuniu em torno de Sócrates – a escola megárica, a platônica, a cínica e a cirenaica. A influência do mestre manifesta-se em todas apesar das grandes diferenças que as separam; todas concordam em sustentar que a possessão mais importante do homem é a sabedoria ou o conhecimento, e que o conhecimento mais importante a ser adquirido é o conhecimento do Bem. Aqui, no entanto, termina a concordância. A parte mais filosófica do círculo socrático constituiu um grupo do qual Euclides de Mégara foi provavelmente o primeiro líder. Esse grupo admitia que o Bem era objeto de uma investigação ainda inconclusa e foram levados a identificá-lo com o segredo do universo e, desse modo, a passar da ética à metafísica. Outros, cujas exigências por conhecimento eram mais facilmente satisfeitas e estavam ainda sob a impressão causada pelo lado positivo e prático dos ensinamentos do mestre, tornaram a busca um assunto bem mais simples. Consideraram que o Bem já era conhecido e sustentaram que a filosofia consistia na aplicação rígida desse conhecimento às ações. Entre esses estavam Antístenes, o cínico, e Aristipo de Cirene. Em virtude de ambos terem admitido o dever de viver consistentemente conforme a teoria, em vez de conduzi-la por impulso ou pelo costume, em virtude de sua noção de um novo valor conferido à vida por meio dessa racionalização, e em virtude de seus esforços em manter uma firmeza inabalável, calma e tranquila, de têmpera socrática, é que reconhecemos Antístenes e Aristipo como "homens socráticos", apesar de terem dividido a doutrina positiva do mestre em sistemas diametralmente opostos. Acerca de seus princípios conflitantes, podemos dizer que, enquanto Aristipo efetivou a transição lógica mais óbvia para reduzir os ensinamentos de Sócrates a uma clara unidade dogmática, Antístenes certamente extraiu a inferência mais natural que se poderia tirar da vida socrática. Aristipo argumentava que, se tudo o que é belo ou admirável no comportamento deriva essas qualidades de sua utilidade, isto é, de sua aptidão em produzir um bem maior; e, se a ação virtuosa é essencialmente uma ação realizada com previsão – com a apreensão racional de que a ação é o meio adequado para a aquisição daquele bem –; então aquele bem só pode ser o prazer. Aristipo sustentava que os prazeres e dores corporais são os mais incisivos, mas não parece ter defendido essa ideia em termos de uma teoria materialista, pois admitia a existência de prazeres exclusivamente mentais, tais como alegrar-se com a prosperidade da terra natal. Admitia plenamente que esse bem poderia se realizar apenas em partes sucessivas, e deu ênfase até exagerada à regra de buscar o prazer do momento e não se preocupar com o futuro. Para Aristipo, a sabedoria manifestava-se na seleção tranquila, resoluta e habilidosa dos prazeres que as circunstâncias ofereciam de momento a momento, sem se deixar perturbar pela paixão, pelo preconceito ou pela superstição; e a tradição representa-o como alguém que realizou esse ideal em grau impressionante. Entre os preconceitos dos quais o homem sábio estaria livre, Aristipo inclui a obediência às convenções ditadas pelo costume que não tivessem penalidades vinculadas à sua transgressão; no entanto, sustentava, assim como Sócrates, que essas penalidades tornavam razoável adotar uma postura de conformismo. Assim, logo nos primórdios da teoria ética, já aparecia uma exposição completa e minuciosa do hedonismo. Bem diferente era a compreensão de Antístenes e dos cínicos a respeito do espírito socrático. Eles igualmente sustentavam que nenhuma pesquisa especulativa seria necessária à descoberta do bem e da virtude, e defenderam que a sabedoria socrática não se exibiu numa busca habilidosa pelo prazer; mas, ao contrário, numa indiferença racional em relação ao prazer – numa nítida compreensão de que não há valor algum no prazer nem em outros objetos dos desejos mais comuns acalentados pelos homens. Antístenes, com efeito, declarou taxativamente que o prazer é um mal: "É melhor a loucura que ceder ao prazer". Ele não desconsiderou a necessidade de complementar o insight meramente intelectual com a "força de espírito socrática"; mas parecia-lhe que, por uma combinação de insight e autocontrole, a pessoa poderia conquistar uma independência espiritual absoluta que nada deixaria faltar a um perfeito bem-estar (ver também Diógenes de Sínope). Pois, quanto à pobreza, à labuta extenuante, ao desapreço e aos outros males que apavoram os homens, esses seriam úteis, argumentava ele, como meios de avançar na liberdade e virtude espiritual. Entretanto, na concepção cínica de sabedoria, não há um critério positivo além da mera rejeição dos preconceitos e dos desejos irracionais. Vimos que Sócrates não alegava ter descoberto uma teoria abstrata sobre a boa ou sábia conduta; ao mesmo tempo, entendia essa falta, em sentido prático, como motivo para a execução confiante dos deveres costumeiros, sustentando sempre que sua própria felicidade estava condicionada a essa prática. Os cínicos, de modo mais ousado, descartaram tanto o prazer como o mero costume por considerarem ambos irracionais; mas, ao fazerem isso, deixaram a razão liberada sem nenhum objetivo definido além de sua própria liberdade. É absurdo, tal como Platão apontou, dizer que o conhecimento é o bem e, depois, quando nos indagam "conhecimento de quê?" não ter outra resposta positiva senão "do bem"; mas os cínicos não parecem ter feito nenhum esforço sério de escapar a esse contrassenso.2 As concepções mais extremas dessas duas escolas socráticas serão retomadas quando chegarmos às escolas pós-aristotélicas; mas antes devemos esboçar o modo como a teoria socrática foi elaborada por Platão e Aristóteles. Platão A ética de Platão não pode ser adequadamente tratada como um produto acabado, mas antes como um movimento contínuo, a partir da posição de Sócrates, em direção ao sistema mais completo e articulado de Aristóteles, exceto por sugestões de teor ascético e místico em algumas partes dos ensinamentos de Platão que não encontram correspondência em Aristóteles, e que, de fato, desaparecem da filosofia grega logo após a morte de Platão, para bem mais tarde ressurgirem e serem entusiasticamente desenvolvidas pelo neopitagorismo e pelo neoplatonismo. O primeiro ponto em que podemos identificar uma concepção ética platônica distinta da de Sócrates está presente no Protágoras. Nesse diálogo, Platão envida esforços genuínos, embora nitidamente tenteadores, em definir o objeto daquele conhecimento que ele e seu mestre consideravam ser a essência de toda a virtude. Esse conhecimento seria na verdade uma mensuração de prazeres e dores por meio da qual o sábio evita erroneamente subestimar as sensações futuras em comparação com o que se costuma chamar de "ceder ao medo e ao desejo". Esse hedonismo tem intrigado os leitores de Platão. Mas não há razão para perplexidades, pois (como dissemos ao tratar dos cirenaicos) o hedonismo é o corolário mais óbvio daquela doutrina socrática segundo a qual cada uma das diferentes noções de bem – o belo, o prazeroso e o útil – deve ser de alguma forma interpretada em termos das outras. No que diz respeito a Platão, no entanto, essa conclusão só podia ser mantida enquanto ele não tivesse executado o movimento intelectual de levar o método socrático para além do campo do comportamento humano e desenvolvê-lo num sistema metafísico. Esse movimento pode ser expresso da seguinte maneira. "Se soubéssemos", dizia Sócrates, "o que é a justiça, seríamos capazes de apresentar uma definição da justiça"; o verdadeiro conhecimento deve ser um conhecimento do fato geral, comum a todos os casos individuais aos quais aplicamos a noção geral. Mas isso também é verdade em relação a outros objetos de pensamento e discurso; a mesma relação entre noções gerais e exemplos particulares se estende por todo o universo físico; só podemos pensar e falar sobre ele por meio de tais noções. O conhecimento verdadeiro ou científico, portanto, deve ser um conhecimento geral, relacionado primariamente não aos indivíduos, mas aos fatos ou qualidades gerais que os indivíduos exemplificam; de fato, a noção de um indivíduo, quando examinada, mostra-se como um agregado daquelas qualidades gerais. Mas, novamente, o objeto do verdadeiro conhecimento deve ser o que realmente existe; assim, a realidade do universo deve se apoiar em fatos ou relações gerais, e não nos indivíduos que exemplificam tais fatos e relações. Até aqui os passos são suficientemente claros; mas ainda não vemos como esse realismo lógico (como foi posteriormente chamada essa posição) resulta no caráter essencialmente ético do platonismo. A filosofia de Platão está voltada para o universo inteiro do ser; no entanto, o objeto último de sua contemplação filosófica ainda é "o bem", agora considerado como o fundamento último de todo o ser e de todo o conhecimento. Ou seja, a essência do universo é identificada com esse fim – a causa "formal" das coisas é identificada com a sua causa "final", conforme a posterior terminologia aristotélica. Como isso ocorre? Talvez a melhor maneira de explicá-lo esteja num retorno à aplicação original do método socrático aos assuntos humanos. Uma vez que toda a atividade racional tem em vista alguma finalidade, as diferentes artes e funções da indústria humana são naturalmente definidas por uma declaração sobre seus usos ou finalidades; analogamente, ao oferecer uma explicação sobre os vários artistas e funcionários, apresentamos necessariamente as suas finalidades – "aquilo em que eles são bons". Numa sociedade organizada segundo os princípios socráticos, todos os seres humanos seriam designados para alguma utilidade; a essência de suas vidas consistiria em fazer aquilo em que são bons (o seu εργον próprio). Mas, novamente, é fácil estender essa concepção para todo o campo da vida organizada; um olho que não alcança a sua finalidade de enxergar está destituído da essência do olho. Em resumo, podemos dizer acerca de todos os órgãos e instrumentos que eles são o que pensamos deles à medida que cumprem a sua função e alcançam sua finalidade. Assim, se concebermos organicamente todo o universo como um arranjo complexo de meios para fins, entenderemos por que Platão pode sustentar que todas as coisas realmente são, ou (como diríamos) "realizam sua ideia", à medida que alcançam o fim ou o bem especial para o qual foram dispostas. Mesmo Sócrates, apesar de sua aversão à física, foi levado pela reflexão piedosa a expor uma visão ideológica do mundo físico, um mundo organizado em todas as suas partes pela sabedoria divina para a realização de alguma finalidade divina; e a viragem metafísica que Platão imprimiu a essa visão foi provavelmente antecipada por Euclides de Mégara, que sustentava que o único ser real é "aquilo que chamamos por diversos nomes: Bem, Sabedoria, Razão ou Deus", aos quais Platão, alçando a identificação socrática da beleza com a utilidade a um significado mais elevado, acrescentou o nome do Belo Absoluto, ao explicar como o amor à beleza mostra-se em última instância como um anseio pela finalidade e pela essência do ser. Platão, portanto, aderiu a essa vasta orientação filosófica, e identificou as noções últimas da ética com as da ontologia. Temos de ver agora que atitude adotará em relação às investigações práticas que foram o seu ponto de partida. Quais serão agora suas concepções de sabedoria, virtude, prazer e de suas relações com o bem-estar? A resposta a essa questão é algo complicada. Em primeiro lugar, temos de observar que a filosofia, agora, saiu da praça do mercado e entrou na sala de aula. Sócrates buscava uma arte de se conduzir que seria exercida num mundo prático e entre semelhantes. Mas, se os objetos do pensamento abstrato constituem o mundo real, do qual esse mundo de coisas individuais é apenas uma sombra, é evidente que a vida mais elevada e mais real será encontrada naquela primeira região, não nessa última. A verdadeira vida do espírito deve consistir na contemplação da realidade abstrata que as coisas concretas obscuramente representam – na contemplação do arquétipo ou ideal que os indivíduos sensíveis imitam imperfeitamente; e, como o homem é mais verdadeiramente homem à medida que se identifica com a sua mente, o desejo pelo bem de si mesmo, que Platão, seguindo Sócrates, sustentava ser permanente e essencial em todas as coisas vivas, revela-se em sua forma mais elevada como o anseio filosófico por conhecimento. Esse anseio surge – assim como a maioria dos impulsos sensuais – com uma percepção de que nos falta alguma coisa anteriormente possuída, alguma coisa da qual mantemos uma memória latente na alma. No aprendizado de uma verdade abstrata por demonstração científica, simplesmente tornamos explícito o que já sabíamos implicitamente; trazemos à clareza da consciência as memórias ocultas decorrentes de um estado anterior em que a alma contemplava diretamente a Realidade e o Bem, antes de ela ser aprisionada num corpo estranho e antes da mistura de sua verdadeira natureza com os sentimento e impulsos carnais. Chegamos assim ao paradoxo de que a verdadeira arte de viver é, na verdade, uma "arte de morrer" para os sentidos, a fim de existir em estreita união com a bondade e a beleza absoluta. Por outro lado, dado que o filósofo deve ainda viver e atuar no mundo sensível, a identificação socrática entre sabedoria e virtude é plenamente mantida por Platão. Somente aquele que capta o bem em abstrato pode reproduzi-lo como bem transitório e imperfeito na vida humana, e é impossível que, dispondo desse conhecimento, não aja de acordo com ele, seja em assuntos privados, seja em assuntos públicos. Assim, no verdadeiro filósofo, encontraremos necessariamente o homem bom em sentido prático, e também o estadista perfeito, caso a organização da sociedade permita-lhe exercer a sua habilidade estadística. Os traços característicos dessa bondade prática no pensamento maduro de Platão refletem as noções fundamentais de sua concepção de universo. A alma do homem, em seu estado bom e normal, deve estar organizada e harmonizada conforme a orientação da razão. Surge então a questão: "Em que consiste essa ordem ou harmonia?" Para esclarecer a resposta elaborada por Platão, convém notar que, embora mantivesse a doutrina socrática de que a virtude mais elevada é indissociável do conhecimento do bem, Platão reconhecia uma espécie inferior de virtude, possuída por homens que não eram filósofos. É evidente que, se o bem a ser conhecido é o fundamento último de todas as coisas, ele só pode ser alcançado por um restrito e seleto grupo. No entanto, não podemos restringir a virtude apenas a esse grupo. Que abordagem, então, devemos dar às virtudes "cívicas" ordinárias – coragem, temperança e justiça? Parece claro que os homens que cumprem os seus deveres, resistindo às seduções do medo e do desejo, devem ter, se não conhecimento, ao menos opiniões corretas quanto ao bem e ao mal na vida humana; mas de onde viriam essas "opiniões" corretas? Vêm em parte, diz Platão, da natureza e da "alocação divina"; mas, para seu adequado desenvolvimento, são necessários "o costume e a prática". Daí a importância basilar da educação e da disciplina para a virtude cívica; e mesmo para os futuros filósofos é indispensável essa cultura moral, em que também cooperam o treinamento físico e estético (uma preparação apenas intelectual não basta). O conhecimento perfeito, por outro lado, não pode ser implantado numa alma que não tenha passado por uma preparação que inclui bem mais que o treinamento físico. O que é essa preparação? Um passo importante na análise psicológica foi dado quando Platão reconheceu que o efeito dessa preparação era produzir a "harmonia" acima mencionada entre as diferentes partes da alma, de modo que os impulsos se subordinassem à razão. Platão distinguiu esses elementos não-racionais num componente concupiscível (το επιθυµητικον) e num componente irascível (το θυµοειδες ou θυµος) – e afirmou que a separação entre esses dois elementos, e entre esses e a razão, é estabelecida pela experiência que temos de nossa vida interior. Nessa tripartição da alma, Platão encontrou uma concepção sistemática das quatro espécies de virtudes reconhecidas pela moral estabelecida da Grécia – mais tarde chamadas de Virtudes Cardinais. Dessas, as duas mais fundamentais eram a sabedoria – que em sua forma superior identifica-se com a filosofia – e aquela atividade harmoniosa e regulada de todos os elementos da alma, que Platão toma como a essência da retidão nas relações sociais (δικαιοσινη). O sentido desse termo é essencialmente social; e só podemos explicar o uso desse termo por Platão numa referência à analogia que ele traça entre o homem individual e a comunidade. Numa polis justamente ordenada, tanto o bem-estar social como o bem-estar individual dependeriam da interação harmoniosa daqueles diversos elementos, cada um deles desempenhando a sua função própria, a qual, em sua aplicação social, é mais naturalmente denominada δικαιοσινη. Vemos, além disso, como na concepção platônica as virtudes fundamentais da Sabedoria e da Justiça estão interconectadas. A sabedoria mantém necessariamente a atividade ordenada, e essa última consiste na regulação pela sabedoria; enquanto que as duas outras virtudes especiais – a Coragem (ανδρεια) e a Temperança (σωφροσινη) – são apenas lados ou aspectos diferentes dessa ação sabiamente regulada de uma alma composta. Essas são as formas como o bem essencial se manifesta na vida humana. Resta saber se a apresentação dessas formas fornece uma explicação completa do bem-estar humano ou se também se deve incluir o prazer. Nesse ponto, o pensamento de Platão parece ter sofrido várias oscilações. Depois de aparentemente sustentar que o prazer é o bem (Protágoras), ele passa para o extremo oposto, rejeitando qualquer assimilação entre bem e prazer (Fédon, Górgias); pois (1), sendo algo concreto e transitório, o prazer não é o bem verdadeiramente essencial que o filósofo está a buscar; (2) as sensações que mais prontamente reconhecemos como prazeres estão associadas à dor, num vínculo completamente estranho à natureza do bem, uma vez que esse último jamais se associa ao mal. No entanto, essa era uma concepção que discordava tanto do socratismo que Platão não poderia permanecer nela. Que o prazer não fosse um bem absoluto não era justificativa para não incluí-lo entre os bens da vida humana concreta; além disso, somente os prazeres brutos e vulgares estão indissociavelmente ligados às dores da carência. Desse modo, na República, ele não receia tomar o prazer como parâmetro para responder à questão sobre a superioridade intrínseca da vida filosófica ou virtuosa, e argumenta que só o homem filosófico (ou bom) desfruta o prazer genuíno, ao passo que o sensualista gasta a sua vida oscilando entre a carência dolorosa e o estado neutral de falta-de-dor, que ele equivocadamente toma por prazer positivo. Ainda mais enfaticamente, declara-se nas Leis que, quando estamos "dissertando para homens, não para deuses", devemos mostrar que a vida que estimamos como a melhor e mais nobre é também aquela em que o prazer supera em maior proporção a dor. Mas, embora Platão mantenha que essa conexão inquebrantável entre o melhor e o mais prazeroso seja verdadeira e importante, é apenas em benefício do vulgo que ele dá essa ênfase ao prazer; pois, na comparação mais filosófica apresentada no Filebo entre as alegações do prazer e as da sabedoria, as primeiras são completamente subjugadas. Aristóteles Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco, afirma que a felicidade (eudemonia) não consiste nem nos prazeres, nem nas riquezas, nem nas honras, mas numa vida virtuosa. A virtude (areté), por sua vez, se encontra num justo meio entre os extremos, que será encontrada por aquele dotado de prudência (phronesis) e educado pelo hábito no seu exercício. Para Epicuro a felicidade consiste na busca do prazer, que ele definia como um estado de tranquilidade e de libertação da superstição e do medo (ataraxia), assim como a ausência de sofrimento (aponia). Para ele, a felicidade não é a busca desenfreada de bens e prazeres corporais, mas o prazer obtido pelo conhecimento, amizade e uma vida simples. Por exemplo, ele argumentava que ao comermos, obtemos prazer não pelo excesso ou pelo luxo culinário (que leva a um prazer fortuito, seguido pela insatisfação), mas pela moderação, que torna o prazer um estado de espírito constante, mesmo se nos alimentarmos simplesmente de pão e água.7 Para os estóicos, a felicidade consiste em viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo, devendo assim manter a serenidade e indiferença perante as tragédias e alegrias. Para os céticos da antiguidade, nada podemos saber, pois sempre há razões igualmente fortes para afirmar ou negar qualquer teoria, além do que toda teoria é indemonstrável (um dos argumentos é que toda demonstração exige uma demonstração e assim ad infinitum). Defender qualquer teoria, então, traz sofrimentos desnecessárias e inúteis. Assim, os céticos advogavam a "suspensão do juízo" (epokhé). Por exemplo, aquele que não imagina que a dor é um mal não sofre senão da dor presente, enquanto que aquele que julga a dor um mal duplica seu sofrimento e mesmo sofre sem dor presente, sendo a mera ideia do mal da dor às vezes mais dolorosa que a própria dor.8 Ética na Idade Média, no Renascimento e no Iluminismo Enquanto na antiguidade todos os filósofos entendiam a ética como o estudo dos meios de se alcançar a felicidade (eudaimonia) e investigar o que significa felicidade, na idade média, a filosofia foi dominada pelo cristianismo e pelo islamismo, e a ética se centralizou na moral como interpretação dos mandamentos e preceitos religiosos. No renascimento e nos séculos XVII e XVIII, os filósofos redescobriram os temas éticos da antiguidade, e a ética foi entendida novamente como o estudo dos meios de se alcançar o bem estar, a felicidade e o bom modo de conviver tendo por base sua fundamentação pelo pensamento humano e não por preceitos recebidos das tradições religiosas. Espinoza, em sua obra Ética, afirma que a felicidade consiste em compreender e criar as circunstâncias que aumentem nossa potência de agir e de pensar, proporcionando o afeto de alegria e libertando-nos das determinações alheias (paixões), isto é, afirmando a necessidade de nossa própria natureza (conatus). Unicamente a alegria nos leva ao amor ("alegria que associamos a uma causa exterior a nós") no cotidiano e na convivência com os outros, enquanto a tristeza jamais é boa, intrinsecamente relacionada ao ódio ("tristeza que associamos a uma causa exterior a nós"), a tristeza sempre é destrutiva.9 10 Espinosa dizia, quanto aos dominados pelas paixões: "Não rir nem chorar, mas compreender."11 Visão A ética tem sido aplicada na economia, política e ciência política, conduzindo a muitos distintos e não-relacionados campos de ética aplicada, incluindo: ética nos negócios e Marxismo. Também tem sido aplicada à estrutura da família, à sexualidade, e como a sociedade vê o papel dos indivíduos, conduzindo a campos da ética muito distintos e não-relacionados, como o feminismo e a guerra, por exemplo. A visão descritiva da ética é moderna e, de muitas maneiras, mais empírica sob a filosofia Grega clássica, especialmente Aristóteles. Inicialmente, é necessário definir uma sentença ética, também conhecido como uma afirmativa normativa. Trata-se de um juízo positivo ou negativo (em termos morais) de alguma coisa. Sentenças éticas são frases que usam palavras como bom, mau, certo, errado, moral, imoral, etc. Aqui vão alguns exemplos: • “Salomão é uma boa pessoa” • “As pessoas não devem roubar” • “A honestidade é uma virtude” Em contraste, uma frase não-ética precisa ser uma sentença que não serve para uma avaliação moral. Alguns exemplos são: • “Salomão é uma pessoa alta” • “As pessoas se deslocam nas ruas” • "João é o chefe". Ética nas ciências A principal lei ética na robótica é: o Um robô jamais deve ser projetado para machucar pessoas ou lhes fazer mal. • Na biologia: o Um assunto que é bastante polémico é a clonagem: uma parte dos ativistas considera que, pela ética e bom senso, a clonagem só deve ser usada, com seu devido controle, em animais e plantas somente para estudos biológicos - nunca para clonar seres humanos. • Na Programação o Nunca criar programas (softwares) para prejudicar as pessoas, como para roubar ou espionar. Referências 1. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa 2. Ethics, in The Encyclopaedia Britannica: a dictionary of arts, sciences, literature and general information. 11.ª ed. New York, 1911. pp. 808-845. 3. Que é Ética, Clóvis de Barros Filho, Espaço Ética 4. Gilles Deleuze, Espinosa: Filosofia Prática, p.23-35. Editora Escuta 5. O que é Ética. Página visitada em 11 de abril de 2008. 6. Ethics: an overview (em inglês). Cornell University of Law School. Página visitada em 11 de abril de 2008. 7. Carta a Meneceus (em inglês). 8. Os Céticos Gregos, Victor Brochard, pág 338, Odysseus Editora, 2009 9. Wolfgang Bartuscha, Espinosa, ARTMED EDITORA SA, 2010 10. Gilles Deleuze, Espinosa, Filosofia Prática 11. Tratato Político, coleção Os Pensadores 12. (Disponível em Wikipédia) A sociedade da multimídia Tem-se presente na era contemporânea que a maior de todas as liberdades é a liberdade de se quebrar todas as regras e se poder eliminar todas as restrições às liberdades sem limites para se impor os desejos humanos, como se fosse a maior conquista de todas das civilizações. Vivemos a era do hedonismo, como se a humanidade estivesse se livrando dos últimos grilhões de opressão. Nem se percebe a contradição em que se encontram os apologistas da liberdade total, quando encontram barreiras legais e morais para imporem o seu modo de fruição desta pletora de liberdade. Somos ao mesmo tempo patrulhados pelo politicamente correto, pelos sustentabilistas, pelos ismos e anti-fóbicos de todo o gênero. Onde está a liberdade? Sempre do lado dos militantes da onda anticonservadora. O multiculturalismo e a preservação da liberdade exige o respeito até mesmo daquele que não preza a liberdade, por coerência ideológica, no limite, apenas para argumentar, a liberdade é o direito de avançar até e além dos limites das proibições. Por consequência, a liberdade somente pode ser exercida contra os limites impostos a ela, liberdade e limites são mutuamente dependentes. Portanto, o máximo de liberdade seria a capacidade de não exercê-la quando se pode usufruir dela, pois não é possível a existência da liberdade sem a contraposição dos limites à liberdade, pois a liberdade não existe no vazio de normas para serem violadas. A liberdade exige a repressão à liberdade para tê-la e sê-la efetiva. A partir da contradição entre a liberdade e a repressão é que se expressa o direito do possuí-la, a liberdade total. Não existe rebeldia sem se quebrarem as normas. São dialeticamente dependentes uma depende da outra para existirem: liberdade e repressão. O mundo civilizado depende da moeda do crédito. Quando se faz um depósito bancário não se cogita do banqueiro fugir com o nosso dinheiro e patrimônio ali confiados. O argumento formal para esta confiança é que as instituições fiscais e policiais do Estado nos dão a garantia de que não seremos enganados. É pura ilusão. O nome de instituição de crédito significa que confiamos nos bancos, e o banco confia em nós. Todo devedor inadimplente apenas conseguiu o crédito ou o aval financeiro porque no momento da firmação do crédito o seu passado indicava completa segurança e a expectativa de que teria capacidade e reputação para honrar o crédito agora frustrado, seja por motivo de força maior ou não. Todos os devedores atingiram esta condição porque na obtenção do crédito estavam aptos a fazê-lo, e formalmente o banco ou a instituição creditícia acreditando poder confiar nos seus mecanismos de avaliação e de triagem formais dos clientes aprovou a sua ficha financeira pregressa projetando as boas expectativas do passado do cliente para o comportamento futuro. Um dia o devedor de hoje foi um bom cliente no passado. Acreditar que se pode confiar nos mecanismos institucionais formais como condição suficiente para julgar a honestidade de comportamento dos clientes no futuro é subestimar a condição sine qua nom do funcionamento da sociedade que é a ética individual. Nenhum sistema de avaliação bancário tem como impedir e substituir a ética dos seus clientes. Vivemos na sociedade, independentemente de nossas crenças e de nossa vontade, submetidos a um sistema de solidariedade orgânica, segundo Mauss e Durkheim. Os mecanismos de solidariedade mecânica foram introduzidos pelas normas formais, mas não eliminam a necessidade da confiança entre os cidadãos e entre os indivíduos para a coalescência social. Porque vive-se atentando para destruir os valores morais da sociedade por se presumirem que são imprestáveis, vetustos, desatualizados, e obstáculos à realização plena da liberdade contemporânea? Os agentes que assim raciocinam estão utilizando do mesmo mecanismo que desprezam, a solidariedade e a tolerância da sociedade para atentar contra a sua própria liberdade. Não percebem que sem estes mecanismos invisíveis das regras não escritas que regulam e regem o comportamento social, baseados em etiquetas sociais e protocolos atentam contra a sua liberdade igualitária, ou democrática de poderem agir dentro dos próprios limites e além, os mesmos que desejam agora violar com os seus atos liberalistas. Segundo outro filósofo inglês do século XVI, Thomas Hobbes, numa préssociedade onde quem manda é que tem mais força uma guerra de todos contra todos logo se espalha, e as alternativas para se recobrar a mínima ordem social, segundo Hobbes é ou se estabelecer uma tirania ou formarem-se alianças entre os mais fracos para se defenderem em grupo da tirania do mais forte. Assim, estabelecem-se os governos. Fora a situação excepcional da anarquia social não existe alternativa senão um governo construído e constituído pela via do contrato social onde todos aderem ao mesmo por exigência da sujeição à vivência coletiva, por adesão, ao contrário das sociedades précontratuais, a sansão para a violação do contrato é a marginalização, ou no caso da sociedade firmada no contrato social, as normas e regras institucionais prevêm a coação e a coerção do marginal. De todas as normas sociais a única que garante a sua vigência em 100% é a norma ética, por que ela se dirige à consciência do indivíduo, e é fiscalizada pelo próprio sujeito, e as sansões são de cunho pessoal e subjetivo. Esta é a pior de todas as censuras, o pior de todas a punições, a autossansão. A mesma força e os mesmos mecanismos do individualismo utilitarista e da prática da ética não precisam ser negados para fortalecer o conceito da solidariedade em seus fundamentos ontológicos e epistemológicos, pois não existe contradição entre eles a não ser a contradição dialética que exigida pelo método que é a condição lógica para a construção da síntese que é a combinação de interesses coletivos opostos que superem a satisfação dos interesses individuais antagônicos por sinestesia sistêmica, e somente podem ser percebidos estes efeitos no sistema social a partir da experiência social experimentada pelas sociedades consolidadas nestas experiências, uma vez quebrada esta expectativa de confiança nas forças sociais muito tempo se consome para se construir novamente esta situação especial de maturação das relações de solidariedade orgânica. Só se pode atentar contra a liberdade em um ambiente onde se pode exercer a liberdade. Só se pode destruir a ética em um ambiente social onde se preservam o direito e as garantias individuais de multiculturalismo. Os rebeldes e reformadores sociais devem à ética ao multiculturalismo que pretendem destruir o seu direito de atentar contra ela. Ao destruírem a ética social vai embora junto a última oportunidade de realizarem quaisquer mudanças sociais renunciando ao uso da violência. Sem a sociedade baseada na ética a única alternativa de ordem social é a tirania do hegemon. É o fim da rebeldia.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Sistema de castas no Ocidente; existe?

disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político


As Sociedades

As sociedades humanas não são homogêneas.

Há que se observar que em culturas diversas, em tempos diferentes, em eras remotas e principalmente em tempos presentes houve divisões, superdivisões e subdivisões sociais, algumas consideradas naturais, outras acidentais, outras geográficas, outras culturais, outras étnicas, outras religiosas, outras econômicas, outras de gênero, outras etárias, outras sanitárias, outras linguísticas e assim forçosamente admite-se que não é tarefa fácil pensar em uma sociedade humana onde não existam divisões, facções, castas, classes sociais e estamentos.

Sectarismo no Mundo

O sectarismo pode ser visto convenientemente, por uma mente politizada, como uma das muitas metamorfoses do epifenômeno do poder.

Poderia parafrasear Jean Jacques Rousseau e a sua teoria da misantropia social. Porém, não é preciso dispor desta muleta antropológica, pois que a competição entre os indivíduos, institucionalizada ou não, como nos nacionalismos, por exemplo, é preexistente à sociedade.

Assim temos imanentemente uma sociedade clivada entre grupos, classes, castas, e comunidades dividida pelos mais diversos e estranhos critérios.

Estes critérios fazem parte de qualquer projeto de pesquisa sócio-etário-sexual-étnico-escolar-local de uma bem estruturada metodologia de pesquisa social humana.

Qualquer pesquisador consciente e metódico quer saber a que categoria analítica pertencem os indivíduos formadores de um grupo cujo comportamento se quer analisar ou avaliar.

A divisão do trabalho social, que precedeu a civilização humana, obedece as regras tradicionais de separação das atribuições, privilégios e deveres principalmente obedecendo aos critérios: etário, de tradição, de herança, de riqueza, de gênero e de experiência.

As divisões típicas definidas e utilizadas em uma análise de estratificação de categorias analíticas estatísticas em qualquer projeto de pesquisa geralmente recaem nos seguintes âmbitos:

a) Idade;
b) Sexo;
c) Escolaridade;
d) Local de habitação;
e) Profissão;
f) Preferências: 
·         f.1) Política;
·         f.2) Esporte;
·         f.3) Laser;
·         f.4) Cultura:
·          
o    f.4.I) Musical;
o    f.4.II) Literatura;
o    f.4.III) Artes pictóricas e imagéticas.
g) Estado civil;
h) Opção sexual;
i) Etnia;
j) Renda, patrimônio, riqueza;
k) Religião;
l) Naturalidade;
m) Nacionalidade;
n) Tipo físico:
· n.1) Alto / baixo;
· n.2) Gordo / magro;
· n.3) Feio / bonito
Hipótese:


“O sectarismo aceptivo exclusivamente excludente, ou, exclusivamente includente, não-institucionalizados constituem o que se quer caracterizar e denominar com o constructo teórico do preconceito da separação social em camadas.”


A disputa pelo poder subentende o processo da competição por privilégios na sociedade. Da divisão do trabalho social distribuem-se as obrigações e deveres, juntamente com os privilégios que constroem a categoria da hierarquia social, institucionalizada ou não.

Quais elementos e de que maneira estes elementos tão abstratos conseguem fornecer a coesão social ou conseguem produzir a apartação social poderosas capazes de enrijecer o tecido social a ponto de tornarem concretas e estanques as interações sociais mais elementares?

 Sectarismo Organizado

Quando a hierarquia social se apresenta de modo organizada, institucionalizada e orgânica, esta hierarquia social vem apoiada e justificada através de uma ideologia, arribada em constructos teóricos científicos, alicerçada pela tradição, instituindo uma ordem hierárquica social determinada que caracteriza o comportamento social dos grupos e divisões na sociedade. 

Sectarismo não-organizado


No sectarismo não organizado, ou seja, não institucionalizado com regras perceptíveis e coercitivas, observamos o fenômeno do preconceito. Então, o que caracteriza e distingue o preconceito de outras formas do sectarismo é o grau de institucionalização do sectarismo na sociedade.

Assim, deixam de ser caracterizados como preconceitos os sectarismos institucionalizados, tais como:

a) O Nazismo;
b) O Sionismo;
c) O sistema de castas;
d) O Apartheid;
e) Comunidades Quilombolas;
f) Comunidades Indígenas;
g) Sistemas de Cotas Raciais;
h) Sistemas de Cotas Gerais.
i) Socialismo
j) Sistemas de estamentos
k) Sistemas de classes sociais
m) O Capitalismo
n) O Comunismo

 A disputa pelo poder tem sido a principal questão e pólo orientador dos sectarismos nas sociedades: grupos, classes, castas, comunidades, etnias, nações. A sinestesia desta disputa originou os preconceitos.

O preconceito consiste no sentimento de inferiorização e do complexo de desvantagens referente às regras de relacionamento, direitos e obrigações na estrutura social entre os membros. O preconceito não se dirige à pessoa (indivíduo), e sim ao (sujeito coletivo) grupo, categoria ou camada social.

Estamentos

Constitui uma forma de estratificação social com camadas mais fechadas do que classes sociais, e mais abertas do que as castas, ou seja, possui maior mobilidade social que no sistema de castas, e menor mobilidade social do que no sistema de classes sociais. É um tipo de estratificação ainda presente em algumas sociedades. Nessas sociedades, do presente ou do passado, o indivíduo desde o nascimento está obrigado a seguir um estilo de vida predeterminado, reconhecido por lei e geralmente ligado ao conceito de honra, embora exista alguma mobilidade social. Historicamente, os estamentos caracterizaram a sociedade feudal durante a Idade Média.
Na obra de Max Weber, o conceito de estamento é ampliado. Passa a significar não propriamente um corpo homogêneo estratificado, mas sim certa teia de relacionamentos que constitui um determinado poder e influi em determinado campo de atividade.
Podemos afirmar que, no estamento, cada estrato deve obedecer a leis diferenciadas. Por exemplo, na sociedade feudal os direitos e deveres de um nobre eram diferentes dos direitos e deveres de um servo. E, embora a lei não preveja a mudança de status social, ela também não a torna impossível, como na casta. Por exemplo, um servo pode se tornar um pequeno comerciante ou um membro do clero. Isso dá ao sistema de estamentos uma mobilidade social maior do que nas castas, mas não tão alta quanto nas classes sociais, onde todos, em teoria, são iguais perante a lei.

O sistema de castas

As sociedades organizadas em castas

O sistema de castas foi observado na Grécia antiga e na China, mas a Índia foi onde esse sistema se expressou de forma mais completa.

A sociedade indiana começou a se organizar em castas e subcastas há mais de três mil anos, adotando uma hierarquização baseada na religião, etnia, cor, hereditariedade e ocupação. Todos esses fatores são levados em consideração para definir as castas.

Esses elementos definem a organização do poder político e a distribuição da riqueza gerada pela sociedade.

Esse sistema foi abolido oficialmente em 1950, mas sobrevive pela força da tradição. Na medida em que o capitalismo avança na índia, espera-se que o sistema de castas se misture ao sistema de classes sociais econômicas e vá se desintegrando aos poucos.

O sistema de castas da Índia é uma divisão social importante na sociedade Hindu, não apenas na Índia, mas no Nepal e em outros países e populações de religião Hindu. Embora geralmente identificado com o hinduísmo, o sistema de castas também foi observado entre seguidores de outras religiões no subcontinente indiano, incluindo alguns grupos de muçulmanos e cristãos.

A Constituição Indiana rejeita a discriminação com base na casta, em consonância com os princípios democráticos e seculares capitalistas liberais ocidentais que fundaram a nação indiana contemporânea pós-colonial.

Barreiras de casta deixaram de existir rigidamente e conspicuamente nas grandes cidades, mas persistem principalmente na zona rural do país e entre famílias conservadoras.
Castas e divisões na Índia

Define-se casta como grupo social hereditário, no qual a condição do indivíduo passa de pai para filho. O grupo é endógamo, isto é, cada integrante só pode casar-se com pessoas do seu próprio grupo.
  • os brâmanes (sacerdotes e letrados) nasceram da cabeça de Brahma;
  • os xátrias (guerreiros) nasceram dos braços de Brahma);
  • os vaixás (comerciantes) nasceram das pernas de Brahma) ;
  • os sudras (servos: camponeses, artesãos e operários) nasceram dos pés de Brahma.


À margem dessa estrutura social havia os cordeiros, que vieram da poeira debaixo do pé de Brahma. Mais conhecidos como párias, sem casta, eram considerados os mais atraídos por todas as castas. Hoje são chamados de haridchens, haryens , dalit , ou intocáveis. Com o passar do tempo, ocorreram centenas de subdivisões, que não param de se multiplicar.
§  Brahmin: os brahmin representam o topo da pirâmide social indiana. Eles representam apenas 15% da população e são extremamente respeitados. São filósofos, sacerdotes e professores.
§  Kshatriya: são como subordinados dos brahmin. Suas funções estão ligadas diretamente aos meios políticos e militares, também são respeitados por classes mais baixas.
§  Vaishas: as funções dos vaishas se restringem à agricultura e o comércio, portanto, é uma casta extremamente importante.
§  Shudras: assim como os vaishas, não é uma casta que está no topo, mas é essencial. Composta por operários, artesãos e camponeses. Conquistaram a permissão para conhecer os ensinamentos hindus há pouco tempo.
§  Dalit: os dalits não fazem parte das castas oficiais, são mais como uma clandestina. São considerados dalits todos aqueles que violaram o sistema de castas, que “pagam” o preço desta violação com trabalhos em esgotos, lixo e manejo de mortos. Uma pessoa rebaixada a dalit leva consigo todos os seus descendentes. É considerada a classe mais injustiçada da Índia.
§  Jatis: são as pessoas que não se enquadram em nenhuma das castas já citadas antes. Um jati geralmente exerce a função herdada de seus progenitores, que nunca é uma profissão de destaque, por exemplo. Mas assim como os dalits, não fazem parte do regime de castas “oficial”.
A origem do sistema de castas é certa. Segundo o hinduísmo, vem de Brahma, a divindade criadora do universo, mas parece ser proveniente da divisão entre os migrantes arianos - subgrupo dos indo-europeus que povoou a Península da Índia por volta de 1600 a.C., vindo do norte, pelo Punjabe - e os nativos (dasya), que se tornaram escravos. As primeiras referências históricas sobre a existência de castas se encontram em um livro sagrado dos indianos, o Manue, possivelmente escrito entre 800 a.C. e 250 a.C..
Apesar do sistema de castas ter sido rejeitado pela Constituição Indiana de 1950 (devido à pressão de políticos ocidentalizados), ele continua a fazer parte da cultura da Índia moderna. Actualmente, no hinduísmo, existem mais de 3.000 sub-castas não-oficiais.
Há pensadores, como o indologista Alain Daniélou, que consideram o sistema das castas como social e culturalmente válido e justificável no contexto indiano, uma forma muito eficaz de preservar certas subculturas e certas profissões transmitidas geracionalmente, sendo as recentes tentativas de o destruir um verdadeiro caso de etnocentrismo, um genocídio cultural da sociedade indiana, levado a cabo pelas potências ocidentais neocolonialistas.
Fora do sistema das castas, também existem os Adivasis (povos tribais) e os Mechhas (estrangeiros).
Representação das quatro principais castas do hinduísmo em torno do deus Ganesha.




Inicialmente, as castas teriam surgido ligadas aos guna predominantes nos indivíduos. Assim, aqueles em que sattva predomina são inclinados às actividades espirituais, à filosofia, à literatura, às artes, às ciências e ao conhecimentosacerdotes, yogis, mestres espirituais (gurus), eremitas, filósofos, astrólogos, cientistas, escritores, historiadores, artistas e poetas (brâmanes).
Rajas inclina naturalmente a actividades enérgicas, agressivas, à conquista de coisas (terras, riquezas) e pessoas (domínio dos outros), à aversão à pobreza e à modéstia, à busca da fama e da notoriedade — guerreiros e governantes (xátrias) e comerciantes, proprietários de terras, artistas (vaixás).
Tamas inclina à passividade, à inércia, à falta de ambição, à ignorância, ao medo de assumir responsabilidades e riscos, a viver o dia-a-dia em iludido contentamento, em ocupações humildes, repetitivas e cansativas, deixando-se conduzir pelos mais fortes e enérgicos — artesãos, operários, camponeses (sudras).
O sistema de castas é um mecanismo de estratificação social dos membros da sociedade hindu. É baseado na crença milenar hinduísta de que as pessoas nascem com destino e posição determinadas na sociedade.
Nas castas se nascem e nelas se devem permanecer, para que se cumpra o dharma (a Justiça) e se apague o karma, ou os “nós” que o prendem na Roda de Samsara (encarnações no plano físico). Então, não há possibilidade de progresso e ascensão social por esforços próprios. É tirada a esperança aos miseráveis e desfavorecidos, como também a possibilidade aos mais ricos de ajudarem aos mais pobres também, por sofrerem intimidação de suas castas e ameaça de expulsão, o que equivale à exclusão da sociedade.

Estima-se que as castas tenham surgido com a invasão dos Árias à Índia. Os árias eram tribos indo-européias que conquistaram a Índia há alguns milhares de anos. O sistema de castas, propriamente dito, teria surgido por volta de 850 a.C., e as primeiras  referências documentais datam do  período entre 600 a.C. e 250 a.C. Se apresentou como uma forma de segregar os invasores árias (de pele branca, indou-europeus) dos nativos indianos, chamados de dasas (ou escravos, de pele escura). Poderia mesmo comparar o sistema de castas hindu ao de um apartheid, mas com muito mais poder, pois se fundamenta em tradições religiosas antiquíssimas, milenares. E todos sabem como o povo hindu é religioso e tradicional. Se trocarmos em miúdos, até na Índia os europeus mandam, e há muito mais tempo…

As castas são tidas como criadas de partes do corpo de Brahma, o deus supremo do hinduísmo. Temos no alto da hierarquia os Brâmanes (sacerdotes, religiosos e sábios), que representam a boca de Brahma. Originados dos braços, termos os Shátrias (governantes, dignitários e militares).

As pernas de Brahma teriam gerado os Vaysias (comerciantes e artesãos), e dos pés teriam saído os Sudras (agricultores e servidores pobres). E da poeira sob os pés de Brahma, começaram a existir (subsistir seria o certo) os Dalits (os “intocáveis”), que era a parte da criação de Brahma que é subestimada como nem sendo humana.

Apesar de todas as manifestações de órgãos humanitários, ao longo da história recente, tendo como ícone pelo fim da discriminação de castas o grande Mahatma Ghandi, o povo, inclusive os marginalizados Dalits, são muito apegados às suas tradições religiosas, mesmo que tais tradições tenham sido trazidas por povos não-indianos. Preferem se resignar aos maus tratos de toda a sociedade do que correr o risco de, por exemplo, reencarnarem em uma árvore ou animal. Nem mesmo com a Constituição de 1947, logo após a independência da Grã-Bretanha, houve significativo avanço nos direitos dos Dalits excluídos da Índia. Muito pelo contrário: a resistência manifestada pelo povo em defesa das tradições, tão excessivamente rígida, criou um clima de maior tensão ainda contra os Dalits.

As escrituras védicas (livros sagrados dos hindus) contém os preceitos básicos para os membros de cada casta. O membro de uma casta já nasce sabendo o que pode comer, o que pode vestir, qual profissão pode seguir e com quem pode se casar. Não há como escapar às rédeas das castas. A filha de um comerciante que se atreva a desdenhar o noivo que lhe foi destinado (muitas vezes, desde a infância) pode ser expulsa de sua casta, o que equivale a se tornar uma dalit.

E como vivem os dalits?

Segundo a tradição hinduísta, os dalits são a sujeira da sociedade, impuros por natureza (talvez uma segregação velada pela cor da pele dos escravos). Eles são a escória segundo a religião. Até mesmo os próprios dalits nutrem essa crença e toleram os ultrajes e crimes cometidos em nome da tradição. Segundo eles, a esperança é de que, suportando os ultrajes e impropérios contra eles, pacientemente, poderão, numa próxima encarnação, merecer nascer numa casta mais elevada.
Os dalits não podem comer o mesmo tipo de alimento dos membros de outras castas, e devem se alimentar em louças quebradas. Suas vestes são as herdadas dos cadáveres ou de outros dalits.




Não podem beber água da mesma fonte ou corrente dos outros, pois poderiam poluí-la. Só podem se casar com dalits, obviamente. Não podem tocar em ninguém de outra casta, nem mesmo a sua sombra pode “tocar” a sombra de outra pessoa.
Não devem estudar. Não podem entrar em lugar algum onde esteja um membro de outra casta nem em templos onde haja um religioso (brâmane). Na prática, isso os impede de praticar a fé, pois sempre, em todos os templos, há um religioso em serviço.
Como profissão lhes são reservados os serviços considerados impuros, indignos e degradantes: lida com cadáveres (humanos e animais), limpeza de fossas e esgotos, varredura de ruas e acessos exteriores, coleta de lixo de todos os tipos. Resumindo: são tratados como lixo e devem ser mantidos em lugares próprios para o lixo, para o que é descartável, sujo e imundo. Vivem nas fossas e esgotos, pois são considerados a merda da sociedade, para os quais um “puro” não deve olhar, dos quais deve-se manter distância, em local seguro, dos quais precisam se esconder.
Vários crimes são praticados e tolerados pelas autoridades, em nome dos costumes. Mulheres dalits são estupradas e depois queimadas vivas, por serem elas tidas por culpadas do próprio estupro. Em casos de calamidades públicas, como nas enchentes das monções, que anualmente castigam a Índia, os dalits não recebem qualquer ajuda, e isso é encorajado pela população. Hipocritamente, dizem que isso é por caridade, para que morram e tenham seus sofrimentos, ou karma, abreviados.

Este é um depoimento de um cidadão indiano ao National Geographic:
“Girdharilal Maurya acumula pecados. Tem um mau karma: por que outra razão teria nascido numa casta intocável se não fosse para pagar pelas vidas passadas? Reparem, ele é um curtidor de peles: segundo o direito hindu, os trabalhadores dos curtumes tornam-se impuros, e as outras pessoas devem evitá-los e ultrajá-los. A sua indecorosa prosperidade é um pecado. Quem este intocável pensa que é para comprar um pequeno lote de terreno nos arredores da aldeia? Ainda por cima, atreveu-se a reclamar junto da polícia e das outras autoridades, exigindo servir-se do novo poço. Teve o que merecem os intocáveis: uma noite, quando Girdharilal saiu da cidade, 8 homens da casta superior ‘rajput’ foram à sua casa, derrubaram as vedações, roubaram o trator, espancaram a mulher e a filha e queimaram a casa.”

Em outro caso, recentemente, em junho de 2006, um repórter da revista Capricho publicou uma entrevista com um intocável. O entrevistado revelou que seu irmão, por ter invadido o quintal de um vizinho de casta Vaysia, foi castigado, sendo amarrado a uma árvore junto com seu pai: depois de uma tremenda surra, toda sua família foi obrigada a assistir as punições, enquanto o jovem era lentamente devorado por formigas selvagens.





Na prática, o Governo indiano se recusa a apurar e punir casos corriqueiros como esses, pois, como mostra um censo, 80% da população ainda apóia e pratica os preceitos para as castas, inclusive os dalits.

Falamos apenas das principais castas, mas estima-se que haja em torno de 6.400 castas, entre grupos rurais e regionais, cada qual com suas regras e rigores.


Trabalhadores "dalits" - os párias da sociedade hindu


Embora a palavra "casta" tenha sido introduzida pelos portugueses por volta do século XV dC, a principal característica do sistema surgiu no final do período védico. Dois termos antigos - "Varna" e "Jati" - são usados na Índia para definir o sistema de castas.





"Varna" quer dizer, literalmente "de cor". Por volta de 600 aC, este tornou-se o padrão de classificação da população na Índia. À margem dessa estrutura social estão os "párias", os sem casta ou “intocáveis”, hoje chamados "dalits", "haridchans" ou "haryans". Com o passar do tempo, tem havido centenas de subdivisões no sistema, que não param de se multiplicar.
Jati - Existem milhares de diferentes grupos Jatis em toda Índia. Nenhum destes grupos se considera como igual a qualquer outro grupo, mas todos são partes de uma hierarquia local ou regional. Estes não são organizados em qualquer sentido institucional, e tradicionalmente não havia um registro formal do status da casta. Enquanto indivíduos, acham impossível mudar de casta ou subir na escala social, mas alguns grupos por vezes tentaram ganhar reconhecimento das castas mais altas pela adoção das práticas dos Brâmanes, como o vegetarianismo. Muitos costumam ser identificados com atividades particulares e as ocupações costumam ser hereditárias.
Os “párias” ou "dalits" (‘sem casta’), são totalmente relegados para fora da sofisticada sociedade hindu, chamados cruelmente de “intocáveis” porque não devem jamais ser tocados pelos membros das castas (isso os contaminaria). Recebem apenas os serviços considerados impuros ou imundos, geralmente associados com os mortos (humanos ou animais) ou com excrementos. Só lhes é permitido lidar com o lixo, com o esgoto, com amontoados de cadáveres e outros empregos que lhe mantém em constante contato com aquilo que o resto da sociedade indiana considera nojento e desagradável. Mas não são apenas as suas ocupações que são consideradas como coisas nojentas e que não devem ser feitas por alguém: os próprios párias são considerados individualmente sujos, e assim não podem manter contato físico com os "limpos" nem com as partes “puras” da sociedade. Vivem isolados. Ninguém pode interferir na sua vida social, pois os intocáveis são os últimos dos últimos, considerados menos que humanos.
O membro de uma casta é definido simplesmente pelo nascimento. A crença ferrenha na reencarnação faz com que os hindus acreditem que os méritos conquistados nas vidas passadas é que determinam a casta em que o indivíduo nasce, por isso não há nenhum problema em se agir de acordo com o que consideram a "justiça divina". Não há perdão, não há crescimento espiritual possível nesta vida.
Desobediência às regras das castas, tais como a recusa a um casamento arranjado, fazem com que o indivíduo seja desligado da casta em que nasceu. E como ele não pode, em hipótese alguma, fazer parte de outra casta, tecnicamente essa pessoa se torna um “sem casta” ou “pária”, que, como visto, é o pior destino imaginável para qualquer cidadão indiano. Em muitos lugares, principalmente no interior, isto pode significar que essa pessoa não poderá continuar a trabalhar e a conviver em sociedade, mas se tornará para o resto da vida uma espécie de lixo humano que é impiedosamente desprezado por todos, de religiosos a agnósticos.




A luta de Gandhi após a independência da Índia; a pressão exercida pela ONU e por inúmeros órgãos humanitários internacionais, as muitas leis que foram criadas como tentativas de eliminar ou ao menos amenizar a desumanidade do sistema de castas (ilegal desde 1947), tudo foi inútil diante da tradição firmemente arraigada por milênios, e o sistema subsiste. O sistema de castas é uma das bases do hinduísmo. - A religião se torna, então, um poderoso elemento social disciplinador e apaziguador: resignação é a palavra-chave na postura moral do indivíduo hindu.
Para se ter uma idéia da gravidade da situação, quando os tsunamis de Dezembro de 2004 tragaram a costa do Estado indiano de Tamil Nadu, imaginava-se que a tragédia e a morte agiriam como niveladoras sociais. Mas os esforços de reabilitação e o envio de ajuda econômica não conseguiram superar a discriminação sócio-racial que impera na Índia. As vítimas de Tamil Nadu, o Estado indiano mais devastado pelos tsunamis, esperaram ansiosos a ajuda do governo e de agências humanitárias para poderem reconstruir suas vidas, mas os intocáveis não receberam nada por parte das autoridades locais!
Oficialmente, dez mil pessoas morreram, por absoluta falta de cuidados, nessa ocasião, e ninguém na Índia considerou isso chocante. "Não existe nenhum caminho até nossa aldeia. Ninguém vem nem procura vir aqui", relatou um “intocável” de um distrito de Tamil Nadu à agência de notícias internacional Interpress - MW Global, na época.
"Paul Raj passou 21 anos sem ser abraçado por ninguém – nem pela própria família – pela simples razão de ter nascido numa casta que, na Índia, representa a escória da sociedade. Quando ele tinha 8 anos, encontrou seu irmão amarrado a uma árvore, com as pernas cobertas de formigas vermelhas. O garoto estava sendo punido por ter entrado no jardim de um vizinho. Paul estava com o pai, que se ajoelhou e, chorando, começou a pedir clemência. A reação do dono da casa foi bater no pai e manter o castigo.

'A esposa do dono jogava açúcar na perna dele para atrair mais formigas e os filhos dela ficavam rindo em volta. Ficamos ali parados, vendo meu irmão ser comido vivo, sem fazer nada'. A cada 6 meses, ele conseguia encontrar seu pai por meia hora, e escondido. (...)
Mas o dia mais emocionante da temporada de Paul em Londres foi quando a chefe do programa de estágio o abraçou. Foi o primeiro abraço que Paul recebeu na vida, e logo de alguém que nem era da sua família (ele e sua noiva Shilpa, por exemplo, apesar de estarem juntos há 6 anos, nunca se beijaram, nem na bochecha). "Quando percebi que estava sendo abraçado, não queria mais largar. Acabei caindo no choro.' - declarou o rapaz...".
Revista Capricho (Junho/2006)
Isso foi há pouco mais de um ano! Não estamos falando de ocorrências de centenas de anos atrás, mas de coisas que acontecem no presente, hoje, agora.
Alguns dados oficiais*:
·        # A cada dia, três mulheres dalits são estrupadas (uma parte é depois queimada até a morte, como se a culpa pelo estupro fosse delas mesmas);
·        # A cada hora, em média, duas casas de dalits são queimadas;
·        # A cada hora, dois dalits são assaltados;
# 60 milhões de Dalits são explorados através de trabalhos forçados.
·        # 66% dos dalits são analfabetos;
·        # A taxa de mortalidade infantil dos dalits é perto de 10%;
·        # 57% das crianças dalits de menos de quatro anos de idade estão muito abaixo do peso;
·        # Na Índia de hoje existem 300 milhões de dalits;
* Fonte: Organização Internacional Dalit Awakaning.
As estimativas atuais apontam que existem em torno de 6.400 castas(!) na Índia de hoje. Cada uma funciona como um grupo separado em função das altas barreiras sociais. Percentualmente, as castas na Índia se classificam da seguinte forma:
1.      Castas altas = 15,4% (brâmanes, casta sacerdotal);
2.      Castas atrasadas = 56,6%;
3.      Dalits = 18,1%;
4.      Tribais ou Advasi = 9,5% (tribos suplementares que algumas vezes não são considerados parte da estrutura de castas, mas geralmente são influenciados pelo pensamento de casta);
5.      Outros = 0,4% (não são considerados parte do sistema de castas - entre estes estão os cristãos sírios e os refugiados Afegãos, iranianos e outros).



Protesto recente de mulheres da Índia contra o sistema de castas














Concretamente, o Estado da Índia ainda se recusa a tomar providências para deter, na prática, com ações efetivas e punição aos frequentes crimes bárbaros e excessos cometidos, a observância do sistema de castas pela sua sociedade. Leia abaixo o depoimento de um cidadão indiano para a National Geographic:





"Girdharilal Maurya acumula pecados. Tem um mau karma: por que outra razão teria nascido numa casta intocável se não fosse para pagar pelas vidas passadas? Reparem, ele é um curtidor de peles: segundo o direito hindu, os trabalhadores dos curtumes tornam-se impuros, e as outras pessoas devem evitá-los e ultrajá-los. A sua indecorosa prosperidade é um pecado. Quem este intocável pensa que é para comprar um pequeno lote de terreno nos arredores da aldeia? Ainda por cima, atreveu-se a reclamar junto da polícia e das outras autoridades, exigindo servir-se do novo poço. Teve o que merecem os intocáveis: uma noite, quando Girdharilal saiu da cidade, 8 homens da casta superior 'rajput' foram à sua casa, derrubaram as vedações, roubaram o trator, espancaram a mulher e a filha e queimaram a casa."
Saiba mais aqui.
Girdharilal após ter recebido o castigo por ter se atrevido a comprar um pequeno lote de terra














No "Sistema de Castas" não há compaixão, não há possibilidade de ascensão social nem melhora para o ser humano enquanto indivíduo, de espécie alguma. Não há amor ao próximo, se esse próximo pertencer a uma casta inferior ou se for um "intocável". Acredita-se piamente que os sofredores estejam naquela situação porque merecem aquilo. Além disso, crê-se que eles mesmos terão a oportunidade de conquistar melhores condições numa próxima vida, desde que cumpram bem o seu papel na vida presente. - Em outras palavras, se forem subservientes e aceitarem se submeter a todo tipo de humilhação e sofrimento infligido, sem soltar nenhum gemido. Se aceitarem ver suas filhas sendo estupradas e queimadas vivas. Se aceitarem tudo e se comportarem bem, como bons sacos de lixo que devem ser.




Mas notável é que os próprios oprimidos, em sua grande maioria, também acreditam no sistema, e assim, no geral, preferem se submeter a tudo. Um excelente exemplo de como um sistema de crenças é capaz de levar seres humanos e nações inteiras a comportamentos insanos, à tirania e à crueldade extrema.
Fontes e bibliografia:
PEIRANO, Mariza G. S. Dados - Dados, Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro/ Sociedade Brasiliera de Instrução, 1987, p. 359;
Portal National Geographic: em http://www.nationalgeographic.pt/articulo_texto_iframe.jsp?id=1212728, acesso em 03/01/2008;
Revista Capricho, Acervo Abril. 06/2006;
OrePelaÍndia.Com;
AmorCósmico.Com.



NEO SISTEMA DE CASTAS OCIDENTAL – O ENCASTAMENTO SOCIAL

Isto faz lembrar-mo-nos das crenças que cultivamos no nosso liberalismo capitalista ocidental de que as pessoas são livres para prosperarem e aquelas que não enriquecem são culpadas da sua preguiça e desinteresse por si próprias, e que elas deveriam trabalhar duramente para enriquecerem, e acreditarem que os ricos são abençoados pelo seu esforço e inteligência.
Assim acreditamos que, no geral, o sistema capitalista é justo e remunera bem a todo o esforço do trabalho duro e honesto.
Da mesma forma que na religião Hindu existe religiões neo-pentecostais que pregam a cura das doenças e a cura da pobreza como recompensa espiritual pela doação de dinheiro e bens para a Igreja em nome dos seus sacerdotes, e que a pobreza e a doença são aspectos do mesmo mal espiritual de que os pecadores sofrem quando estão sem a purificação espiritual ministrada pelos representantes divinos.
Alguma semelhança com o Hinduísmo?
Uma análise transversal do sistema de castas da Índia nos traz a consciência de que este e outros quaisquer sistemas culturais não existem no vácuo, e nenhum deles é vazio e inútil. Todo sistema cultural surgiu e evoluiu dentro de condicionantes, condições, conjunturas, constructos, épocas, necessidades de controles sociais, influências, acumulação cultural e científica, religiões, economia, recursos naturais, constrangimentos, circunstâncias, limitações, potencialidades, ideologias, filosofias e teleologia.
O que determina o futuro de um indivíduo em qualquer sociedade?
São as condições que já lhes são dadas, mais as circunstâncias do meio social e um pouco de suas potencialidades individuais. Nada mais, além de sorte, é claro (um tanto do acaso, se quiserem).
Seria difícil, e seria muita ficção, supor que o filho de um industrial fabricante de salsichas desejasse se transformar em fabricante de automóveis.
Ao herdar o império de fábricas de salsichas ele herda além de prestígio social, capital intangível da marca tradicional de salsichas, herda uma riqueza incalculável em enorme capitais específicos que são: rede de fornecedores de suprimentos para produzir salsichas, rede de distribuidores de seus produtos, assim, automaticamente ele se vê compelido, obrigado, a dar continuidade aos negócios herdados de salsichas. Qual é a diferença para um sistema de castas?
Um filho de um grande jogador de futebol tem de graça herdado de seu progenitor toda a rede de contatos, de patrocinadores, a agenda de promotores e patrocinadores ligados aos negócios do futebol em vários estados, municípios, capitais, metrópoles, países, instituições multilaterais transnacionais, bancos, comerciantes, celebridades, mídias de massa, admiração de fãs clubes, fanáticos; e o que fazer com todos estes capitais tangíveis e intangíveis: seguir a carreira de cirurgião, ou de advogado?
Não seria isto um contra-senso, prejuízo econômico, jogar no lixo todo este capital intelectual, financeiro, humano, social por simples capricho? Então o jovem é compelido pelas condições impostas pela herança a seguir carreiras assemelhadas e afins; isto não nos lembra o sistema de castas da Índia?
Onde está a racionalidade do sistema de castas?
Da mesma forma que o jovem deserdado e sem capital a herdar, sem nome e sem passado a lhes fornecer uma perspectiva viável de seguir um futuro promissor, assemelhando-se no sistema capitalista liberal a um pária ou a um Dalit, sem futuro, condenado a pequenos trabalhos para estudar e conseguir projetar-se no mundo do trabalho ou das artes ou dos esportes a partir do seu próprio esforço individual é atirado a sua própria sorte no mundo capitalista.
O mundo capitalista liberal aprendeu a receber e a incentivar a que os filhos “de” venham a dar continuidade às atividades econômicas, esportivas, políticas, artísticas e intelectuais de seus ancestrais, assim espera-se que os descendentes de Jorge Amado sigam com as portas abertas, escancaradas, das editoras de livros a esperar que um deles se digne a escrever alguma asnice inteligível, pronta para ser revisada e anabolizada por algum ghost writer, desde que carregue embutido o sobrenome famoso do ancestral, da mesma forma as gravadoras de mídias musicais esperam ansiosas por algum descendente musical de Caetano Veloso, Gilberto Gil, com sorte grande, quem sabe, um descendente de Fábio Jr. ou de Roberto Carlos para cumprirem com o desiderato que está no inconsciente coletivo sobre as castas invisíveis que existem na nossa sub-cultura, sub-liminarmente.
Vamos vivendo a nossa simulação de democracia das castas perpétuas, subliminares, encasteladas na estrutura social brasileira metaforizada nas castas invisíveis - hereditárias dos: fazendeiros, sem-tetos, sem-terra, empregadas domésticas, médicos, engenheiros, comerciantes, banqueiros, rentistas, professores, artistas, esteticistas, tecnólogos, motoristas, taxistas, cartoriais, servidores públicos, políticos, hoteleiros, padeiros, açougueiros, aviadores, aeronautas, pescadores, contraventores, ambulantes, quiosqueiros, feirantes, vendedores, caixeiros viajantes, ourives, tapeceiros, pedreiros, músicos, promoteurs, desportistas, juristas, advogados, contadores, administradores, automobilistas, fiscais, policiais, militares, religiosos, enfermeiros, mecânicos, eletricistas, cabeleireiros, barbeiros, armeiros, joalheiros, fotógrafos, jornaleiros, jornalistas, médicos, publicitários, corretores, doceiras, cozinheiros, garçons, artesãos, vidraceiros, socorristas mecânicos, oficineiros, lojistas, atacadistas, frotistas, marceneiros, moveleiros, industriais, tratoristas, caseiros, traficantes, bicheiros, sambistas, roqueiros, marinheiros, contrabandistas, prostituta, sindicalistas, modelos manequins, balconistas, vigilante, cobrador, motorista.

Porque a herança que receberam diante das circunstâncias de sobrevivência que lhes são dadas são heranças compulsórias material, imaterial, intangível, tangível, financeira, prestígio, rede de contatos, agenda social, contratos, confiança, fama, expectativas, clientes, fornecedores, apoiadores, amigos formando um conjunto extremamente forte o suficiente para determinarem o destino do herdeiro, definitivamente, de forma inflexível e irremediavelmente amarrado e comprometido com o passado.
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