sábado, 11 de junho de 2022

Elenco sofístico

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político
Elenco sofístico
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Em matéria de debates a disciplina da homilética, e por contágio a prática da sofística, não deixa de ser um recurso para incendiar o debate de quem não busca a verdade apenas na intenção de impressionar os interlocutores com frases e palavras que parecem racionais e correlacionadas, as escolas gregas se dividiam entre a dialética, a lógica heurística ou atomística ou ontologia, e a escola do discurso prosaico chamado de retórica.

Devemos lembrar que argumentar não é desenvolver o debate em busca da verdade, ao contrário, a retórica visa calar o antagonista, com tudo o que isso pode significar em prejuízo da busca da racionalidade e da verdade.

A retórica é simplesmente a arte de constituir um conjunto de argumentação do convencimento do outro, sem necessariamente construir uma relação com o encadeamento lógico, ou seja, é a habilidade de construir uma sequência de argumentos convincentes de modo literal.

Ao contrário da retórica, a dialética procura construir teoremas e proposições apriorísticas de modo dedutivo ou indutivo e demonstrar através da contradição todos os aspectos da argumentação expondo as suas fragilidades e demonstrar que os fundamentos resistem às refutações sem se preocupar em esconder as fragilidades e falsidades que escondem o raciocínio em análise.

Os sofistas, adversários intelectuais de Platão e Sócrates, defendiam que não era necessário um conhecimento das essências, quando se tivesse à disposição os artifícios argumentativos da linguagem para convencer os interlocutores daquilo que se quisesse. 
É nesse sentido que o sofista Protágoras afirma que o homem é a medida de todas as coisas, ou seja, que é o próprio ser humano que define o que é verdade ou não com base de sua eloquência.

O diálogo Górgias, escrito por Platão (Górgias foi um dos sofistas mais bem sucedidos), evidencia a característica sofística de lidar apenas com as superfícies daquilo que é falado e descrito
Para Platão, enquanto o processo dialético, essencial para ter-se um conhecimento válido, buscava aprofundar-se nas essências das coisas, os sofistas buscavam apenas fazer com que as coisas aparentassem ser do modo que eles queriam por meio da retórica.
Os sofistas procuravam sempre construir um elenco sofístico que consiste em acumular premissas verdadeiras quase sempre, mas que não guardam qualquer relação lógica entre si e cuja conclusão não guarda relação de síntese com as preliminares mas acabam parecendo lógicas por causa da sonoridade, da rima, da silabação, da semelhança de tema, de metonímia, de metáforas, de sinédoques então o jogo elegante de palavras harmoniosas esconde a perfeita falta de correlação lógica entre as premissas e a conclusão, é apenas um jogo elegante de palavras.
o Sofista começa assim: no dia da árvore eu não passo com uma árvore; no dia dos mortos eu não passo o dia com um coveiro; no dia dos namorados eu não preciso passar com um namorado.
O objetivo é se safar da pertinência do dia dos namorados sem namorado, então o argumento que se vale é construir uma referência entre as datas das efemeridades e a data dos namorados. 
Na verdade quer se justificar a ausência do namorado no dia dos namorados comparando a situação do solteiro com a situação da árvore sem companhia e do coveiro como companhia compulsória na data dos mortos.
Apesar desta sustentação oral não ser coerente serve para causar a sensação pela preparação para o grande final da apoteose verbal sugestiva de que todos podem ficar sem companhia nas datas de efemérides inclusive quem não tem namorado.
O defeito do elenco sofístico é que se vale de uma epopeia com se fosse uma lenda ou mito, são narrativas que embora vazias se valem da forma plástica de estilo de linguagem da poesia e do poema, das crenças e das tradições para emprestar uma credibilidade que não pode ser derivada da lógica nem da racionalidade que é seu ponto fraco, embora não possa ser verdadeira, parece verdadeira.
Os aviões foram utilizados como arma letal quando arremessados contra as torres do World Trade Center em 11 de setembro de 2001, mas não se proibiu a utilização dos aviões pois eles são necessários para encurtar as viagens entre os continentes de semanas de viagens de navios para algumas horas de voo; os automóveis foram arremessados contra pedestres propositadamente para matar pessoas em ações premeditadas em várias avenidas pelo mundo, mas os automóveis não foram condenados nem considerados armas letais e sua eliminação não foi cogitada porque transportam pessoas melhor do que os cavalos e bicicletas; então as armas de fogo que podem proteger a civilização dos inimigos e das feras animais no distante e selvagem meio ambiente onde um urso feroz ou um leão poderia despedaçar uma pessoa vulnerável pode ser eventualmente ser usada para um massacre, neste caso a arma se torna a única responsável  e deve ser eliminada. 
Melhor do que isso com um elenco sofístico mais perfeito teríamos que pensar em algo absoluto com uma coleção de idiotices impensável, insuperável, mas sempre é possível superar as habilidades de um tolo quando se quer construir devaneios atraentes e convincentes, o aquecimento global contrariando a segunda lei da termodinâmica e o terraplanismo sempre vão nos encher de esperanças sobre a capacidade de criar elencos sofísticos eloquentes e grandiosos.



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