segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Terra Plana

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

 

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Ainda vão ser escritos milhares de livros sobre este fenômeno midiático que somente existiu nestas dimensões e proporções graças a bolha virtual da lacrolândia das redes sociais na internet.

 

Ainda não sabemos como começou e por quê e como atingiu proporções e repercussões universais um tema que deveria nunca jamais ter sido colocado na agenda mundial, quando se trata de fatos científicos, que independem de opinião ou da fé.

 

A epistemologia científica nunca foi tão evidente sobre o que é a discussão de que é ciência e de quais são os métodos e o ethos científico.

 

O Antropólogo norte americano Robert Merthon em seu tópico sobre a verdadeira ciência lembrou que ciência também possui seus dogmas entre eles o de ser o único caminho da busca da verdade, e por isso sem o prová-lo acaba se tornando em uma declaração sobre si mesma em um dedutivismo visto que a fé na ciência cegamente é por si só a negação dos princípios científicos, a ciência, segundo Karl Popper, deve ser a primeira instância para desconfiar de seus próprios métodos e de seus resultados daí a criação do método científico chamado hipotético dedutivo onde todo conhecimento científico sempre será provisório e sempre será superado e descartado em algum momento no futuro.

 

Se valendo deste processo de transição de paradigmas provisórios e temporais do estágio de conhecimento científico pessoas que desconhecem a epistemologia da ciência imaginam que fazer ciência é ter a permissão e a liberdade de duvidar de tudo a qualquer tempo, sem saber que isso acontece quando a dúvida científica é uma dúvida estruturada, e não apenas uma simplória teimosia.

 

Existe um espaço de observação, e de experimentação, de descoberta, de verificação, de hipóteses e de verificabilidade, e, mais importante, de refutação tudo dentro de métodos aprovados e aceitos como o teste do qui quadrado onde existe a metodologia específica de coleta de amostra de dados, de seleção de amostra, de análise da amostra, de elaboração de tabulação dos dados, e de conclusões e validação sobre os resultados.

 

Existe o teste de hipótese que antecede a coleta de dados porque não existe pesquisa sem teleologia que é uma pressuposição anterior à elaboração dos procedimentos de busca de resposta, portanto, para se afirmar ou para se infirmar algo é preciso a hipótese preliminar.

 

Por isso algumas práticas humanas não merecem o nome de científica nem de ciência, como a medicina que não consegue cumprir com os requisitos da metodologia para se enquadrar como ciência, por mais que isso possa surpreender as pessoas que não fazem parte da comunidade científica, o senso comum julga que a medicina seja uma ciência, na verdade muitas práticas humanas não são ciências stricto sensu, como a Geografia, a Psicologia, a História, o Direito, Pedagogia, Psicanálise são todas para-ciências ou metaciências.

 

Para que o terraplanismo merecesse uma importância como objeto de estudo precisaria estar baseado em observações e dados experimentais e não apenas na simples vontade teimosa em protestar e contestar a ciência para apenas provocar uma resposta contestatória baseadas em experimentação e fatos já conhecidos e ignorados brutalmente e propositalmente pelos teimosos defensores de crenças as quais a ciência deveria se posicionar com os seus métodos e observações meticulosas.

 

A lista de objetos de estudo científico só tem aumentado tentando provocar uma reação científica que de modo algum merecem uma olhada pela prática empírica como além da questão da terra planície também trouxeram a diversidade sexual, a caminhada de um homem em solo lunar, o aquecimento global, a democracia como modelo único universal, os direitos humanos universais, equilíbrio ecológico, evolução das espécies, competição das espécies, a lista de problemas jogados no berço da ciência só tem aumentado mesmo contra todas as indicações de que não fazem parte do mundo objetivo empírico.

 

A questão da epistemologia vai muito além do que a capacidade do indivíduo comum pode compreender quando adentra o mundo quântico da física onde a varável tempo que sustenta toda a física clássica se vê de repente sendo destruída quando a causalidade sofre consequência imprevisíveis quando fenômenos como a fenda dupla de Fresnell ou a quantização da energia de Max Plank ou princípio da incerteza de Heisemberger quebram todas as nossas expectativas que surpreenderam a alguém menos do que Albert Einstein.

 

De repente nos vemos num processo onde se discute na rua a qualidade de tratamentos com cloroquina e hidroxicloroquina sem tabulação de dados sem amostragem sem testes estatísticos sem qualquer princípio metodológico, e na política de repente pessoas passam a agir em interesse puramente contencioso obrigando pessoas a agirem irracionalmente e contra os seus próprios interesses, aí vemos a mídia odiar a cloroquina criação do "dr Bolsonaro" e o Bolsonaro ogerisar as vacinas do laboratório do governador de São Paulo, "Dr Doria", criador e inventor defensor das vacinas anti cv. 


Assim Lula pode chamar Campinas ou Pelotas de "fábricas de boiolas" e as mulheres de "grelo duro" não os transformaram em homofóbico e fascista - na interpretação da bolha canhota -, por outro lado a negativa de poder estuprar a deputada Maria do Rosário transforma o excitante não-estuprador Bolsonaro em estuprador porque declarara que não poderia estuprá-la.

 

Quem definiu a impropriedade do tratamento precoce da Cloroquina foi o "instituto de pesquisa do STF", pois como é praxe no mundo da medicina os tratamentos possuem estudos que vão de um extremo ao outro de eficaz ao contra-indicado sobre o mesmo complexo químico terápico, basta ver as bulas na posologia e contra-indicações certamente que nenhum remédio seria utilizado se as pessoas se ativessem estritamente às recomendações a diferença entre o remédio e o veneno é a dose e as condições de tratamento e do paciente. Elementar.

 

As opiniões pessoais e o momento acalorado estão transformando ou exacerbando o lado irracional da humanidade nos remetendo aos piores temores sobre a capacidade humana de entender e conviver com as diferenças, o slogan da ONU é todos somos iguais, ao mesmo tempo em que a natureza está acima da própria humanidade e de sua sobrevivência nem que para isso precise elevar a voz de uma menina doente com autismo em portadora de profecias sobre a sobrevivência da humanidade por causa da extinção das tartarugas do projeto Tamar.

 


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