seção de comentários sobre temas sociais do professor politólogo e filósofo Roberto Rocha "o Neguinho"
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terça-feira, 5 de agosto de 2014
Ditadura ou democracia?
disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha
Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político
Ditadura versus Democracia
A Democracia é uma opção de uma nação. Democracia é uma instituição de altíssimo custo. Certamente uma ditadura é mais barata. O custo Financeiro de uma Ditadura é muito inferior ao de uma Democracia. Mas o custo em credibilidade de uma Democracia é infinitamente menor do que o custo político de uma Ditadura.
O que as pessoas precisam entender e compreender é que quanto mais transparente um sistema de governo mais complicado e corrupto ele parece ser, ao contrário de uma ditadura embaçada não se enxerga a enorme corrupção que existe ali, como em qualquer sistema humano social.
Para se manter no poder o governo é obrigado a garantir a sua governabilidade e a sua governança.
A governança é constituída dos instrumentos e do sistema burocrático que o governo escolhe para dar efetividade ao seu lado administrativo.
A governabilidade é constituída do conjunto de atos, fatos e comportamentos do governo para atingir os seus objetivos econômicos, políticos e sociais, quem sabe, históricos e dos projetos para a nação se o povo tiver tido a sorte de ter elegido estadistas ao invés de governantes, ou pior, de ter escolhido partidários que apenas querem implantar os seus projetos pessoais e ou as suas ideologias supremas.
Assim, para garantir a governabilidade o governante tem ao seu dispor poucas táticas. Pode contar com a simpatia da oposição (impossível), pode então, caso não seja isto possível, obter uma maioria parlamentar permanente, sem precisar da oposição.
Para garantir esta maioria permanente ele dispõe de apenas duas estratégias: cooptar ou corromper.
Para cooptar seus partidários, o governo precisa sempre estar distribuindo favores e verbas aos seus sedentos e insaciáveis aliados políticos.
Para corromper partidários, o governo precisa sempre estar fazendo negociatas secretas, ilegais e imorais para circunstancialmente poder contar com o apoio de seus inimigos e indiferentes aliados de ocasião.
Portanto, a Democracia já nasceu aleijada, como dizia o seu maior adversário o filósofo grego Platão, “sempre a Democracia termina em demagogia”.
A Demagogia é a tentação e a obrigação permanente do governante democrático tentar agradar ao povo que o elegeu para ganhar credibilidade, isto implica que quase sempre o governo é empurrado pelo povo a fazer coisas cosméticas, pouco sérias e pouco profundas que realmente o povo precisa, em lugar disso, as propostas mais fantasiosas, egoístas, superficiais, vazias, demagógicas são aquelas que a população vai exigir, enquanto isso, as obras e atos essenciais vão ficando de lado, porque podem ser medidas antipáticas, incompreensíveis e de longo prazo que o senso comum nunca compreende, como por exemplo, a interdição de uma rua em frente as casas dos contribuintes que fica obstaculizada para a circulação, com barro, lama, poeira, barulho de máquinas para as obras de infraestrutura por longos e torturantes meses e que vai beneficiar e melhorar a vida do próprio morador, e quase sempre ele exige o fim imediato do incômodo, a despeito de estar agindo contra os seus próprios interesses.
Assim o governo Demagógico vai acumulando dívidas públicas, dívidas morais, dívidas de obras necessárias, mas nunca iniciadas para não incomodar o contribuinte imediatista e estúpido, um dia estas demandas estouram nas mãos de outro mandatário muito lá adiante no tempo. Então a obra de investimento em infraestrutura que deixou de ser feita porque ninguém desejava por causa dos efeitos colaterais, que certamente iriam irritar os cidadãos tirando votos e prestígios do governante, estouram quando vem uma forte chuva, quando as tarifas de serviços básicos deixaram de ser ajustadas, então os cidadãos vão acusar justamente o mesmo governo a quem eles impediram de incomodá-los com as medidas necessárias, mas que ninguém estava disposto a aceitar o sacrifício correspondente para deixar o governo agir.
Este paradoxo da demagogia leva sempre o governo ao impasse da governabilidade. Somente estadistas de verdade são capazes de sacrificarem as suas carreiras e imagem para deixarem um legado para o futuro, e se o fizerem certamente não serão reeleitos, e os seus correligionários também. Isto é Democracia. Democracia está prisioneira da demagogia porque o povo é imediatista e medíocre em sua essência humana.
sexta-feira, 15 de março de 2013
TEORIA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha
Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político
TEORIA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO Brasília, 14 de março de 2013 Coordenadoria das Cidades Diretoria do Orçamento Participativo Roberto da silva Rocha, Mestre em Ciência Política pela UnB TEORIA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO INTRODUÇÃO O comunismo de conselhos via nos conselhos operários (Sovietes, na Rússia) como a forma de auto-organização revolucionária do proletariado, tal como se pode ver embrionariamente na Comuna de Paris e posteriormente em 1905, na primeira Revolução Russa, bem como nas diversas tentativas de revolução proletária na Europa, sem falar na Revolução Russa de 1917. Os conselhos operários também seriam as instituições de autogestão social na reorganização comunista da sociedade. Neste contexto, se desenvolvia a crítica aos partidos políticos e sindicatos. Otto Rühle, por exemplo, seria o mais ferrenho crítico dos partidos políticos, não a determinados partidos, mas aos partidos em geral, tal como se vê em seu artigo A Revolução não é Tarefa de Partido. As demandas políticas da população parecem nunca serem plenamente satisfeitas ou atendidas, por que diz o axioma da Administração que “As necessidades humanas seriam infinitas e os recursos materiais e humanos são sempre limitados e contingentes”. Para remediar estas necessidades cada vez mais intensas, maiores, variadas, urgentes e desejadas pelo cidadão é que os arranjos políticos institucionais novos estão sempre surgindo em função de duas questões de base que mobilizam as mentes criativas dos pensadores de teoria no mundo político em função da busca do aperfeiçoamento de duas das mais importantes instituições políticas estruturais na formulação de uma nova definição de cidadania. Estas duas questões fundamentais (de base) são: a) governança; b) governabilidade. Desde as eras do Império Egípcio, passando pelos Impérios da China, Assírio, Inca, vindo depois das experiências detalhadamente registradas sobre as administrações republicanas no Império Romano, e notadamente durante o helenismo com as suas experiências democráticas e republicanas, que os teóricos de sociologia política têm buscado extrair a melhor forma para compatibilizar os sistemas políticos com os regimes de governo em cada civilização, em cada época, partindo de três clivagens geográfico-temporais: mundo ocidental, mundo oriental e mundo novo (Américas). A democracia é o elemento central estruturante deste trabalho. O objetivo ao final é projetar mudanças evolutivas na forma de construção, de processos e sustentação teóricos do modelo cada vez mais utilizado da participação popular indireta representativa-participativa nos chamados mini-parlamentos, ou mini-câmara de proto-vereadores que são as plenárias e fóruns das sessões legislativas locais do Orçamento Participativo. Sendo o Orçamento participativo uma variante de parlamentarismo representativo-participativo, o Orçamento Participativo precisa se espelhar na organização parlamentar tradicional por sê-lo uma forma de organização política parental (simulacro) das câmaras representativas (câmaras de vereadores, câmaras de deputados estaduais, federais e do senado federal), onde os deputados-vereadores (conselheiros do OP, delegados e participantes) das plenárias e fóruns do Orçamento Participativo apresentam e representam as plataformas de propostas comunitárias. Então, por isso, nada obsta que os candidatos aos cargos de conselheiros e de delegados no Orçamento Participativo sejam eleitos pela comunidade depois de realizarem campanhas eleitorais, que defendam plataformas de propostas chamadas prioridades do OP em suas campanhas eleitorais, formem agremiações em torno de propostas (prioridades) fechadas (em blocos dentro da comunidade, distrito, área, cidade, bairro, rua) exatamente como o fazem os partidos políticos e os seus candidatos nas eleições políticas. 1. Representação: o representante não tem poder de decisão. A assembléia manda, o representante obedece. 2. Voto: a discussão em assembléia sempre busca o consenso. Decisões são ratificadas por chamadas ao voto. Caso haja uma polêmica onde o consenso não seja possível, então se pode fazer uma chamada de votos. Neste caso, a maioria vence (por exemplo, uma maioria de 50% mais 1). 3. Bloqueio: num sistema de democracia direta, procura-se preservar a opinião da minoria através deste recurso. Caso a decisão da maioria seja intolerável, a minoria pode manifestar um bloqueio (ou veto). Dependendo do sistema usado, este pode impedir que a decisão seja levada a cabo, ou então obriga a uma segunda votação. Neste último caso, a maioria teria que modificar sua proposta, de forma que um número maior de cidadãos vote a seu favor (por exemplo, uma maioria de 2/3). 4. Plebiscito: proposição levada diretamente para decisão do eleitor. 5. Referendo: proposição aprovada indiretamente por representantes e levada ao eleitor para confirmação ou rejeição. 6. Revogatório de mandato (Recall): o mandato de um representante legalmente eleito é ressubmetido à votação direta dos eleitores, que decidem pela manutenção, ou cassação, desse mandato. 7. Iniciativa popular: um número mínimo de eleitores apresenta proposição para aprovação direta dos demais eleitores. 4.2 - Exemplos de casos de democracia direta: Neste processo chamado de democracia direta, os cidadãos reuniam-se na praça, chamada ágora, para decidirem e executarem as ações concernentes aos atos administrativos e políticos sem intermediações ou mediações de outras instituições. Para participar da democracia direta o requisito exigido era ser um cidadão grego.
TEORIA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO Brasília, 14 de março de 2013 Coordenadoria das Cidades Diretoria do Orçamento Participativo Roberto da silva Rocha, Mestre em Ciência Política pela UnB TEORIA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO INTRODUÇÃO O comunismo de conselhos via nos conselhos operários (Sovietes, na Rússia) como a forma de auto-organização revolucionária do proletariado, tal como se pode ver embrionariamente na Comuna de Paris e posteriormente em 1905, na primeira Revolução Russa, bem como nas diversas tentativas de revolução proletária na Europa, sem falar na Revolução Russa de 1917. Os conselhos operários também seriam as instituições de autogestão social na reorganização comunista da sociedade. Neste contexto, se desenvolvia a crítica aos partidos políticos e sindicatos. Otto Rühle, por exemplo, seria o mais ferrenho crítico dos partidos políticos, não a determinados partidos, mas aos partidos em geral, tal como se vê em seu artigo A Revolução não é Tarefa de Partido. As demandas políticas da população parecem nunca serem plenamente satisfeitas ou atendidas, por que diz o axioma da Administração que “As necessidades humanas seriam infinitas e os recursos materiais e humanos são sempre limitados e contingentes”. Para remediar estas necessidades cada vez mais intensas, maiores, variadas, urgentes e desejadas pelo cidadão é que os arranjos políticos institucionais novos estão sempre surgindo em função de duas questões de base que mobilizam as mentes criativas dos pensadores de teoria no mundo político em função da busca do aperfeiçoamento de duas das mais importantes instituições políticas estruturais na formulação de uma nova definição de cidadania. Estas duas questões fundamentais (de base) são: a) governança; b) governabilidade. Desde as eras do Império Egípcio, passando pelos Impérios da China, Assírio, Inca, vindo depois das experiências detalhadamente registradas sobre as administrações republicanas no Império Romano, e notadamente durante o helenismo com as suas experiências democráticas e republicanas, que os teóricos de sociologia política têm buscado extrair a melhor forma para compatibilizar os sistemas políticos com os regimes de governo em cada civilização, em cada época, partindo de três clivagens geográfico-temporais: mundo ocidental, mundo oriental e mundo novo (Américas). A democracia é o elemento central estruturante deste trabalho. O objetivo ao final é projetar mudanças evolutivas na forma de construção, de processos e sustentação teóricos do modelo cada vez mais utilizado da participação popular indireta representativa-participativa nos chamados mini-parlamentos, ou mini-câmara de proto-vereadores que são as plenárias e fóruns das sessões legislativas locais do Orçamento Participativo. Sendo o Orçamento participativo uma variante de parlamentarismo representativo-participativo, o Orçamento Participativo precisa se espelhar na organização parlamentar tradicional por sê-lo uma forma de organização política parental (simulacro) das câmaras representativas (câmaras de vereadores, câmaras de deputados estaduais, federais e do senado federal), onde os deputados-vereadores (conselheiros do OP, delegados e participantes) das plenárias e fóruns do Orçamento Participativo apresentam e representam as plataformas de propostas comunitárias. Então, por isso, nada obsta que os candidatos aos cargos de conselheiros e de delegados no Orçamento Participativo sejam eleitos pela comunidade depois de realizarem campanhas eleitorais, que defendam plataformas de propostas chamadas prioridades do OP em suas campanhas eleitorais, formem agremiações em torno de propostas (prioridades) fechadas (em blocos dentro da comunidade, distrito, área, cidade, bairro, rua) exatamente como o fazem os partidos políticos e os seus candidatos nas eleições políticas. 1. Representação: o representante não tem poder de decisão. A assembléia manda, o representante obedece. 2. Voto: a discussão em assembléia sempre busca o consenso. Decisões são ratificadas por chamadas ao voto. Caso haja uma polêmica onde o consenso não seja possível, então se pode fazer uma chamada de votos. Neste caso, a maioria vence (por exemplo, uma maioria de 50% mais 1). 3. Bloqueio: num sistema de democracia direta, procura-se preservar a opinião da minoria através deste recurso. Caso a decisão da maioria seja intolerável, a minoria pode manifestar um bloqueio (ou veto). Dependendo do sistema usado, este pode impedir que a decisão seja levada a cabo, ou então obriga a uma segunda votação. Neste último caso, a maioria teria que modificar sua proposta, de forma que um número maior de cidadãos vote a seu favor (por exemplo, uma maioria de 2/3). 4. Plebiscito: proposição levada diretamente para decisão do eleitor. 5. Referendo: proposição aprovada indiretamente por representantes e levada ao eleitor para confirmação ou rejeição. 6. Revogatório de mandato (Recall): o mandato de um representante legalmente eleito é ressubmetido à votação direta dos eleitores, que decidem pela manutenção, ou cassação, desse mandato. 7. Iniciativa popular: um número mínimo de eleitores apresenta proposição para aprovação direta dos demais eleitores. 4.2 - Exemplos de casos de democracia direta: Neste processo chamado de democracia direta, os cidadãos reuniam-se na praça, chamada ágora, para decidirem e executarem as ações concernentes aos atos administrativos e políticos sem intermediações ou mediações de outras instituições. Para participar da democracia direta o requisito exigido era ser um cidadão grego.
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
As Crises do Presidencialismo e da Democracia Direta
disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha
Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político
A Crise do Presidencialismo e da Democracia Direta
Durante todo o ciclo de existência da Disciplina Ciência Política desde a sua criação como um ramo novo da Sociologia Política ou da Psicologia Social tem-se glorificado e mitificado o conceito de democracia direta com base no histórico da democracia grega da época dos filósofos, cerca de 500 anos antes da Era chamada Cristã.
Nunca houve controvérsia de que uma vez existiu um período na História grega onde os cidadãos reuniam-se na ágora para discutirem e decidirem em assembléia os destinos administrativos e políticos da cidade-estado grega no que se classificou didaticamente sem controvérsias até então como um processo de democracia direta.
O sentido antigo da palavra democracia denotava igualdade entre os participantes e também exigia a presença física dos cidadãos no comando da ação política no, e, do Estado ali representado pela cidade–estado grega.
A Democracia nasceu da junção dos conceitos: (demo = povo) + (cracia = governo), sem intermediários, na chamada democracia direta, popular, indivisível, unitária e igualitária.
Estes conceitos utópicos e gerais, povo e governo, dificilmente conseguiriam uma unanimidade entre os teóricos como critérios para os constructos teóricos que possam subsidiar categorias analíticas ontológicas para alicerçar a Ciência Política ou qualquer outra ciência ligada ao comportamento social.
Seria difícil, senão impossível, definir-se o que seriam os conceitos de povo e o conceito de governo. Como seria tal definição de povo capaz de ser identificada univocamente, de acordo com as expectativas de cognição perceptíveis sobre tal objeto ou fato sociológico que é o povo. Quem é o povo, como seria o povo conceitualmente?
O conceito de igualdade, em qualquer gênero ou situação, é uma das utopias mais indefiníveis e improváveis que se possa construir no âmbito teórico de qualquer ciência (metafísica, empiricista ou dialética), exceto naquelas abstratas e simbólicas-puras como, por exemplos, a Matemática e a Geometria, por que ambas se afastam do mundo real para cingirem-se ao mundo da representação abstrata e ideal, contrariando um dos legados da dialética que diz que: “na natureza nada se repete, tudo muda constantemente”, facilmente e intuitivamente verificável mas metodologicamente não-simbolizável e indemonstrável como um axioma auto-justificável, a qual recai numa regressão ao infinito típica daquela armadilha ditada pelos limites práticos do empiricismo em seu contexto de justificação: é um conceito intuitivo como todo conceito dedutivo.
Já o conceito de povo se nos arvora ter que decifrá-lo diante de nebulosas perspectivas filosóficas e sociológicas que abundam nas diversas teorias sobre o conceito de povo, sobretudo na literatura técnica geralmente enriquecida pelas ideologias que se prevalecem da teleologia para justificarem as suas escolas conceituais, que no fundo são escolhas ad hoc meramente autorais.
Para não deixar de falar sobre o conceito de povo escolheria a rica abordagem feita pelo italiano Pareto, economista e sociólogo, que criou o conceito dual de elite / massa, como se vê é apenas uma escolha pessoal como todas as outras escolhas possíveis.
Pareto vê a sociedade sempre dividida naturalmente em duas partes: entre uma elite dirigente e a massa. Esta massa seria o povo separado da elite dirigente por um sistema de privilégios que identificam a elite em suas prerrogativas. Diz este conceito que as elites são necessárias e obrigatórias, mas estas elites devem ser naturais e meritocráticas para serem competentes e merecerem a legitimidade das massas.
A massa seria indistinta, por isso teoricamente igualitária. Em algumas teorias estas massas poderiam assumir gradações conforme aumente a sua capacidade de ação através de privilégios crescentes, formando degraus determinados pelo acesso diferenciado aos recursos de poder da elite, formando divisões em classes sociais diferenciadas, ou, em outras sociedades estamentais, formadas pela divisão em castas sociais.
No limite, e fora da teoria paretiana, poderíamos ter classes superiores e inferiores dentro do sistema de classes, as subelites, e estas classes mais no topo formando um sistema de superelites dominantes sobre as subelites inferiores e sobre a massa.
Karl Marx pode perceber apenas duas categorias sociais a dividir a sociedade, entre: os proletários e os capitalistas. Os proletários seriam a povo, e os capitalistas seriam a elite. Uma terceira categoria marxista seria formada pelos marginalizados chamados de párias ou lumpesinato.
Na idade média poderíamos observar um sistema de divisão de poder entre as elites do clero e da monarquia, e abaixo, os servos e vassalos. No pré-capitalismo imperialista colonial poderíamos perceber a divisão da sociedade entre: colonizadores, escravos, plebe e os nativos indígenas ou autóctones.
Com se viu tarefa complexa é caracterizar inequivocamente o que seria o povo.
Ao definir o conceito de governo novamente nos vemos em outro cipoal de teorias e de definições escolhidas de acordo com a teleologia e o gosto do analista, todas as escolas imersas em compromissos ideológicos, etnológicos, religiosos, políticos, econômicos, e assim não passam de meras escolhas.
Os sistemas de governo em geral são descritos pela forma de governança e de governabilidade que os caracterizam.
GOVERNANÇA
A governança é a capacidade para se dotarem de sistemas de representação, de instituições e processos, de corpos sociais, para elas mesmas se gerirem, em um movimento autônomo.
Esta capacidade de consciência (o movimento autônomo), de organização (as instituições, os corpos sociais), de conceitualização (os sistemas de representação), de adaptação às novas situações é uma característica das sociedades humanas.
É um dos traços que as distinguem das outras sociedades de seres vivos, animais e vegetais.
A Governança Corporativa visa a aumentar a probabilidade dos fornecedores de recursos garantirem para si o retorno sobre seu investimento, por meio de um conjunto de mecanismos de Administração.
São as instituições de Bretton Woods – Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional – que a puseram na moda.
A governança engloba, com efeito, o conjunto dos poderes legislativo, executivo e judiciário, a administração, o governo, o parlamento, os tribunais, as coletividades locais, a administração do Estado, a Comissão Européia, o sistema das Nações Unidas...
A emergência progressiva dos Estados, dos princípios e das modalidades de governança pacífica, em sociedades sempre mais povoadas e sempre mais complexas, são os sinais, e para alguns, a própria definição da civilização [1].
Ora, o corporate governance consiste, precisamente, na criação de mecanismos tendentes à minimização da assimetria de informação existente entre a gestão e os detentores da propriedade ou de interesses relevantes (daí ter-se evoluído da consideração dos shareholders para outros stakeholders), de forma a permitir uma monitoração tão próxima quanto possível da associação dos objetivos da gestão àquela dos stakeholders: maximizar o valor da empresa.
GOVERNABILIDADE
Governabilidade é o conjunto de condições (instrumentos, mecanismos, regras e instituições) necessárias ao exercício do poder.
Compreende a forma de governo, as relações entre os poderes, o sistema partidário e o equilíbrio entre as forças políticas de oposição e situação. Diz respeito à capacidade política de decidir. A Governabilidade expressa a possibilidade em abstrato de realizar políticas públicas.
Governabilidade, assim, diz respeito às condições estruturais e legais de um determinado governo para promover as transformações necessárias. Já a Governança está relacionada à capacidade de colocar em prática as condições da Governabilidade. Governança é o potencial para transformar o ato governamental em ação pública, capaz de articular as ações do governo.
A Governabilidade deriva, ainda, da legitimidade dada pela sociedade ao Estado e a seu governo, enquanto a Governança é a capacidade abrangente financeira e administrativa de uma organização de praticar políticas.
Sem condições de Governabilidade é impossível uma adequada Governança, embora esta possa ser deficiente.
Por outro lado, uma boa Governança pode aumentar a legitimidade que um povo confere a seu governo, aumentando, assim, a Governabilidade do país.
Nota-se, portanto, que Governabilidade tem a ver com processo e Governança com tem a ver com estrutura. A segunda significa a existência de um arcabouço político, jurídico e social que permita a elaboração e o implemento de políticas públicas. A primeira, a capacidade do governo de bem administrar, articular os diversos interesses existentes e efetivamente implantar essas políticas.
GOVERNANÇA (governo): CORRESPONDE À SUPERESTRUTURA (estática) DO ESTADO.
GOVERNABILIDADE (administração): CORRESPONDE AO PROCESSO (dinâmica) DE COLOCAR EM PRÁTICA O COMANDO DO ESTADO.
CAPACIDADE GOVERNATIVA (estratégia administrativa).
Sem mencionar as outras categorias teóricas variadas podemos resumir em apenas dois os tipos possíveis de governabilidade ao longo da história política das civilizações organizadas humanas, generalizando-as em dois grupos mais includentes possíveis que poderiam sintetizar e descrever completamente em linhas gerais as habilidades de percepção do que seria um governo, em todas as suas nuances.
Mesmo sendo genérico não se perde na generalização a qualidade ou os elementos fundamentais cognoscíveis do constructo “governo” como conceito teórico.
Democracia Direta: um mito que precisa ser desfeito
Virou um mito acreditar que durante um único período da História que se deu cerca de 2500 anos passados aproximadamente, nas cidades-estados gregas, durante a era dos filósofos, um processo caracterizado como democracia direta tenha existido.
Neste processo chamado de democracia direta, os cidadãos reuniam-se na praça, chamada ágora, para decidirem e executarem as ações concernentes aos atos administrativos e políticos sem intermediações ou mediações de outras instituições.
Para participar da democracia direta o requisito exigido era ser um cidadão grego.
Para serem reconhecidos como cidadãos atenienses eram necessários:
• ser do sexo masculino;
• não ser escravo;
• possuir certo nível de renda;
• ser alfabetizado;
• não ser estrangeiro.
A questão que enfraquece a tese da existência da democracia direta na Grécia da era a questão é: qual a proporção de pessoas na população que fazia parte da democracia direta, sem transformá-la em uma elite restrita dirigente, representativa, indireta e impopular?
A hipótese que se levanta nesta dissertação é que na falada democracia direta grega havia menos representatividade do que existiria na democracia moderna atual, quiçá menos do que na República Romana e suas instituições políticas de governança senatorial.
Vamos tentar quantificar através da qualificação dos requisitos exigidos para a participação na democracia direta grega.
O critério de gênero excluía 50% dos habitantes, já que não eram do sexo masculino, pelo primeiro critério; a seguir o segundo critério excluiria uma nova proporção dos homens que eram escravos; o terceiro critério excluiria uma parcela majoritária da população que não possuía renda qualificada, os pobres e miseráveis; e por último o critério da escolaridade excluía uma parcela residual, porém significativa apesar a existência do ensino público inventado pelos gregos.
O fato relevante, mas completamente ausente dos estudos sobre democracia grega ignora um elemento prático determinante para a realização das assembléias democráticas populares, majoritárias públicas e gerais: como reunir centenas, talvez milhares de pessoas, em uma praça ou em um recinto fechado em grandes multidões em um momento em que não existiam sistemas de amplificadores do som para que os participantes pudessem ser ouvidos pela platéia?
Este último fator é o tiro de misericórdia na última possibilidade de existência de uma democracia direta de massas: não existiam mídias de massa na era antiga, grandes jornais, livrarias, editoras, imprensa, rádios, televisões o que inviabilizaria a participação em massa da classe política e menos ainda da participação popular na mitológica democracia direta de massa grega.
Tudo não passou de calendas, esta história de democracia direta, na verdade, nesta história de democracia grega.
Isto nos traz de volta à questão do conjunto universo de sistemas de governo possíveis, reunidos ou resumidos em duas formas:
a) Tirania;
b) Parlamentarismo.
Ou se tem uma tirania (monarquia, ditadura, presidencialismo puro), ou se tem um parlamentarismo (poliarquia, bipartidarismo, multipartidarismo).
A conseqüência de se tentar fugir destas duas alternativas é a crise do presidencialismo, que se tenta resolver por cooptação ou pela corrupção dos parlamentares.
Cooptação ou Corrupção
Estas duas alternativas de instrumento de governança destroem o pretendido sistema de pesos e balanços entre os poderes e retira um do outro as suas funções institucionais respectivas:
Governar, controlar, legislar.
1 – O poder executivo legisla;
2 – O poder legislativo desgoverna e bloqueia o executivo;
3 – O poder executivo coopta os parlamentares, ou os corrompe;
4 – O poder legislativo obstrui, solapa e controla de modo a paralisar o poder executivo.
A questão é: como obter a governabilidade, em equilíbrio, ou, qual seria o melhor sistema de governo mais estável: Tirania ou o parlamentarismo, como únicas alternativas de fato presentes no materialismo histórico da humanidade?
Em primeiro lugar, tomando da Dinâmica da disciplina Física emprestados as definições de sistemas em equilíbrio, apenas para argumentar, recordamos que existem quatro situações possíveis de equilíbrios:
a) Equilíbrio instável;
b) Equilíbrio estável;
c) Equilíbrio dinâmico ;
d) Equilíbrio indiferente.
No sistema em equilíbrio instável à semelhança de um cone onde se pode apoiá-lo de lado ou de base, nunca pelo vértice, para se obter determinados graus de liberdade em equilíbrio, mas não todos os graus de liberdade de movimentos possíveis.
No sistema em equilíbrio estável a semelhança de uma esfera perfeita onde qualquer posição permite encontrar-se o perfeito equilíbrio em todos os graus de liberdade de movimentos.
No sistema em equilíbrio dinâmico a semelhança de uma bicicleta somente em movimento pendular se consegue manter o equilíbrio com certos graus de liberdade de movimento.
No sistema em equilíbrio indiferente o sistema sempre procura adaptar-se às situações diversas independentemente da posição em que se encontra com todos os graus de liberdade de movimento, como encontrado em uma massa mole flexível.
A governabilidade típica da tirania é obtida por rupturas bruscas nos movimentos como no equilíbrio estável.
A governabilidade típica do parlamentarismo é obtida de modo dinâmico através de correções contínuas na governança, semelhantemente ao sistema em equilíbrio dinâmico.
O sistema presidencialista obtém a sua governabilidade à semelhança de um sistema em equilíbrio instável, onde admite apenas alguns graus de liberdade, e onde existem posições de busca do equilíbrio impossíveis, com no vértice do cone.
A maneira única de se obter o equilíbrio no sistema presidencialista seria a governança obtida pela participação no executivo de todas as forças partidárias de apoio e de oposição ao governo, e isto seria um governo de coalizão total, típico de um regime de gabinete parlamentarista.
A Crise do Presidencialismo e da Democracia Direta
Durante todo o ciclo de existência da Disciplina Ciência Política desde a sua criação como um ramo novo da Sociologia Política ou da Psicologia Social tem-se glorificado e mitificado o conceito de democracia direta com base no histórico da democracia grega da época dos filósofos, cerca de 500 anos antes da Era chamada Cristã.
Nunca houve controvérsia de que uma vez existiu um período na História grega onde os cidadãos reuniam-se na ágora para discutirem e decidirem em assembléia os destinos administrativos e políticos da cidade-estado grega no que se classificou didaticamente sem controvérsias até então como um processo de democracia direta.
O sentido antigo da palavra democracia denotava igualdade entre os participantes e também exigia a presença física dos cidadãos no comando da ação política no, e, do Estado ali representado pela cidade–estado grega.
A Democracia nasceu da junção dos conceitos: (demo = povo) + (cracia = governo), sem intermediários, na chamada democracia direta, popular, indivisível, unitária e igualitária.
Estes conceitos utópicos e gerais, povo e governo, dificilmente conseguiriam uma unanimidade entre os teóricos como critérios para os constructos teóricos que possam subsidiar categorias analíticas ontológicas para alicerçar a Ciência Política ou qualquer outra ciência ligada ao comportamento social.
Seria difícil, senão impossível, definir-se o que seriam os conceitos de povo e o conceito de governo. Como seria tal definição de povo capaz de ser identificada univocamente, de acordo com as expectativas de cognição perceptíveis sobre tal objeto ou fato sociológico que é o povo. Quem é o povo, como seria o povo conceitualmente?
O conceito de igualdade, em qualquer gênero ou situação, é uma das utopias mais indefiníveis e improváveis que se possa construir no âmbito teórico de qualquer ciência (metafísica, empiricista ou dialética), exceto naquelas abstratas e simbólicas-puras como, por exemplos, a Matemática e a Geometria, por que ambas se afastam do mundo real para cingirem-se ao mundo da representação abstrata e ideal, contrariando um dos legados da dialética que diz que: “na natureza nada se repete, tudo muda constantemente”, facilmente e intuitivamente verificável mas metodologicamente não-simbolizável e indemonstrável como um axioma auto-justificável, a qual recai numa regressão ao infinito típica daquela armadilha ditada pelos limites práticos do empiricismo em seu contexto de justificação: é um conceito intuitivo como todo conceito dedutivo.
Já o conceito de povo se nos arvora ter que decifrá-lo diante de nebulosas perspectivas filosóficas e sociológicas que abundam nas diversas teorias sobre o conceito de povo, sobretudo na literatura técnica geralmente enriquecida pelas ideologias que se prevalecem da teleologia para justificarem as suas escolas conceituais, que no fundo são escolhas ad hoc meramente autorais.
Para não deixar de falar sobre o conceito de povo escolheria a rica abordagem feita pelo italiano Pareto, economista e sociólogo, que criou o conceito dual de elite / massa, como se vê é apenas uma escolha pessoal como todas as outras escolhas possíveis.
Pareto vê a sociedade sempre dividida naturalmente em duas partes: entre uma elite dirigente e a massa. Esta massa seria o povo separado da elite dirigente por um sistema de privilégios que identificam a elite em suas prerrogativas. Diz este conceito que as elites são necessárias e obrigatórias, mas estas elites devem ser naturais e meritocráticas para serem competentes e merecerem a legitimidade das massas.
A massa seria indistinta, por isso teoricamente igualitária. Em algumas teorias estas massas poderiam assumir gradações conforme aumente a sua capacidade de ação através de privilégios crescentes, formando degraus determinados pelo acesso diferenciado aos recursos de poder da elite, formando divisões em classes sociais diferenciadas, ou, em outras sociedades estamentais, formadas pela divisão em castas sociais.
No limite, e fora da teoria paretiana, poderíamos ter classes superiores e inferiores dentro do sistema de classes, as subelites, e estas classes mais no topo formando um sistema de superelites dominantes sobre as subelites inferiores e sobre a massa.
Karl Marx pode perceber apenas duas categorias sociais a dividir a sociedade, entre: os proletários e os capitalistas. Os proletários seriam a povo, e os capitalistas seriam a elite. Uma terceira categoria marxista seria formada pelos marginalizados chamados de párias ou lumpesinato.
Na idade média poderíamos observar um sistema de divisão de poder entre as elites do clero e da monarquia, e abaixo, os servos e vassalos. No pré-capitalismo imperialista colonial poderíamos perceber a divisão da sociedade entre: colonizadores, escravos, plebe e os nativos indígenas ou autóctones.
Com se viu tarefa complexa é caracterizar inequivocamente o que seria o povo.
Ao definir o conceito de governo novamente nos vemos em outro cipoal de teorias e de definições escolhidas de acordo com a teleologia e o gosto do analista, todas as escolas imersas em compromissos ideológicos, etnológicos, religiosos, políticos, econômicos, e assim não passam de meras escolhas.
Os sistemas de governo em geral são descritos pela forma de governança e de governabilidade que os caracterizam.
GOVERNANÇA
A governança é a capacidade para se dotarem de sistemas de representação, de instituições e processos, de corpos sociais, para elas mesmas se gerirem, em um movimento autônomo.
Esta capacidade de consciência (o movimento autônomo), de organização (as instituições, os corpos sociais), de conceitualização (os sistemas de representação), de adaptação às novas situações é uma característica das sociedades humanas.
É um dos traços que as distinguem das outras sociedades de seres vivos, animais e vegetais.
A Governança Corporativa visa a aumentar a probabilidade dos fornecedores de recursos garantirem para si o retorno sobre seu investimento, por meio de um conjunto de mecanismos de Administração.
São as instituições de Bretton Woods – Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional – que a puseram na moda.
A governança engloba, com efeito, o conjunto dos poderes legislativo, executivo e judiciário, a administração, o governo, o parlamento, os tribunais, as coletividades locais, a administração do Estado, a Comissão Européia, o sistema das Nações Unidas...
A emergência progressiva dos Estados, dos princípios e das modalidades de governança pacífica, em sociedades sempre mais povoadas e sempre mais complexas, são os sinais, e para alguns, a própria definição da civilização [1].
Ora, o corporate governance consiste, precisamente, na criação de mecanismos tendentes à minimização da assimetria de informação existente entre a gestão e os detentores da propriedade ou de interesses relevantes (daí ter-se evoluído da consideração dos shareholders para outros stakeholders), de forma a permitir uma monitoração tão próxima quanto possível da associação dos objetivos da gestão àquela dos stakeholders: maximizar o valor da empresa.
GOVERNABILIDADE
Governabilidade é o conjunto de condições (instrumentos, mecanismos, regras e instituições) necessárias ao exercício do poder.
Compreende a forma de governo, as relações entre os poderes, o sistema partidário e o equilíbrio entre as forças políticas de oposição e situação. Diz respeito à capacidade política de decidir. A Governabilidade expressa a possibilidade em abstrato de realizar políticas públicas.
Governabilidade, assim, diz respeito às condições estruturais e legais de um determinado governo para promover as transformações necessárias. Já a Governança está relacionada à capacidade de colocar em prática as condições da Governabilidade. Governança é o potencial para transformar o ato governamental em ação pública, capaz de articular as ações do governo.
A Governabilidade deriva, ainda, da legitimidade dada pela sociedade ao Estado e a seu governo, enquanto a Governança é a capacidade abrangente financeira e administrativa de uma organização de praticar políticas.
Sem condições de Governabilidade é impossível uma adequada Governança, embora esta possa ser deficiente.
Por outro lado, uma boa Governança pode aumentar a legitimidade que um povo confere a seu governo, aumentando, assim, a Governabilidade do país.
Nota-se, portanto, que Governabilidade tem a ver com processo e Governança com tem a ver com estrutura. A segunda significa a existência de um arcabouço político, jurídico e social que permita a elaboração e o implemento de políticas públicas. A primeira, a capacidade do governo de bem administrar, articular os diversos interesses existentes e efetivamente implantar essas políticas.
GOVERNANÇA (governo): CORRESPONDE À SUPERESTRUTURA (estática) DO ESTADO.
GOVERNABILIDADE (administração): CORRESPONDE AO PROCESSO (dinâmica) DE COLOCAR EM PRÁTICA O COMANDO DO ESTADO.
CAPACIDADE GOVERNATIVA (estratégia administrativa).
Sem mencionar as outras categorias teóricas variadas podemos resumir em apenas dois os tipos possíveis de governabilidade ao longo da história política das civilizações organizadas humanas, generalizando-as em dois grupos mais includentes possíveis que poderiam sintetizar e descrever completamente em linhas gerais as habilidades de percepção do que seria um governo, em todas as suas nuances.
Mesmo sendo genérico não se perde na generalização a qualidade ou os elementos fundamentais cognoscíveis do constructo “governo” como conceito teórico.
Democracia Direta: um mito que precisa ser desfeito
Virou um mito acreditar que durante um único período da História que se deu cerca de 2500 anos passados aproximadamente, nas cidades-estados gregas, durante a era dos filósofos, um processo caracterizado como democracia direta tenha existido.
Neste processo chamado de democracia direta, os cidadãos reuniam-se na praça, chamada ágora, para decidirem e executarem as ações concernentes aos atos administrativos e políticos sem intermediações ou mediações de outras instituições.
Para participar da democracia direta o requisito exigido era ser um cidadão grego.
Para serem reconhecidos como cidadãos atenienses eram necessários:
• ser do sexo masculino;
• não ser escravo;
• possuir certo nível de renda;
• ser alfabetizado;
• não ser estrangeiro.
A questão que enfraquece a tese da existência da democracia direta na Grécia da era a questão é: qual a proporção de pessoas na população que fazia parte da democracia direta, sem transformá-la em uma elite restrita dirigente, representativa, indireta e impopular?
A hipótese que se levanta nesta dissertação é que na falada democracia direta grega havia menos representatividade do que existiria na democracia moderna atual, quiçá menos do que na República Romana e suas instituições políticas de governança senatorial.
Vamos tentar quantificar através da qualificação dos requisitos exigidos para a participação na democracia direta grega.
O critério de gênero excluía 50% dos habitantes, já que não eram do sexo masculino, pelo primeiro critério; a seguir o segundo critério excluiria uma nova proporção dos homens que eram escravos; o terceiro critério excluiria uma parcela majoritária da população que não possuía renda qualificada, os pobres e miseráveis; e por último o critério da escolaridade excluía uma parcela residual, porém significativa apesar a existência do ensino público inventado pelos gregos.
O fato relevante, mas completamente ausente dos estudos sobre democracia grega ignora um elemento prático determinante para a realização das assembléias democráticas populares, majoritárias públicas e gerais: como reunir centenas, talvez milhares de pessoas, em uma praça ou em um recinto fechado em grandes multidões em um momento em que não existiam sistemas de amplificadores do som para que os participantes pudessem ser ouvidos pela platéia?
Este último fator é o tiro de misericórdia na última possibilidade de existência de uma democracia direta de massas: não existiam mídias de massa na era antiga, grandes jornais, livrarias, editoras, imprensa, rádios, televisões o que inviabilizaria a participação em massa da classe política e menos ainda da participação popular na mitológica democracia direta de massa grega.
Tudo não passou de calendas, esta história de democracia direta, na verdade, nesta história de democracia grega.
Isto nos traz de volta à questão do conjunto universo de sistemas de governo possíveis, reunidos ou resumidos em duas formas:
a) Tirania;
b) Parlamentarismo.
Ou se tem uma tirania (monarquia, ditadura, presidencialismo puro), ou se tem um parlamentarismo (poliarquia, bipartidarismo, multipartidarismo).
A conseqüência de se tentar fugir destas duas alternativas é a crise do presidencialismo, que se tenta resolver por cooptação ou pela corrupção dos parlamentares.
Cooptação ou Corrupção
Estas duas alternativas de instrumento de governança destroem o pretendido sistema de pesos e balanços entre os poderes e retira um do outro as suas funções institucionais respectivas:
Governar, controlar, legislar.
1 – O poder executivo legisla;
2 – O poder legislativo desgoverna e bloqueia o executivo;
3 – O poder executivo coopta os parlamentares, ou os corrompe;
4 – O poder legislativo obstrui, solapa e controla de modo a paralisar o poder executivo.
A questão é: como obter a governabilidade, em equilíbrio, ou, qual seria o melhor sistema de governo mais estável: Tirania ou o parlamentarismo, como únicas alternativas de fato presentes no materialismo histórico da humanidade?
Em primeiro lugar, tomando da Dinâmica da disciplina Física emprestados as definições de sistemas em equilíbrio, apenas para argumentar, recordamos que existem quatro situações possíveis de equilíbrios:
a) Equilíbrio instável;
b) Equilíbrio estável;
c) Equilíbrio dinâmico ;
d) Equilíbrio indiferente.
No sistema em equilíbrio instável à semelhança de um cone onde se pode apoiá-lo de lado ou de base, nunca pelo vértice, para se obter determinados graus de liberdade em equilíbrio, mas não todos os graus de liberdade de movimentos possíveis.
No sistema em equilíbrio estável a semelhança de uma esfera perfeita onde qualquer posição permite encontrar-se o perfeito equilíbrio em todos os graus de liberdade de movimentos.
No sistema em equilíbrio dinâmico a semelhança de uma bicicleta somente em movimento pendular se consegue manter o equilíbrio com certos graus de liberdade de movimento.
No sistema em equilíbrio indiferente o sistema sempre procura adaptar-se às situações diversas independentemente da posição em que se encontra com todos os graus de liberdade de movimento, como encontrado em uma massa mole flexível.
A governabilidade típica da tirania é obtida por rupturas bruscas nos movimentos como no equilíbrio estável.
A governabilidade típica do parlamentarismo é obtida de modo dinâmico através de correções contínuas na governança, semelhantemente ao sistema em equilíbrio dinâmico.
O sistema presidencialista obtém a sua governabilidade à semelhança de um sistema em equilíbrio instável, onde admite apenas alguns graus de liberdade, e onde existem posições de busca do equilíbrio impossíveis, com no vértice do cone.
A maneira única de se obter o equilíbrio no sistema presidencialista seria a governança obtida pela participação no executivo de todas as forças partidárias de apoio e de oposição ao governo, e isto seria um governo de coalizão total, típico de um regime de gabinete parlamentarista.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Governança e governabilidade: paradoxos da democracia
disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha
GOVERNANÇA E GOVERNABILIDADE
O Paradoxo da Democracia
GOVERNANÇA
A governança é a capacidade para se dotarem de sistemas de representação, de instituições e processos, de corpos sociais, para elas mesmas se gerirem, em um movimento voluntário.
Esta capacidade de consciência (o movimento voluntário), de organização (as instituições, os corpos sociais), de conceitualização (os sistemas de representação), de adaptação às novas situações é uma característica das sociedades humanas.
É um dos traços que as distinguem das outras sociedades de seres vivos, animais e vegetais.
A Governança Corporativa visa a aumentar a probabilidade dos fornecedores de recursos garantirem para si o retorno sobre seu investimento, por meio de um conjunto de mecanismos de Administração.
O tema possui importância crescente, por ser bem difundida a hipótese de que a estrutura de governança afeta organização da empresa.
A questão é descobrir se existe uma estrutura de governança corporativa "melhor" ou "ideal". Vários códigos de governança foram elaborados com esta intenção... No Brasil, destacam-se os códigos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
São as instituições de Bretton Woods – Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional – que a puseram na moda.
Ela engloba, com efeito, o conjunto dos poderes legislativo, executivo e judiciário, a administração, o governo, o parlamento, os tribunais, as coletividades locais, a administração do Estado, a Comissão Européia, o sistema das Nações Unidas...
A emergência progressiva dos Estados, dos princípios e das modalidades de governança pacífica, em sociedades sempre mais povoadas e sempre mais complexas, são os sinais, e para alguns, a própria definição da civilização[1].
Ora, o corporate governance consiste, precisamente, na criação de mecanismos tendentes à minimização da assimetria de informação existente entre a gestão e os detentores da propriedade ou de interesses relevantes (daí ter-se evoluído da consideração dos shareholders para outros stakeholders), de forma a permitir uma monitorização tão próxima quanto possível da associação dos objetivos da gestão àquela dos stakeholders: maximizar o valor da empresa.
Dito de outra forma, corporate governance é uma área […] que investiga a forma de garantir/motivar a gestão eficiente das empresas, utilizando mecanismos de incentivo como sejam: os contratos, os padrões organizacionais e a legislação. O que frequentemente se limita à questão da melhoria do desempenho financeiro, como, por exemplo, a forma como os proprietários das empresas podem garantir/motivar os gestores das empresas a apresentarem uma taxa de retorno competitiva - Cfr. definição defendida pelo Instituto Português do Corporate Governance, em http://www.cgov.pt/
GOVERNABILIDADE
Governabilidade é o conjunto de condições (instrumentos, mecanismos, regras e instituições) necessárias ao exercício do poder.
Compreende a forma de governo, as relações entre os poderes, o sistema partidário e o equilíbrio entre as forças políticas de oposição e situação. Diz respeito à capacidade política de decidir. A Governabilidade expressa a possibilidade em abstrato de realizar políticas públicas.
Governabilidade, assim, diz respeito às condições estruturais e legais de um determinado governo para promover as transformações necessárias. Já a Governança está relacionada à capacidade de colocar em prática as condições da Governabilidade. Governança é o potencial para transformar o ato governamental em ação pública, capaz de articular as ações do governo.
A Governabilidade deriva, ainda, da legitimidade dada pela sociedade ao Estado e a seu governo, enquanto a Governança é a capacidade abrangente financeira e administrativa de uma organização de praticar políticas.
Sem condições de Governabilidade é impossível uma adequada Governança, embora esta possa ser deficiente.
Por outro lado, uma boa Governança pode aumentar a legitimidade que um povo confere a seu governo, aumentando, assim, a Governabilidade do país.
Nota-se, portanto, que Governabilidade tem a ver com processo e Governança com tem a ver com estrutura. A segunda significa a existência de um arcabouço político, jurídico e social que permita a elaboração e o implemento de políticas públicas. A primeira, a capacidade do governo de bem administrar, articular os diversos interesses existentes e efetivamente implantar essas políticas.
GOVERNANÇA (governo) : CORRESPONDE À SUPEREXTRUTURA DO ESTADO .
GOVERNABILIDADE (administração): CORRESPONDE AO PROCESSO DE COLOCAR EM PRÁTICA O COMANDO DO ESTADO.
CAPACIDADE GOVERNATIVA (estratégia administrativa)
Após uma revisão dos conceitos de governabilidade e governança, como tratados pela literatura recente, apresento como sugestão, para fins analíticos, a utilização do termo capacidade governativa, definido de maneira ampla, de forma a englobar tanto os aspectos operacionais do aparelho do Estado aí incluídos os requisitos organizacionais e gerenciais bem como as suas dimensões institucionais, políticas e econômicas.
Baseando-se na capacidade do sistema político de identificar os problemas da sociedade, formular soluções por meio de políticas públicas e implementá-las, o termo proposto enfatiza a importante distinção analítica entre as duas fases do processo de decisão, indicando, ainda, o contexto mais ou menos democrático em que este se desenvolve.
Esse conceito operacional permite, assim, a análise da eficiência e eficácia do Estado em ajustar a economia, redefinir seu tamanho e suas funções, resgatar a dívida social e manterem-se em ambiente democrático, desafios impostos e assumidos por todos os governantes do Brasil pós-constituinte.
Dentre os vários aspectos considerados importantes para a capacidade governativa do Estado, destaco e examino, neste artigo, o processo de tomada de decisão, com ênfase na fase de formulação das políticas e nas relações Executivo-Legislativo.
Valendo-me dos resultados de dois estudos de caso de políticas fundamentais de agenda de governo, a política salarial e a política tributária e fiscal, contraponho-me à literatura que localiza o gargalo da capacidade governativa, basicamente, na implementação das políticas governamentais, aliás, plenamente reconhecidas, e a tese de Figueiredo e Limongi que argúi o predomínio quase absoluto do Executivo no processo legislativo e o conseqüente comportamento cooperativo do Congresso.
Para tanto, chamo a atenção para as grandes dificuldades da fase de formação das políticas indicadas, que são colocadas à conta da baixa institucionalização dos mecanismos de interação dos atores e de suas formas de representação de interesse, e dos obstáculos para a construção de maiorias estáveis no Parlamento. (pressupostos para a adoção de governabilidade de tendência autoritária)
De fato, neste último caso, a baixa institucionalização dos partidos, determinadas regras eleitoral-partidárias em um sistema multipartidário polarizado e altamente fragmentado, a forte presença de interesses suprapartidários, os constrangimentos eleitorais dos partidos e sua forma segmentada de comportamento (partidos que ocupam distintas posições no espectro ideológico negociando segundo diferentes moedas) dificultam a formação de coalizões de sustentação do governo, obrigando o Executivo a empenhar-se na construção de maiorias a cada votação. (paradoxos necessários da democracia multiculturalista, intransponíveis)
A combinação desses fatores faz ressaltar a importância, para a tomada de decisão, dos atributos pessoais das lideranças do governo e da oposição e mesmo da equipe econômica (forma de dominação carismática), de variáveis conjunturais em determinadas combinações e de mecanismos e procedimentos informais.
Para a discrepância desses resultados encontro as seguintes explicações.
No que se refere à tese de que o gargalo da capacidade governativa do Estado está basicamente na implementação, recorro à hipótese central de Lowi, que associa tipo de política a tipo de arena decisória.
Sugiro que relevante, nesse caso, é distinguir entre as políticas que passam pelo Congresso e aquelas que são produzidas em burocracias relativamente encapsuladas, e que os autores que abraçam a tese mencionada vêm trabalhando com políticas econômicas cujo processo de formação se desenvolve de acordo com a segunda modalidade.
No que se refere à tese de predomínio quase que absoluto do Executivo e de cooperação do Legislativo no processo legislativo propriamente dito, a diferença é metodológica.
Os estudos de caso indicados e o método indutivo permitem desentranhar relações no plano micro entre os atores, e, assim, detectar conflitos, negociações freqüentemente árduas e padrões de interação tanto de confronto como de cooperação envolvendo os dois Poderes.
Isso ocorre, mesmo que o tempo de tramitação dos projetos de lei não seja tão grande e que sua taxa de aprovação seja alta, como sugere a análise de dados agregados e o método hipotético-dedutivo utilizados pelos autores mencionados.
Dessa forma, se é verdade, no período pós-Constituinte, que o Executivo tem o domínio do processo legislativo, determina a agenda do Congresso e detém a iniciativa dos projetos relevantes para o reordenamento socioeconômico do país, não é menos verdade que é obrigado a negociar com o Congresso, muitas vezes arduamente, tendo, freqüentemente, de construir maiorias a cada votação.
Em outras palavras, o Executivo predomina, mas o Congresso não é de forma alguma irrelevante, e muito menos é cooperativo como regra geral. [36]
Em que circunstâncias e que variáveis explicam o estabelecimento de padrões de interação envolvendo os dois Poderes, de natureza quase sempre conflituosa, ou nem sempre cooperativa é uma questão empírica ainda incipientemente investigada. (para a conquista da hegemonia, o conceito de dominação deve ser considerado como alternativa ao autoritarismo e outras formas de persuasão nem tão republicanas)
Almeida (1996) chama a atenção para o grau de coincidência da distribuição de preferências dos parlamentares com a agenda reformista dos governos pós-1990.
O meu próprio trabalho enfatiza a importância de variáveis conjunturais em determinada combinação, incluindo-se aí os atributos das lideranças do governo, da oposição e até mesmo da equipe econômica.
É razoável supor também que quanto maiores e mais diversificados os interesses envolvidos, e quanto maior a importância estratégica dos atores em jogo o que varia com a questões da área em foco menores são as chances de que se estabeleçam padrões de interação de natureza cooperativa entre o Executivo e o Legislativo.
Em resumo, no que se refere às políticas de ajuste de item da pauta de todos os governos pós-Constituinte, se sua deficiência de implementação é reconhecida, o processo de formulação das políticas que passam pelo crivo do Congresso é freqüentemente complexo e difícil. (sem a dominação a conquista da hegemonia tende para a única alternativa à democracia: a tirania)
Por outro lado, se boa parte das políticas de estabilização são, basicamente, formuladas na relativa clausura (autoritária) das burocracias governamentais, as reformas estruturais, segunda fase do programa de ajuste, são todas submetidas ao Legislativo, até porque dependem, em parte, de reforma constitucional, o que, necessariamente, pelas dificuldades descritas de negociação entre os dois Poderes, prolonga o tempo do processo de formulação das reformas estruturais, tão ansiosamente perseguidas pelos governos pós-1990.
Estamos falando, portanto, de um padrão dual do processo de tomada de decisão.
Aqui o dilema do governante parece ser o seguinte. Para empreender as reformas estruturais deve ele manter o processo de decisão o mais aberto possível, passando pelo aval do Congresso Nacional, e, portanto, tornando-o visível aos olhos públicos, e dessa forma submetendo-o às mais fortes e diversificadas pressões dos grupos sociais, às interferências do Judiciário, dos governadores de estado, sem falar das custosas negociações com partidos e líderes da oposição, quando não com a própria bancada governista.
Afinal, como diz Reis,
"[...] a democracia envolve, antes, por definição, a problematização do processo de fixação dos fins da ação do Estado, com o reconhecimento de que há fins diversos e às vezes divergentes ou mesmo conflitantes (em correspondência com a multiplicidade dos interesses de que são portadores os diferentes grupos e categorias da sociedade) e de que é preciso tratar de agregar fins múltiplos, se possível compatibilizá-los por meio de negociações, definir prioridades com recurso a procedimentos que venham a ser percebidos como legítimos etc". (1995:126, ênfase no original).
Ou deve o governante, para garantir maior rapidez na implantação das reformas estruturais, encapsular, sempre que possível e o máximo possível, sua fase de formulação nas burocracias, à semelhança do que ocorre com as políticas monetárias e cambiais?
Nesse caso, não se estará abrindo mão dos princípios democráticos outro dos pressupostos dos políticos e da grande maioria dos cidadãos e acadêmicos do país? (princípio do autoritarismo)
Até que ponto a escolha da arena decisória é prerrogativa do governante?
Que constrangimentos internos ou externos, institucionais, políticos ou econômicos conformam essa escolha?
Mais importante ainda: será possível a convivência, em longo prazo, entre democracia e um padrão dual de tomada de decisão, pelas quais certas políticas têm como locus de decisão a relativa clausura (autoritarismo) das burocracias, enquanto outras se concentram no Parlamento?
E o que dizer do resgate da dívida social?
É possível conter seu potencial desestabilizador segundo a percepção de alguns, ou promover a justiça social conforme os princípios de outros, sob o imperativo da lógica econômica?
É possível construir democracia política sem democracia social? Afinal, de que democracia estamos falando? Malloy prevê:
"Na década de 90, a América Latina será o cenário da criatividade política, na medida em que esses países busquem reconciliar os impulsos contraditórios que os sacodem. O resultado mais provável será o surgimento de novos regimes híbridos, nos quais os elementos de estilo autoritário de política serão fundidos com processos eleitorais democráticos. Nesses híbridos, a questão crucial será a de como as expressões organizadas da sociedade civil serão ou não integradas ao processo de governo e de elaboração de políticas públicas, e qual o papel que os partidos políticos desempenharão enquanto mediadores desse tipo de articulação" (1993:126).
O’Donnell (1993; 1994; 1996), igualmente preocupado com as novas poliarquias, propõe, tomando como referencial empírico a América Latina, o termo "democracia delegativa" para caracterizar um novo tipo de democracia, que se distingue das democracias representativas mais antigas.
As democracias delegativas, sugere o autor, pressupõem a concepção cesarista e plebiscitária de um presidente eleito que se percebe investido do poder de governar o país da forma como lhe aprouver, constrangido apenas pelas relações de poder existentes e o tempo constitucionalmente limitado de seu mandato.
Nas novas poliarquias latino-americanas, continua o autor, não há ausência de institucionalização.
Na verdade, essas poliarquias combinam eleições livres, competitivas e formalmente institucionalizadas com instituições políticas não formalizadas, com destaque para o clientelismo e, de forma mais ampla, o particularismo-patrimonial (no qual não há distinção comportamental, legal e normativa entre as esferas pública e privada).
As afinidades eletivas entre o particularismo-patrimonial, a reduzida "prestação de contas horizontal" (entre as agências públicas), a pouca transparência dos processos de tomada de decisão das políticas governamentais, a grande distância entre as normas formais e o funcionamento efetivo da maioria das instituições políticas e as concepções e práticas delegativas e não representativas de autoridade política terminam por reviver e acentuar características do autoritarismo.
Embora se distingam de várias maneiras, as concepções de O’Donnell e Malloy acerca das novas democracias latino-americanas apontam, em comum, para regimes políticos que combinam eleições democráticas institucionalizadas e práticas autoritárias.
Esses regimes híbridos, parece óbvio, guardam afinidade eletiva com o padrão de decisão dual descrito acima.
Nesse contexto, as relações Executivo-Legislativo tornam-se cruciais.
Um padrão freqüentemente conflituoso entre os dois Poderes como arguido aqui tenderá a reforçar as arenas decisórias localizadas em burocracias relativamente encapsuladas em detrimento do Parlamento, com conseqüências óbvias para os rumos da democracia em construção.
Serão os regimes híbridos de Malloy a solução?
Será a democracia delegativa de O’Donnell a única possível?
O padrão de decisão das políticas governamentais será basicamente dual?
Estaremos dispostos a abrir mão dos mecanismos democráticos clássicos?
E como acomodaremos o particularismo-patrimonialista de nosso contexto histórico-cultural?
Que democracia poderemos ou estaremos dispostos a construir?
De qualquer forma, o desafio de ajustar a economia aos pressupostos de resgate da dívida social em contexto democrático constitui-se, para todos os que não estão dispostos a abrir mão desses pressupostos normativos, em formidável desafio para a presente e futuras gerações do país, dos países latino-americanos e dos países emergentes de uma maneira geral.
CONCLUSÕES:
O processo democrático esconde uma grande dificuldade, na verdade, um dilema paradoxal instransponível, porque é antagônico, antinômico, antitético, dialético.
Para transcender-se ao processo dialético há que se seguir a regra do método de Hieráclito, o qual seria fundir-se a tese à antítese, gerando o novo que seria a nova síntese haurida de elementos tanto da tese quanto da antítese.
A democracia, como um processo político, exige a existência de parceiros homogêneos na divisão do poder. Halmilton chamou este processo de governabilidade de Checks and Balances, ou seja: os três poderes seriam autônomos, equilibrados e interligados de maneira que cada qual pudesse controlar-se e fiscalizarem-se uns aos outros.
Ora, se isso acontecer, o executivo perde parte de sua governabilidade, pois que para cada passo e decisão implementada teria os seus empreendimentos checados, verificados, fiscalizados e ponderados pelos seus parceiros de divisão de poder.
Isso tem obrigado o executivo a fazer diversas manobras táticas, algumas delas legais, outras ilegais, imorais e desleais, tais como:
A) Cooptação;
B) Suborno;
C) Pressão;
D) Barganha;
E) Ameaças;
F) Chantagens;
G) Trocas de favores;
H) Persuasão;
I) Recrutamento de seguidores;
J) Disputas em geral.
Tudo isso pode, no mínimo, destruir o desejado equilíbrio hamiltoniano democrático, assim, o processo, democrático ele mesmo, é a maior causa da ingovernabilidade. Daí o paradoxo da democracia.
Se as instituições democráticas funcionarem a pleno acabam inviabilizando o executivo.
O remédio para os problemas da democracia é a ditadura. Pelo menos recorre-se constantemente às medidas antidemocráticas como, por exemplo, os decretos-leis, medidas provisórias, encapsulamento todas as vezes que se quer resolver uma crise ou dotar o sistema político de meios mais governáveis. A tirania é a mais eficiente forma e instrumento de governabilidade nas crises.
Formas de dominação, segundo Max Weber
Para mim, este é o conceito mais completo sobre política. Sem a dominação não se obtém a legitimidade para estabelecer a hegemonia, quer seja do chefe em uma instituição sobre os seus subordinados, quer seja em uma penitenciária, seja em Guantánamo ou em Bangú, quer seja de uma tirania seja de Sadan Hussein ou dos comandantes das FARC, enfim para se conseguir a obediência há que se conseguir a dominação, que é a força capaz de obter a subordinação da vontade em obedecer.
Em uma tirania pode-se conviver durante muito tempo com as revoltas e tentativas de golpes, ou pode-se obter a obediência direta, sob coação e coerção, mas nada garante a continuidade deste processo, e os custos crescentes diretos e indiretos para se mantê-lo.
É neste ponto que se estabelece a única vantagem da democracia e do liberalismo. Existe um pacto de obediência compulsória e de adesão voluntária ao dirigente escolhido por um processo que Weber chamou de dominação, o qual tende a ser do tipo dominação racional-legal.
Pode existir outras variantes de dominação também democráticas ou toleradas em uma democracia como aquelas dominações provenientes do carisma e da tradição. Acrescentaria também a dominação meritocrática a qual deriva do conhecimento especializado, a dominação consensual a qual derivaria das relações sentimentais, e a dominação formal baseada na posição midiática conferida pelas celebridades de todo o gênero.
A democracia moderna depende da aceitação por parte da maioria que se transforma, segundo Rousseau, na vontade-geral através do artifício da legitimação pelo procedimento legal, as eleições, aceito formalmente pelos aderentes do contrato social que abrange a todos e não exclui ninguém (Rousseau).
A democracia precisa de um processo plebiscitário que não implica de modo algum em garantia da melhor escolha, não é este o seu objetivo, senão subordinar o resultado à legitimação do escolhido e ungido pela escolha da maioria. Nós sabemos como a maioria quase sempre está longe da informação, da qualidade e do conhecimento especializado.
Este é o enorme defeito da democracia: mais popular, eleitoreira, e menos perto da meritocracia.
A prática política tem apontado que o remédio para uma democracia claudicante ou em crise tem sido a tirania, mesmo que provisória e temporária. A democracia tem se valido da tirania para consertar os seus males.
O remédio da democracia é a ditadura.
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O Paradoxo da Democracia
GOVERNANÇA
A governança é a capacidade para se dotarem de sistemas de representação, de instituições e processos, de corpos sociais, para elas mesmas se gerirem, em um movimento voluntário.
Esta capacidade de consciência (o movimento voluntário), de organização (as instituições, os corpos sociais), de conceitualização (os sistemas de representação), de adaptação às novas situações é uma característica das sociedades humanas.
É um dos traços que as distinguem das outras sociedades de seres vivos, animais e vegetais.
A Governança Corporativa visa a aumentar a probabilidade dos fornecedores de recursos garantirem para si o retorno sobre seu investimento, por meio de um conjunto de mecanismos de Administração.
O tema possui importância crescente, por ser bem difundida a hipótese de que a estrutura de governança afeta organização da empresa.
A questão é descobrir se existe uma estrutura de governança corporativa "melhor" ou "ideal". Vários códigos de governança foram elaborados com esta intenção... No Brasil, destacam-se os códigos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
São as instituições de Bretton Woods – Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional – que a puseram na moda.
Ela engloba, com efeito, o conjunto dos poderes legislativo, executivo e judiciário, a administração, o governo, o parlamento, os tribunais, as coletividades locais, a administração do Estado, a Comissão Européia, o sistema das Nações Unidas...
A emergência progressiva dos Estados, dos princípios e das modalidades de governança pacífica, em sociedades sempre mais povoadas e sempre mais complexas, são os sinais, e para alguns, a própria definição da civilização[1].
Ora, o corporate governance consiste, precisamente, na criação de mecanismos tendentes à minimização da assimetria de informação existente entre a gestão e os detentores da propriedade ou de interesses relevantes (daí ter-se evoluído da consideração dos shareholders para outros stakeholders), de forma a permitir uma monitorização tão próxima quanto possível da associação dos objetivos da gestão àquela dos stakeholders: maximizar o valor da empresa.
Dito de outra forma, corporate governance é uma área […] que investiga a forma de garantir/motivar a gestão eficiente das empresas, utilizando mecanismos de incentivo como sejam: os contratos, os padrões organizacionais e a legislação. O que frequentemente se limita à questão da melhoria do desempenho financeiro, como, por exemplo, a forma como os proprietários das empresas podem garantir/motivar os gestores das empresas a apresentarem uma taxa de retorno competitiva - Cfr. definição defendida pelo Instituto Português do Corporate Governance, em http://www.cgov.pt/
GOVERNABILIDADE
Governabilidade é o conjunto de condições (instrumentos, mecanismos, regras e instituições) necessárias ao exercício do poder.
Compreende a forma de governo, as relações entre os poderes, o sistema partidário e o equilíbrio entre as forças políticas de oposição e situação. Diz respeito à capacidade política de decidir. A Governabilidade expressa a possibilidade em abstrato de realizar políticas públicas.
Governabilidade, assim, diz respeito às condições estruturais e legais de um determinado governo para promover as transformações necessárias. Já a Governança está relacionada à capacidade de colocar em prática as condições da Governabilidade. Governança é o potencial para transformar o ato governamental em ação pública, capaz de articular as ações do governo.
A Governabilidade deriva, ainda, da legitimidade dada pela sociedade ao Estado e a seu governo, enquanto a Governança é a capacidade abrangente financeira e administrativa de uma organização de praticar políticas.
Sem condições de Governabilidade é impossível uma adequada Governança, embora esta possa ser deficiente.
Por outro lado, uma boa Governança pode aumentar a legitimidade que um povo confere a seu governo, aumentando, assim, a Governabilidade do país.
Nota-se, portanto, que Governabilidade tem a ver com processo e Governança com tem a ver com estrutura. A segunda significa a existência de um arcabouço político, jurídico e social que permita a elaboração e o implemento de políticas públicas. A primeira, a capacidade do governo de bem administrar, articular os diversos interesses existentes e efetivamente implantar essas políticas.
GOVERNANÇA (governo) : CORRESPONDE À SUPEREXTRUTURA DO ESTADO .
GOVERNABILIDADE (administração): CORRESPONDE AO PROCESSO DE COLOCAR EM PRÁTICA O COMANDO DO ESTADO.
CAPACIDADE GOVERNATIVA (estratégia administrativa)
Após uma revisão dos conceitos de governabilidade e governança, como tratados pela literatura recente, apresento como sugestão, para fins analíticos, a utilização do termo capacidade governativa, definido de maneira ampla, de forma a englobar tanto os aspectos operacionais do aparelho do Estado aí incluídos os requisitos organizacionais e gerenciais bem como as suas dimensões institucionais, políticas e econômicas.
Baseando-se na capacidade do sistema político de identificar os problemas da sociedade, formular soluções por meio de políticas públicas e implementá-las, o termo proposto enfatiza a importante distinção analítica entre as duas fases do processo de decisão, indicando, ainda, o contexto mais ou menos democrático em que este se desenvolve.
Esse conceito operacional permite, assim, a análise da eficiência e eficácia do Estado em ajustar a economia, redefinir seu tamanho e suas funções, resgatar a dívida social e manterem-se em ambiente democrático, desafios impostos e assumidos por todos os governantes do Brasil pós-constituinte.
Dentre os vários aspectos considerados importantes para a capacidade governativa do Estado, destaco e examino, neste artigo, o processo de tomada de decisão, com ênfase na fase de formulação das políticas e nas relações Executivo-Legislativo.
Valendo-me dos resultados de dois estudos de caso de políticas fundamentais de agenda de governo, a política salarial e a política tributária e fiscal, contraponho-me à literatura que localiza o gargalo da capacidade governativa, basicamente, na implementação das políticas governamentais, aliás, plenamente reconhecidas, e a tese de Figueiredo e Limongi que argúi o predomínio quase absoluto do Executivo no processo legislativo e o conseqüente comportamento cooperativo do Congresso.
Para tanto, chamo a atenção para as grandes dificuldades da fase de formação das políticas indicadas, que são colocadas à conta da baixa institucionalização dos mecanismos de interação dos atores e de suas formas de representação de interesse, e dos obstáculos para a construção de maiorias estáveis no Parlamento. (pressupostos para a adoção de governabilidade de tendência autoritária)
De fato, neste último caso, a baixa institucionalização dos partidos, determinadas regras eleitoral-partidárias em um sistema multipartidário polarizado e altamente fragmentado, a forte presença de interesses suprapartidários, os constrangimentos eleitorais dos partidos e sua forma segmentada de comportamento (partidos que ocupam distintas posições no espectro ideológico negociando segundo diferentes moedas) dificultam a formação de coalizões de sustentação do governo, obrigando o Executivo a empenhar-se na construção de maiorias a cada votação. (paradoxos necessários da democracia multiculturalista, intransponíveis)
A combinação desses fatores faz ressaltar a importância, para a tomada de decisão, dos atributos pessoais das lideranças do governo e da oposição e mesmo da equipe econômica (forma de dominação carismática), de variáveis conjunturais em determinadas combinações e de mecanismos e procedimentos informais.
Para a discrepância desses resultados encontro as seguintes explicações.
No que se refere à tese de que o gargalo da capacidade governativa do Estado está basicamente na implementação, recorro à hipótese central de Lowi, que associa tipo de política a tipo de arena decisória.
Sugiro que relevante, nesse caso, é distinguir entre as políticas que passam pelo Congresso e aquelas que são produzidas em burocracias relativamente encapsuladas, e que os autores que abraçam a tese mencionada vêm trabalhando com políticas econômicas cujo processo de formação se desenvolve de acordo com a segunda modalidade.
No que se refere à tese de predomínio quase que absoluto do Executivo e de cooperação do Legislativo no processo legislativo propriamente dito, a diferença é metodológica.
Os estudos de caso indicados e o método indutivo permitem desentranhar relações no plano micro entre os atores, e, assim, detectar conflitos, negociações freqüentemente árduas e padrões de interação tanto de confronto como de cooperação envolvendo os dois Poderes.
Isso ocorre, mesmo que o tempo de tramitação dos projetos de lei não seja tão grande e que sua taxa de aprovação seja alta, como sugere a análise de dados agregados e o método hipotético-dedutivo utilizados pelos autores mencionados.
Dessa forma, se é verdade, no período pós-Constituinte, que o Executivo tem o domínio do processo legislativo, determina a agenda do Congresso e detém a iniciativa dos projetos relevantes para o reordenamento socioeconômico do país, não é menos verdade que é obrigado a negociar com o Congresso, muitas vezes arduamente, tendo, freqüentemente, de construir maiorias a cada votação.
Em outras palavras, o Executivo predomina, mas o Congresso não é de forma alguma irrelevante, e muito menos é cooperativo como regra geral. [36]
Em que circunstâncias e que variáveis explicam o estabelecimento de padrões de interação envolvendo os dois Poderes, de natureza quase sempre conflituosa, ou nem sempre cooperativa é uma questão empírica ainda incipientemente investigada. (para a conquista da hegemonia, o conceito de dominação deve ser considerado como alternativa ao autoritarismo e outras formas de persuasão nem tão republicanas)
Almeida (1996) chama a atenção para o grau de coincidência da distribuição de preferências dos parlamentares com a agenda reformista dos governos pós-1990.
O meu próprio trabalho enfatiza a importância de variáveis conjunturais em determinada combinação, incluindo-se aí os atributos das lideranças do governo, da oposição e até mesmo da equipe econômica.
É razoável supor também que quanto maiores e mais diversificados os interesses envolvidos, e quanto maior a importância estratégica dos atores em jogo o que varia com a questões da área em foco menores são as chances de que se estabeleçam padrões de interação de natureza cooperativa entre o Executivo e o Legislativo.
Em resumo, no que se refere às políticas de ajuste de item da pauta de todos os governos pós-Constituinte, se sua deficiência de implementação é reconhecida, o processo de formulação das políticas que passam pelo crivo do Congresso é freqüentemente complexo e difícil. (sem a dominação a conquista da hegemonia tende para a única alternativa à democracia: a tirania)
Por outro lado, se boa parte das políticas de estabilização são, basicamente, formuladas na relativa clausura (autoritária) das burocracias governamentais, as reformas estruturais, segunda fase do programa de ajuste, são todas submetidas ao Legislativo, até porque dependem, em parte, de reforma constitucional, o que, necessariamente, pelas dificuldades descritas de negociação entre os dois Poderes, prolonga o tempo do processo de formulação das reformas estruturais, tão ansiosamente perseguidas pelos governos pós-1990.
Estamos falando, portanto, de um padrão dual do processo de tomada de decisão.
Aqui o dilema do governante parece ser o seguinte. Para empreender as reformas estruturais deve ele manter o processo de decisão o mais aberto possível, passando pelo aval do Congresso Nacional, e, portanto, tornando-o visível aos olhos públicos, e dessa forma submetendo-o às mais fortes e diversificadas pressões dos grupos sociais, às interferências do Judiciário, dos governadores de estado, sem falar das custosas negociações com partidos e líderes da oposição, quando não com a própria bancada governista.
Afinal, como diz Reis,
"[...] a democracia envolve, antes, por definição, a problematização do processo de fixação dos fins da ação do Estado, com o reconhecimento de que há fins diversos e às vezes divergentes ou mesmo conflitantes (em correspondência com a multiplicidade dos interesses de que são portadores os diferentes grupos e categorias da sociedade) e de que é preciso tratar de agregar fins múltiplos, se possível compatibilizá-los por meio de negociações, definir prioridades com recurso a procedimentos que venham a ser percebidos como legítimos etc". (1995:126, ênfase no original).
Ou deve o governante, para garantir maior rapidez na implantação das reformas estruturais, encapsular, sempre que possível e o máximo possível, sua fase de formulação nas burocracias, à semelhança do que ocorre com as políticas monetárias e cambiais?
Nesse caso, não se estará abrindo mão dos princípios democráticos outro dos pressupostos dos políticos e da grande maioria dos cidadãos e acadêmicos do país? (princípio do autoritarismo)
Até que ponto a escolha da arena decisória é prerrogativa do governante?
Que constrangimentos internos ou externos, institucionais, políticos ou econômicos conformam essa escolha?
Mais importante ainda: será possível a convivência, em longo prazo, entre democracia e um padrão dual de tomada de decisão, pelas quais certas políticas têm como locus de decisão a relativa clausura (autoritarismo) das burocracias, enquanto outras se concentram no Parlamento?
E o que dizer do resgate da dívida social?
É possível conter seu potencial desestabilizador segundo a percepção de alguns, ou promover a justiça social conforme os princípios de outros, sob o imperativo da lógica econômica?
É possível construir democracia política sem democracia social? Afinal, de que democracia estamos falando? Malloy prevê:
"Na década de 90, a América Latina será o cenário da criatividade política, na medida em que esses países busquem reconciliar os impulsos contraditórios que os sacodem. O resultado mais provável será o surgimento de novos regimes híbridos, nos quais os elementos de estilo autoritário de política serão fundidos com processos eleitorais democráticos. Nesses híbridos, a questão crucial será a de como as expressões organizadas da sociedade civil serão ou não integradas ao processo de governo e de elaboração de políticas públicas, e qual o papel que os partidos políticos desempenharão enquanto mediadores desse tipo de articulação" (1993:126).
O’Donnell (1993; 1994; 1996), igualmente preocupado com as novas poliarquias, propõe, tomando como referencial empírico a América Latina, o termo "democracia delegativa" para caracterizar um novo tipo de democracia, que se distingue das democracias representativas mais antigas.
As democracias delegativas, sugere o autor, pressupõem a concepção cesarista e plebiscitária de um presidente eleito que se percebe investido do poder de governar o país da forma como lhe aprouver, constrangido apenas pelas relações de poder existentes e o tempo constitucionalmente limitado de seu mandato.
Nas novas poliarquias latino-americanas, continua o autor, não há ausência de institucionalização.
Na verdade, essas poliarquias combinam eleições livres, competitivas e formalmente institucionalizadas com instituições políticas não formalizadas, com destaque para o clientelismo e, de forma mais ampla, o particularismo-patrimonial (no qual não há distinção comportamental, legal e normativa entre as esferas pública e privada).
As afinidades eletivas entre o particularismo-patrimonial, a reduzida "prestação de contas horizontal" (entre as agências públicas), a pouca transparência dos processos de tomada de decisão das políticas governamentais, a grande distância entre as normas formais e o funcionamento efetivo da maioria das instituições políticas e as concepções e práticas delegativas e não representativas de autoridade política terminam por reviver e acentuar características do autoritarismo.
Embora se distingam de várias maneiras, as concepções de O’Donnell e Malloy acerca das novas democracias latino-americanas apontam, em comum, para regimes políticos que combinam eleições democráticas institucionalizadas e práticas autoritárias.
Esses regimes híbridos, parece óbvio, guardam afinidade eletiva com o padrão de decisão dual descrito acima.
Nesse contexto, as relações Executivo-Legislativo tornam-se cruciais.
Um padrão freqüentemente conflituoso entre os dois Poderes como arguido aqui tenderá a reforçar as arenas decisórias localizadas em burocracias relativamente encapsuladas em detrimento do Parlamento, com conseqüências óbvias para os rumos da democracia em construção.
Serão os regimes híbridos de Malloy a solução?
Será a democracia delegativa de O’Donnell a única possível?
O padrão de decisão das políticas governamentais será basicamente dual?
Estaremos dispostos a abrir mão dos mecanismos democráticos clássicos?
E como acomodaremos o particularismo-patrimonialista de nosso contexto histórico-cultural?
Que democracia poderemos ou estaremos dispostos a construir?
De qualquer forma, o desafio de ajustar a economia aos pressupostos de resgate da dívida social em contexto democrático constitui-se, para todos os que não estão dispostos a abrir mão desses pressupostos normativos, em formidável desafio para a presente e futuras gerações do país, dos países latino-americanos e dos países emergentes de uma maneira geral.
CONCLUSÕES:
O processo democrático esconde uma grande dificuldade, na verdade, um dilema paradoxal instransponível, porque é antagônico, antinômico, antitético, dialético.
Para transcender-se ao processo dialético há que se seguir a regra do método de Hieráclito, o qual seria fundir-se a tese à antítese, gerando o novo que seria a nova síntese haurida de elementos tanto da tese quanto da antítese.
A democracia, como um processo político, exige a existência de parceiros homogêneos na divisão do poder. Halmilton chamou este processo de governabilidade de Checks and Balances, ou seja: os três poderes seriam autônomos, equilibrados e interligados de maneira que cada qual pudesse controlar-se e fiscalizarem-se uns aos outros.
Ora, se isso acontecer, o executivo perde parte de sua governabilidade, pois que para cada passo e decisão implementada teria os seus empreendimentos checados, verificados, fiscalizados e ponderados pelos seus parceiros de divisão de poder.
Isso tem obrigado o executivo a fazer diversas manobras táticas, algumas delas legais, outras ilegais, imorais e desleais, tais como:
A) Cooptação;
B) Suborno;
C) Pressão;
D) Barganha;
E) Ameaças;
F) Chantagens;
G) Trocas de favores;
H) Persuasão;
I) Recrutamento de seguidores;
J) Disputas em geral.
Tudo isso pode, no mínimo, destruir o desejado equilíbrio hamiltoniano democrático, assim, o processo, democrático ele mesmo, é a maior causa da ingovernabilidade. Daí o paradoxo da democracia.
Se as instituições democráticas funcionarem a pleno acabam inviabilizando o executivo.
O remédio para os problemas da democracia é a ditadura. Pelo menos recorre-se constantemente às medidas antidemocráticas como, por exemplo, os decretos-leis, medidas provisórias, encapsulamento todas as vezes que se quer resolver uma crise ou dotar o sistema político de meios mais governáveis. A tirania é a mais eficiente forma e instrumento de governabilidade nas crises.
Formas de dominação, segundo Max Weber
Para mim, este é o conceito mais completo sobre política. Sem a dominação não se obtém a legitimidade para estabelecer a hegemonia, quer seja do chefe em uma instituição sobre os seus subordinados, quer seja em uma penitenciária, seja em Guantánamo ou em Bangú, quer seja de uma tirania seja de Sadan Hussein ou dos comandantes das FARC, enfim para se conseguir a obediência há que se conseguir a dominação, que é a força capaz de obter a subordinação da vontade em obedecer.
Em uma tirania pode-se conviver durante muito tempo com as revoltas e tentativas de golpes, ou pode-se obter a obediência direta, sob coação e coerção, mas nada garante a continuidade deste processo, e os custos crescentes diretos e indiretos para se mantê-lo.
É neste ponto que se estabelece a única vantagem da democracia e do liberalismo. Existe um pacto de obediência compulsória e de adesão voluntária ao dirigente escolhido por um processo que Weber chamou de dominação, o qual tende a ser do tipo dominação racional-legal.
Pode existir outras variantes de dominação também democráticas ou toleradas em uma democracia como aquelas dominações provenientes do carisma e da tradição. Acrescentaria também a dominação meritocrática a qual deriva do conhecimento especializado, a dominação consensual a qual derivaria das relações sentimentais, e a dominação formal baseada na posição midiática conferida pelas celebridades de todo o gênero.
A democracia moderna depende da aceitação por parte da maioria que se transforma, segundo Rousseau, na vontade-geral através do artifício da legitimação pelo procedimento legal, as eleições, aceito formalmente pelos aderentes do contrato social que abrange a todos e não exclui ninguém (Rousseau).
A democracia precisa de um processo plebiscitário que não implica de modo algum em garantia da melhor escolha, não é este o seu objetivo, senão subordinar o resultado à legitimação do escolhido e ungido pela escolha da maioria. Nós sabemos como a maioria quase sempre está longe da informação, da qualidade e do conhecimento especializado.
Este é o enorme defeito da democracia: mais popular, eleitoreira, e menos perto da meritocracia.
A prática política tem apontado que o remédio para uma democracia claudicante ou em crise tem sido a tirania, mesmo que provisória e temporária. A democracia tem se valido da tirania para consertar os seus males.
O remédio da democracia é a ditadura.
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