quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

A Bolha Ocidente

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

A Bolha Ocidente

O chamado Ocidente não é exatamente nenhuma região estritamente geográfica, antes o que se chama de Ocidente é um conjunto de países que possuem basicamente um conjunto de convenções políticas e sociológicas que os faz construírem juntos uma comunidade de comunicação, de nível de renda, de tecnologias compartilhadas e de princípios comuns de convivência econômica e históricas que são conduzidas pelos acordos multilaterais que compartilham em suas constituições federais e em seus hábitos de consumo de suas populações.

Este pacote comportamental se constitui de alguns organismos multilaterais que não são exclusivos porém foram forjados dentro de princípios que surgiram de seu núcleo intelectual com origem nas universidades e institutos de pesquisas sócio-econômicas criadas para estudar e disseminar um pensamento chamado pensamento ocidental civilizatório universal, saídos de: Instituto Stanford, Leman Center, Rand Institute, Ford Foundation, Brookings Institution, IFRI Instituto Francês para Relações Internacionais, Carnegie Endowement for International Peace, SIPRI Instituto de Pesquisas Para a Paz da Noruega, Heritage Foundation, Gato Institute, Tellus Institute, Center For American Progress, o TT and Foreign Policy Programs listou o número de institutos de pensadores ou de depósitos de pensamentos no mundo em 2018, este Índice listou os EUA como o país com o maior número de Think Tanks (1871), seguido pela Índia (509), China (507), Reino Unido (321), Argentina (227), Alemanha (218), Rússia (215 ), França (203), Japão (128), Itália (114), Brasil (103), Canadá (100), África do Sul (93).

Formatando o pensamento do Ocidente para uma convergência de valores morais, intelectuais, religiosos, culturais, econômicos, sociais e políticos nem sempre convergentes, porém possuem um núcleo de ideias comuns baseados em princípios do Iluminismo e do Positivismo.

Este conjunto de crenças caracteriza-se melhor pelo conjunto de práticas que eles não aceitam muito mais do que por um núcleo de procedimentos acatáveis e permanentes, por exemplo, a religião Islâmica não faz parte deste núcleo de ideias e práticas religiosas; da mesma forma tipos de governos totalitários foram abolidos, sendo que a existência de um parlamento eleito por sufrágio universal é o requisito básico e fundamental para ser ocidental; liberdade de pensamento e pluralismo cultural e religioso são obrigatórios; trabalho livre assalariado, organização sindical e responsabilidade social e ambiental; família monogâmica, liberdade e pluralidade religiosa; propriedade privada; garantias de acesso comunitário aos bens de mérito comuns como habitação, saúde, segurança pessoal, educação universal e vários níveis; eliminação de discriminação contra grupos étnicos, religiosos, sexuais, religiosos, políticos, exceto grupos nazistas, xenófobos, antissemitas; proibição de trabalhos infantis, proibição à pedofilia, proibição ao incesto, proibição à exploração sexual e trabalho sexual.

Então o núcleo que forma o Ocidente é composto por pouco mais de dez por cento da população mundial constituída de 8,5 bilhões de pessoas das quais se extraem os habitantes da Europa Eurozona, mais os habitantes dos USA, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia, formando um grupo de 900 milhões de pessoas, então o Ocidente exclui uma maioria de nove décimos de toda a população mundial.

Basicamente estamos sendo conduzidos pelo comportamento de cerca de 320 milhões de pessoas que vivem nos EUA que são os protagonistas do pensamento mundial ocidental, se excluirmos os estrangeiros de origem hispânicas que vivem nos USA teríamos cerca de pouco mais de 200 milhões de anglo-saxônicos de origem nos USA que criaram a prática social conhecida como o núcleo do comportamento ocidental, expressos na produção midiática que se espalha pelas áreas de influência cultural da língua inglesa e norte-americana, através dos grandes canais de difusão de mídia, que vai disseminando a ideologia através de suas: músicas, (Hip Hop, RAP, Rock in Roll, Country, Blues, Jazz, Gospel, e subgêneros), filmes de Hollywood, canais de jornalismo e esportes (CNN, FOX, BBC, CBS, ABC, NBC CW, PBS, Univision, UniMás, TeleXitos, Bounce TV); agências de fomento como: FMI, BM, OCDE, OIC, ONU, OTAN, são influenciadores e garantidores do modelo norte-americano de negócios internacionais e agências reguladoras das relações internacionais do modelo norte-americano de negócios baseados no currency board dólar norte-americano.

Grandes brokers e dealers globais como: Microsoftware, Google, Tesla, GM, Ford, Toyota, Volkswagen, Sanssung, LG, Fiat, Apple, YSL, Mercedes, GE, Boeing, Lockheead, Raytheon, IBM, Goodyear, Pfizer, Dupont, Exxon, Shell, Springer, Amazon, estes grandes grupos impõem seus produtos e formas de consumo de massa, e de moda, como: EMI ODEON, Nike, Mc Donalds, SUBWay, Coca Cola, Pepsi, Johnson & Johnson, P&G, é claro que ficam de fora dessas listas inúmeras outras grandes entidades globais, essa amostra é apenas uma demonstração do alcance global no Ocidente, que costuma ignorar consumidores de outros continentes que nem sequer são afetados pelas suas atividades, cerca de 8 bilhões de pessoas que não tomaram conhecimento das existências destes gigantes e estas pessoas estão na África, na Ásia e médio oriente, principalmente, nos interiores de países inteiros da América Latina que desconhecem a língua inglesa, nunca pegaram na nota de um dólar, não sabem uma letra de música de sucesso das paradas da Bill Board, nunca ouviram falar do festival de Woodstock, nem tomaram conhecimento da revolução cultural da diversidade de gênero, não sabem nada dobre emancipação e empoderamento feminino da revolução feminista, nunca beberam uma Pepsi Cola, são estes 8 bilhões de pessoas esquecidas pelo Ocidente que não fazem parte da enorme bolha ocidental, mas são a maioria hegemônica da humanidade que Bill Gates se preocupa em eliminar com George Soros, e outros genocidas nazistas que querem purificar a raça humana em sua visão racista purista humanizadora e unilateral na nova versão do nazismo.

O restante não ocidentalizado já recebeu o nome de terceiro mundo, atualmente se autoproclamam não-alinhados, e BRICS estendido, aos poucos vai se formando a consciência de sua importância para si mesmos numa redescoberta de sua grandiosidade.

Tudo o que acontece no Ocidente e ao Ocidente recebe uma extrema e desproporcional importância parecendo que o mundo onde as coisas acontecem com finalidade e importância é exclusivo ao Ocidente, por exemplo, a segunda guerra mundial, que não foi mundial, foi um conflito europeu, com a inclusão do longínquo Japão que se não fosse pela invasão do leste da Rússia seria apenas uma guerra regional, onde alguns países da Europa foram incluídos e outros não, como, por exemplo, ficaram de fora na própria Europa: Portugal, Espanha, Suíça, Islândia, Suécia com pequena participação marginal; ficaram de fora totalmente: América do Sul, América Central, México, África, somente uma parte fronteiriça de China, os EUA apenas lutaram como combatentes transoceânicos, transplantados pelo oceano Atlântico depois de uma longa viagem de navio para cruzar mais de seis mil quilômetros de mares para auxiliar o Reino Unido, turismo militar que resultou na permanência definitiva de suas tropas na Europa através da ocupação consentida da OTAN para evitar novo transbordo de tropas de um lado ao outro do Oceano, a mesmo situação aconteceu em Okinawa onde à distância de quase 20 mil quilômetros dos USA requer uma ocupação permanente para garantir a prontidão de tropas americanas na Ásia.

Foi muita pretensão e exagero chamar a guerra na Europa de Hitler de uma guerra mundial quando menos de um por cento da humanidade estava realmente envolvida e lutando nessa guerra Ocidental. Não passou de uma guerra Ocidental.

A oportunidade está nas mãos dos habitantes majoritários da terra assumirem a sua parte de importância que lhes cabe no mundo e eliminar o controle nem sempre conspícuo do pensamento ocidental e assumir a sua diversidade cultural e social para levantar vozes múltiplas em centenas de línguas e dialetos para ensinar aos habitantes do Ocidente que existem muitas coisas que eles nunca se interessaram em conhecer, muitas ideias e modelos de filosofia, ciência, medicina, culturas, práticas sociais, econômicas, religiosas, moda, organizações e entidades sociais que o Ocidente ignora, talentos e novas visões de vida desconhecidos que podem salvar o Ocidente do suicídio cultural representado pelo comportamento autodestrutivo da comunidade ocidental que consome 90% de toda cocaína produzida no mundo, 100% das novas drogas anfetamínicas, 99% dos antidepressivos e cigarros, bebida alcoólicas, responsável pela poluição das águas, dos mares, do ar e pela destruição dos recursos naturais não renováveis.

São 8 bilhões de pessoas que não conhecem nem ouviram falar ou sabem o que são: The Beatles, Coca Cola, Holly Bible, Bill Gates, Dólar, Bit Coin, Windows, Iphone, Yves Saint Loran, Cartier, Intel, Big Mac, Nike, Nissan, CNN, estas pessoas não sabem o que é eleição por sufrágio universal, direitos civis, portanto, o Ocidente vive em sua bolha de autossuficiência e de auto validação de costas para o mundo real onde vivem 90% da humanidade desconhecendo tudo o que se pensa e se vive ali, e o jeito que eles vivem.




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