sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Seu lugar no mundo, em casa, na sociedade

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

Seu lugar no mundo, em casa, na sociedade



Desde sempre o mundo está organizado socialmente em regime de castas hereditárias.

Os bebês egípcios tinham desde o berço de seus ascendentes parentais o seu lugar determinado desde o nascimento até a morte na pesada organização da sociedade egípcia desde a primeira dinastia até a última cerca de três mil anos depois aproximadamente no início do império romano e durante a fase helenística. Desde Anos de 300 aC. Até 2700 aC.

Os escravos começavam pela submissão militar de sua pátria ao imperador faraó e daí em diante toda a descendência escrava seria de escravos até a mudança de domínio do povo egípcio.

Os escribas e servidores reais dos faraós eram treinados pelos seus pais ou parentes ou curadores de menores para substituí-los em suas funções profissionais que se tornavam hereditárias, assim como todas as profissões: carpinteiros eram filhos de carpinteiros; camponeses eram filhos de camponeses; médicos eram filhos de médicos; feiticeiros recebiam os segredos dos rituais e das ervas sagradas de seus pais feiticeiros; pastores herdavam o ofício de seus pais pastores; pescadores herdavam todo o instrumental e barcos de seus pais pescadores; assim por diante, com todas as atividades.

Não havia revolta nem inconformismo, ninguém conhecia outra sociedade diferente daquela, portanto, seria impossível para um peixe imaginar um mundo fora da água, bem ali no limite da superfície do líquido, jamais um peixe poderia imagina o que seria uma estrela, ou o céu, ou a terra, nunca vira um como no mito da caverna de Platão.

Essa imersão total no seu mundo impede de ver outra realidade adversa, assim foram os 988 anos da Idade Média, portanto, não representava nenhum sofrimento nem qualquer expectativa ou ansiedade de pessoas sonharem com a mobilidade social, era como imaginar que um cavalo sonhasse em ser um cachorro, isso jamais se passa no reino animal, uma gazela não sonha com um dia de leão; nem um elefante sonha em ser uma serpente.

Como uma doença psicopática alguém em algum momento da civilização teve contato com um outro tipo de sociedade e resolveu contar o que viu como no mito da caverna de Platão, só que ao contrário do mito, alguém resolveu sair da caverna de Platão para observar o que havia do lado de fora da caverna de Platão.

O resultado foi a destruição da ordem social institucionalizada, passando por um período de revolução forte com a desorganização causada pelo rito de passagem e a assimilação e a adaptação pelo sincretismo das culturas diante do choque das civilizações.

Imagino os indígenas quando se depararam com as primeiras caravelas surgindo do fundo das águas do oceano Atlântico onde os tripulantes europeus sabiam que estavam descobrindo novas terras, mas os nativos tivera a percepção de terem encontrado com os deuses: com uma língua de um idioma estranhos, com trajes e armas que nunca tinham visto, extremamente poderosas, com tecnologias mágicas como o espelho, o pau de trovão que cuspia fogo, o mágico machado de deitava árvores rapidamente, o facão que poderia cortar facilmente qualquer fruta, os tecidos das roupas, e tudo era encantado.

A estrutura da sociedade indígena previa uma certa ordem hereditária que terminava tão logo o novo cacique era estabelecido de modo vitalício, assim como os feiticeiros e curandeiros, os guerreiros, as mulheres, os adultos e as crianças, cada qual no seu lugar determinado na sociedade.

Todos eram iguais cada qual em seu estamento na camada social correspondente ao seu sistema hereditário e pelo nascimento eram dados as condições de classe e de casta social.

Depois da Idade Média, uma nova ideia percorreu toda a sociedade da Europa sobre um tal antropocentrismo substituindo a ordem tradicional social e religiosa: agora os revolucionários da Revolução Francesa de 1789 falavam da utopia da igualdade e do fim das diferenças baseados no nada, sem uma prova científica ou histórica de poderia dar certo um modelo de sociedade novo onde que todos seres humanos são iguais e que podem ser intercambiáveis nos papéis sociais na divisão social do trabalho social, com mobilidade na subida e descida social livre, e, desde então, a sociedade teve que se adaptar aos: desemprego, anomia de planejamento das profissões, e a oferta e demanda de mão de obra e de produtos, sem nenhuma regra; produziu a revolução industrial e mercantilista a crise de logística e de distribuição de bens e de serviços que Adam Smith chamou de mercado livre e que Ricardo assumiu que a mão invisível da anarquia do mercado organizaria de modo automático o feedback de demandas, produzindo oferta no segundo instante onde existisse a crise de demanda; e de modo inverso, o excesso de oferta, no momento seguinte, neutralizaria o excesso de produção trazendo de volta o ponto de equilíbrio do mercado.

O único problema deste mecanismo consiste no tempo de transição entre o excesso de oferta até chegar ao excesso de demanda, podendo este interstício produzir efeitos sociais desastrosos como o desemprego, a fome, a desorganização social, as guerras e as disputas pelos fatores de produção e pela linha de cadeia de suprimentos escassos em uma disputa que pode conduzir à morte pelas guerras de conquista e de simples saques e extorsão.

Difícil defender a ideia de que a liberdade destruiu a ordem social: mais fácil convencer as pessoas de que todas elas nunca serão ricas ou chegarão ao topo da pirâmide social; isso é desnecessário e destrutivo da divisão social do trabalho social; isto se percebe perfeitamente em sociedades com dificuldade para suprir as suas lacunas na cadeia de produção, como em países inteiros onde faltam profissionais, como aconteceu com a falta de pedreiros, encanadores, lixeiros e garçons na rica Alemanha de 1980, e agora o mesmo acontecendo em 2024 no Canadá, Austrália, Coreia do Sul; a sociedade entra em guerra pelo status social onde pessoas nos USA, nativas, deixam de ter uma atividade produtiva econômica porque não aceitam status profissionais baixo porém muito bem remunerados como: diaristas, cozinheiros, pedreiros, pintores que tem baixa visibilidade e status social, então estas profissões são preenchidas por migrantes que passam a desfrutar de uma remuneração muitas vezes maior do que as profissões mais prestigiadas socialmente, as preferidas e escassas no mercado de oferta de mão de obra dos nativos.

O universo conspira contra o igualitarismo, oito planetas totalmente diversos, não existe uma única estrela no céu igual a qualquer outra, uma única folha na mesma árvore igual a outra folha de árvore, com mesmo tamanho, cor, forma e duas impressões digitais no planeta inteiro, dois fundos de retina idênticos na população humana, dois indivíduos iguais, duas montanhas iguais: onde foi que buscaram a ideia de perfeição na igualdade? 

Igualitarismo é a mais perfeita forma de anomalia intelectual, moral, racional, religiosa, social, física, biológica da cultura e ciência humanas!


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