quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Espancando a verdade

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político
Espancando a verdade
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A verdade nua e crua precisa ser espancada, torturada, espremida e sacudida para confessar as suas fraquezas e deficiências.

Caso de Filosofia, onde encontrar a verdade absoluta.

Kant, escreveu duas obras opostas sobre a busca da verdade absoluta: "Crítica da Razão Pura" e "Crítica da Razão Prática", a primeira pensava sobre valores universais absolutos e perenes na linha do tempo, sempre invioláveis, a segunda era baseada na moral relativística, ponderada pela sociedade, pela linha do tempo.

A epistemologia científica de Karl Popper e seu método refutacionista baseado na crítica hipotética dedutivista obriga ao pesquisador espancar a sua verdade e tortura-la até que confesse as suas falhas, se não obter a confissão certamente o tempo o fará.

Frequentemente meus ex alunos, - não leciono mais regularmente em virtude da minha aposentadoria, - fazem a cobrança para que eu grave vídeos e faça áudios em podcast. A geração que odeia decifrar símbolos aleatórios ordenados em strings por regras rígidas de gramática e semântica chamada de idioma escrito.

Ouvir não requer a mesma habilidade cognitiva do que ler, ou assistir através de vídeo é um pouco mais fácil, depois que fomos socializados a decifrarmos a a linguagem de cinema inventada pelos geniais franceses Lumiérè. 

Mas não foi fácil, as primeiras salas de cinema tinham os explicadores para que os espectadores entendessem a linha de tempo da linguagem nova, misturando passado, presente, futuro assíncronos.

Assim, um aluno pertencente a outra turma e da nova geração me pediu que explicasse o fenômeno de inflação de preços na economia, fazia parte de um seminário, e nenhum Google ou livro de Economia conseguiu satisfazer em palavras e ideias simples esse entendimento crucial.

Dei uma resposta muito simples, simplória, sem precisar utilizar qualquer modelo de oferta X demanda, custo marginal, comportamento do consumidor, muito menos falar de mercado.

Tenho por crença desconstruir a ideia de merca;do, fica difícil para um cientista político, admirador da teoria dos jogos de Von Newman, acreditar em coisas isotéricas como: vontade livre do consumidor, sem poder imaginar que ninguém tentaria influir nos preços para tirar vantagem, e que a mão invisível de Adam Smith, suposta, corrigisse essa distorção com muita naturalidade e automatismo mecânico orgânico.

A inflação é uma doença social, uma espécie de distúrbio que se cura quando a sociedade pára de tentar obter vantagem sem trabalho, sem produção, sem esforço.

Então recorrendo à micoeconomia, trazemos a categoria de mercadorias de demanda inelástica, que são os produtos e serviços que não possuem substitutos e que o consumidor não pode sobreviver sem eles, são estes produtos que podem ser usados para algum agente econômico inescrupuloso iniciar um processo doentio de inflação.

Depois de iniciada a corrida dos preços para cima, todos correm para compensar a desvantagem, então o processo todo perde o controle porque ele é assíncrono, ou seja, cada agente econômico aumenta seus preços em datas diferentes porque tem produtos e serviços com necessidades e demandas de mercado maiores ou menores, os de menor demanda e menor necessidade de consumo são os primeiros a sucumbirem, e os salários são os últimos da lista de demandas a serem compensados pela corrida da inflação.

Bingo!

O segredo é a assincronicidade do desalinhamento dos preços!

O Estado não tenta parar a inflação porque os impostos estão indexados aos preços, quanto maior o preço mais imposto pode ser recolhido, então algo precisa incomodar o Estado e os vendedores de mercadorias  de demanda inelástica para parar a inflação.

A inflação começa pelos produtos insubstituíveis e essenciais como: energia, água, remédios, cigarros e bebidas alcoólicas.

Bingo!

Quando o desalinhamento produz as greves de transportes, atendimento nos hospitais e paralização, o paradismo provoca no primeiro momento a eleição dos culpados visíveis, - os grevistas -, e depois de muitas baixas, quebra-quebra, prisões e delinquências sociais, revoltas, o Estado faz as únicas coisas que podem interromper a inflação: aumento dos salários, e reindexação nominal da moeda.

A pergunta inevitável é: como parar a inflação?

Sabemos como começa, sabemos como termina. Sabemos como terminá-la. 
Se os salários fossem aumentassem no início da inflação os agentes parariam imediatamente cessando toda a cadeia do ciclo inflacionário, mas isso seria contra intuitivo, contra mercado, o elo mais fraco da cadeia de eventos inflacionário são os assalariados. Simples assim. Sincronizar os salários com os preços, ninguém ganharia com a inflação, cessam os motivos para ela, a inflação, existir.

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