terça-feira, 6 de agosto de 2024

Era da simplicidade medieval

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

Era da simplicidade medieval



Sempre existe uma tentação para a simplificação da civilização talvez provocada pela onda contrária da civilização atual paradoxalmente onde a cada 24 horas criamos mais informação do que há cento e cinquenta anos acumulamos no intervalo de cem anos passados.

Ninguém mais seria capaz de acompanhar a disseminação de informações atuais, precisamos ser capazes de selecionar e de garimpar a informação e saber onde encontrar a informação é uma dificuldade intransponível, por outro lado temos opções infinitas para desfrutar de informações sobre qualquer coisa e sobre todas as coisas na atualidade.

O excesso de informações significa que não temos mais um conjunto de informações capaz de permitir conversarmos e nos comunicarmos de modo cognoscível entre as pessoas, e essa dissonância cognitiva é a causa de tanta irritação nas redes sociais, são tantas formas de abordagem e são tantos os dados e informações que as pessoas não conseguem estabelecer um diálogo sem terminar em um elenco sofístico constituindo uma falácia de conclusões dissonantes.

Antes, criavam-se palavras e expressões idiomáticas ao longo de uma geração agora novas palavras e novos significados estão borbulhando a cada fim de semana, os filologistas não dão conta de calibrar o vernáculo na mesma dinâmica em que os significados são adicionados aos novos e velhos vocábulos ressignificados na linguagem e no idioma para se manterem atualizados, por isso não é mais possível estabelecer um protocolo de comunicação homogêneo na linha de tempo suficiente para permitir a codificação e a decodificação da linguagem entre o transmissor e o receptor da mensagem simplificando as regras de sintaxe e concordância.

Estamos precisando de tradução simultânea e instantânea para manter um processo de comunicação social que possa minimamente ser possível a troca de ideias entre pessoas num intervalo de tempo suficiente para evitar uma ruptura semiótica.

Toda a teoria musical foi defenestrada e simplificada no novo som do Hip Hop, ou no RAP, na música eletrônica, se abandonou os acordes e melodias desenvolvidas em frases musicais com um desfile de notas em sequências escritas seguindo as normas de harmonia dentro da armadura de tonalidade definida na pauta do pentagrama, a única resistência não abolida foi o ritmo que foi o único componente estrutural da música que não foi abolido, sobre um ritmo se constrói um estilo musical, a sequência de notas musicais ficou simplificada ao monótono padrão medieval do canto gregoriano monofônico, sem acordes sofisticados e variados, tudo muito simplificado, qualquer um pode ser artista musical ou um poeta ou um produtor de conteúdo das redes sociais.


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