sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Síndrome da panela vazia

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

Síndrome da panela vazia



Existe um comportamento social que intriga aos empresários dentre tantos outros chamados comportamento de consumidor, comportamentos misteriosos e sem uma explicação ou sem uma justificativa lógica ou prática, mas, como tudo em comportamento social possui muito mais da significação simbólica ritual, litúrgica, quase uma magia, encantamento, mito como é a regra social de comportamento que mesmo não sendo escrita todos a conhecem em respeitam.

Quando você inicia a servir os primeiros clientes do self service, as panelas ainda estão cheias de comidas, o feijão fumegante, o arroz transbordando e a bandeja cheia de bifes de carne os clientes se acotovelam disputando os pratos para sentarem em suas mesas e se servirem, mas à medida que o tempo passa, as panelas vão se esvaziando e os últimos clientes deixam de comer porque não querem catar os restos de comidas ainda quentes e saudáveis que ficaram nos fundos das panelas e bandejas, esta é a síndrome da panela vazia, para vender comida as panelas precisam estar sempre cheias de comidas.

Essa regra, uma destas regras, acabam por aumentar os custos de todos os serviços e produtos, como por exemplo, o modelo de automóvel mais comercializado passa a impressão de que se está vendendo muito deve-se às suas superiores qualidades, mas qual nada, nenhum consumidor de automóvel é engenheiro mecânico nem sequer conhece profundamente as mais de 300 opções de que dispõe atualmente um cliente para adquirir um carro popular no Brasil, então ele utiliza de uma proxy muito prática que ao invés de ler as 120 páginas do manual do automóvel que está interessado ele pergunta ao seu amigo ou parente que também possui o modelo de carro e que nunca leu seu manual, e vai assim eliminando pelas conversas com vizinhos e colegas de trabalho uma série de modelos e por fim sobram mesmo os modelos mais vendidos, por isso a propaganda insiste no mote de que seu produto é o mais vendido, por isso ele é bom e ele é bom por que é o mais vendido, este círculo virtuoso acaba justificando que quando o consumidor se vê com um problema em seu carro ele julga que foi má sorte que o persegue e que pelo visto ninguém mais teve aquela mesma má sorte.

Quando um cidadão reclama que precisa esperar oito meses para ser atendido em uma consulta médica agendada ele precisa entender que se a consulta no serviço público estivesse imediatamente atendida significa que o serviço está extremamente ocioso, isso significa que o Estado está gastando de modo extremamente ineficiente os recursos com saúde de modo que sempre existe uma folga relativamente entre a demanda e a oferta, isso significa custos muito elevados para os contribuintes que bancam o serviço.


Uma loja com as prateleiras sempre cheias e fartamente abastecidas significa que existe uma ociosidade e baixa demanda gerando custos de oportunidades no custo de estocagem e muito capital paralisado, por isso a moderna indústria automobilística inventou os sistemas just in time ou o toyotismo, onde os insumos somente chegam à linha de montagem exatamente no momento em que será aplicado no veículo em montagem evitando depósitos de partes e de suprimentos, é o suprimento zero.

A síndrome da panela vazia me deixava intrigado mas eu nunca caí na tentação de servir excesso de comida para manter os últimos a chegarem ao self service interessados em consumir.


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