sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Sexo no Japão

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

Sexo no Japão


Eu sou cientista político, portanto, o problema japonês está sendo estudado por nós, pelos sociólogos, pelos antropólogos e pelos psicanalistas; desde Freud, que a sexualidade sempre foi alvo de preocupação dos políticos, dos economistas; sem dúvida, o sexo está na primeira preocupação das religiões, e menosprezar e subestimar o assunto não parece ser uma estratégia inteligente para entender o que acontece com a falta de aparente interesse dos japoneses adultos pelo sexo, e pela companhia de pessoa de outro sexo, uma vez que muitas considerações precisam ser apriorísticas.

A primeira vista parece uma decisão individual, erro cometido pelos incipientes em Sociologia e comportamentalismo, pois antes de qualquer análise, o ser humano é um ser social, isso quer dizer que uma pessoa não cria um comportamento para si, seria como se alguma pessoa quisesse criar uma língua um idioma apenas para si próprio porque desejou isso: como seria útil uma língua ou idioma que ninguém conhece, apenas o seu criador?

Então os significados dos atos sociais, comportamentos sociais de ação ou de abstenção de ações, o fazer e o deixar de fazer, são mensagens que são trocadas dentro de um sistema de significado intrínseco apenas decodificado para a cultura local como acontece com o idioma; o idioma japonês pode ser ensinado para qualquer pessoa estrangeira, mas somente os nativos daquela região e daquele bairro sabem entender e se comunicar com todas a nuances do idioma, como, por exemplo, em idioma brasileiro dizer a expressão "tudo isso" não é o mesmo que dizer "isso tudo", somente os nativos sabem o que significa a expressão "onde tu vai"; os gringos aprenderam na escola de português para estrangeiros a falar um idioma não fluente que seria assim: " para onde o senhor se dirige agora?" em lugar do coloquial "onde tu vai".

A língua falada e escrita é apenas uma parte do idioma, que para ser entendido precisa do apoio da: inflexão da voz, da gesticulação, da postura do corpo, do timbre e da altura e volume do som; pode ser que um grito altere a mensagem ou o sussurro altere o conteúdo da mensagem.

O corpo transmite as mensagens desde a forma de se vestir, desde a maneira que ele é usado: fazer sexo com a prostituta não é um substituto para o sexo com o parceiro, nem com a amiga, nem com a amante, pois cada situação passa uma mensagem complexa e diversa, portanto, o fato do japonês se abster do sexo com outro japonês passa diversas mensagens, e evidencia um complexo de situações.

A segunda consideração é que estudos de comportamento entre animais mamíferos superiores, como gatos, ratos, baleias como as orcas, macacos, indicam que a superpopulação e a concentração limite de pessoas em um ambiente saturado de pessoas produz uma mudança de comportamento muito radical, em alguns casos exacerba a violência e a intolerância; sabemos que estar muito perto muda o comportamento do indivíduo; o efeito grupo faz com que a pessoa individualmente se comporte de acordo com as expectativas de comportamento do grupo; então a multidão tem um comportamento que não é a soma nem a síntese do comportamento de cada cidadão na multidão, pessoas em multidão comportam-se de modo totalmente diverso de cada um ali naquela multidão.

Outra consideração diz respeito ao processo de disputa entre os sexos, e a tradição que se opõe aos novos costumes e às necessidades da economia que obriga as expectativas sociais, nos casos do Japão e da Coreia, a porta de entrada do jovem na sociedade vencedora termina no vestibular para uma renomada universidade, então os suicídios começam no dia do resultado do vestibular, o ostracismo ou a entrada no mundo dos bem sucedidos é definido pelo vestibular para a universidade de Tóquio.

Então, para concluir, sem precisar de 80 páginas e de citações necessários de 120 autores de comportamento social, sexual e político, posso resumir que a sociedade japonesa construiu um modelo de comportamento social que conduziu ao efeito colateral não antecipado e não desejado onde o sexo entre as pessoas foi aos poucos sendo abolido em função das expectativas sociais, passando a representar um comportamento atávico, animal e não civilizado, assim as pessoas se afastarem do sexo como uma vez a sociedade grega há 2550 anos fez o mesmo quando os filósofos influentes aboliram o sexo heterossexual e adotaram o sexo homossexual masculino e consideravam que o sexo com seres inferiores, como as mulheres e com os escravos e com os pobres, não estava a altura dos deuses do Olimpo nem dos homens de intelecto superior.


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