Música para cruzamento da espécies
Vivemos a fase da trilha sonora da música para cruzamento, para o acasalamento da espécie homo sapiens no Brasil.
Justamente nós brasileiros que saímos da era da modinha da música para se espremer no vaso sanitário, segura o Tchan, dançando em cima da boca da garrafa, a gente fazia o coco, fazia o xixi, tudo na boquinha da garrafa, e era o grito para o início da era e da fase bucal, era entrar na divisa ou fronteira da zona do beijo duplo, triplo, era beijar e sair logo à procura de outras bocas distraídas, assim foi a iniciação sexual no rito de passagem pós adolescência tardia de milhões de paulistanos que libertos do protocolo rigoroso da Paulicéia formal dos escritórios da Avenida Paulista, sem terninhos, sem tailleur, sem salto alto, e sem protocolo social quatrocentão, a paulistada se liberava de quatro séculos de educação nos colégios mais caros do Brasil, com uniformes de gala, uniformes de aula, uniformes de festa, e a beca impecável de formatura, finalizando a luxuosa vestimenta de baile de depois das formaturas.
Agora estamos fechando a fase do modo pós romance, onde celebramos com grande pompa os amores frustrados, os romances fracassados, a traição, a depressão amorosa, tudo que pode ser a outra face de um romance idealizado do século passado virou apenas a lamentação temática dos amores fracassados, o tema da melancolia amorosa explorada de todos os ângulos, com muita bebedeira, muitas horas nas redes sociais se vingando da separação para mostrar que agora a fila andou, tudo segue em frente muito melhor, apesar da dor imensa da separação, essa a trilha sonora que se encerra no novo milênio no Brasuca, e assim o sertanejo disputa com o funk brasileiro que se vinga de anos de machismo tóxico e a vagina domina a dança, as mulheres se agacham para mostrar a vagina e esfregar no cavalheiro a sua vagina que agora é a coreografia principal do funk, os garotos apenas aparam a pélvis das meninas quase ajoelhadas para esfregar na garoto o poder da vagina e fazer a rendição dos falos mas nas condições impostas pela testosterona feminina.
Vai longe a era dos bailes onde os quadris desenhavam uma meia lua com pequenos e vigorosos movimentos apenas insinuando uma distante sensualidade, tudo muito discreto com muitos acordes complexos com melodias extremamente elaboradas em muitas camadas sonoras com dissonantes já aguardados pelos ouvidos treinados a uma sonoridade bastante variada e colorida de novidades que pareciam nunca mais acabar a cada semana dezenas de músicos trabalhando durante meses inteiros para detonar os salões com novíssimas coreografias que acompanhavam as novidades de contraponto e fuga inspiradas nos acordes clássicos de Beethoven, Rachmaninoff, Handel, Puccini, Barh muitas frases plagiadas de clássicos como Tchaikovsky e harmonias sofisticadas tiradas de opus de Mozart, foi a era da música lapidada nos salões das grandes discotecas, não dava para ser artista sem estudar muita teoria musical, a era disco acabou com a invenção da variante dela chamada disco techno, com rifes repetidos no sintetizador eletrônico e na bateria eletrônica com os DJ e MC construindo o tema sobre uma base da disco fazendo ao vivo a mixagem e o drive em cima da agulha de uma vitrola muito cara sempre em cima de um disco de vinil.
E agora o que vem depois dessa avalanche de perturbações sonoras e insinuações eróticas; chegamos ao limite? Então a moda volta ao ponto de início como uma espiral se reinventando do passado e refazendo tudo como se fosse novo, afinal as nova geração nunca ouviu o passado, e o passado é o remake de quem acha que é tudo novo.
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