segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Tratados inúteis

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

Tratados inúteis

O Tratado de Tordesilhas firmado entre a potência mundial de Espanha e a potência marinha mundial de Portugal, imaginaram nos palácios cheios de reis, rainhas, príncipes e princesas, seus generais e almirantes cheios de si, com a arrogância das celebridades mundiais no topo da escala de poder indevassável, com as suas poderosas caravelas transoceânicas que eram o equivalente aos porta-aviões movidos a energia nuclear dos nossos tempos contemporâneos, com as suas poderosas armas de ataque que eram as esferas de ferro maciço que eram lançadas pelos poderosos canhões de pólvoras com se fossem mísseis de cruzeiro Tomahawk ou Calibri modernos, poderiam destruir os fortes dos inimigos na costa marinha ou mandar outros inimigos para o fundo do mar.

Eram os países que não poderiam ser desafiados por nenhuma outra nação do mundo no século XV.

Baseados nesse poder inigualável dividiram o mundo em duas partes, a metade para cada potência, sem plebiscito, sem assembleia da liga das nações, sem autorização que qualquer organismo multilateral e internacional, as potências nunca pedem licença para as suas licenciosidades internacionais, é o princípio Hobbesiano do realismo nas teorias dos modelos de relações internacionais.

Imagina hoje que uma potência movida à vela de ventos, poderia supor poderosa o suficiente para dividir entre si o mundo todo que precariamente conseguia navegar pelas tempestades e dificuldades tecnológicas de navegação e de logística pretender que poderia conquistar e explorar o mundo todo a partir de caravelas precárias.

Para entender o cenário, imagine que hoje, a China, a Rússia e os EUA dividissem em um tratado os planetas do sistema solar entre si, seria ridículo senão engraçado, louco e impensável que com a nossa tecnologia nos julgássemos capazes de explorar e colonizar os planetas do sistema solar.

Foi isso que fizeram Espanha e Portugal no século XV.

Ainda hoje, os EUA tem a certeza que conseguem controlar todos os países da terra a partir de sua imensa capacidade militar e econômica, mesmo sabendo que a realidade conspira contra essa pretensão fantasiosa, porque a natureza conspirou desde o início contra isso.

A natureza colocou cerca de 90% das terras no hemisfério Norte, e 10% restante dos territórios terrestre secos estão no hemisfério Sul, isso significa que 90% dos países e da população da terra está situada no hemisfério Norte da terra.

A natureza colocou quase todas as reservas de nióbio em forma de minério composto no Brasil, a natureza colocou 70% das reservas de petróleo e gás nos países pobres e na Ásia russa, a natureza colocou 99% das reservas de terras raras com as quais se fazem as telas dos celulares e tablets justamente na China, a natureza colocou 85% das reservas de lítio com que se fazem 99% das baterias elétricas na Bolívia.

Então seria natural que os países detentores das matérias-primas as vendessem para os países capacitados industrialmente processarem estes minerais e os transformassem em produtos finais e os vendessem para a humanidade.

Os detentores do desejo de poder dividiram o mundo em capitanias hereditárias onde estabeleceram o monopsônio, ou o oligopsônio para determinarem os preços de compra das matérias-primas que seriam impostos aos pobres detentores de matérias-primas, e os supostos poderosos perpetraram uma conspiração onde apenas as grifes podem ter acesso através de sistemas de homologação e controle de qualidade por eles estabelecidos apenas um grupo de produtos industriais podem ser livremente comercializados nas zonas de intenso comércio com a devida homologação que cria a reserva de mercado próprio de suas conveniências, sob penas de isolamento, boicote e sansões desmanas e desproporcionais para destruir economicamente qualquer intruso que não faça parte das ligas de produtores como na idade média acontecia com as ligas Hanseáticas poderosas que controlavam todo o comércio de escravos, de açúcar, de pau brasil.

Comércio Internacional virou apenas uma expressão vazia num mundo dividido como se fosse uma versão moderna do Tratado de Tordesilhas, disfarçado de mercado mundial onde a lei da oferta e da procura nunca existiu realmente, apenas no mundo virtual da mídia e das organizações internacionais fictícias como a ONU, OTAN, OPEP, OCDE, OMC, FMI, BM, OEA, e tantas outras tentativas de tornar menos colonialista as relações assimétricas internacionais.


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