Mostrando postagens com marcador liberdade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador liberdade. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Liberdade e Felicidade

disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político


A Felicidade
A vida tem um propósito?
Os grandes filósofos gregos elegeram uma sequência de tentativas para restabelecer esta discussão talvez refazendo a pergunta, ou fazendo a pergunta certa:
O termo grego ataraxía, introduzido por Demócrito (c. 460-370 a.C.), significa tranquilidade da alma, ausência de perturbação. É um conceito fundamental das filosofias de epicuristas e dos céticos, e pode traduzir-se como imperturbabilidade, ausência de inquietação ou serenidade do espírito.
Ataraxia é a disposição do espírito que busca o equilíbrio emocional mediante a diminuição da intensidade das paixões e dos desejos e o fortalecimento das almas face às adversidades. A ataraxia caracteriza-se pela tranquilidade sem perturbação, pela paz interior, pelo equilíbrio e moderação na escolha dos prazeres sensíveis e espirituais.
A ataraxia está muito próxima da apatia proposta pelos estóicos, na medida em que ambas caracterizam estados anímicos que contribuem para o alcance da felicidade através da disciplina da vontade para moderar os desejos e para aprender a aceitar os males voluntariamente. Ambas promovem a liberdade face às paixões, aos desejos, às coações, às circunstâncias e, mesmo, ao destino.
Distingue-se da apatia pela forma como promove a felicidade. Enquanto esta procura eliminar as paixões e desejos, a ataraxia tenta criar forças anímicas para enfrentar a dor e as adversidades. A ataraxia implica saber aceitar as situações e conviver com elas, ponderando o sentido e a utilidade dos prazeres e do que possivelmente magoa.
A ataraxia surge, muitas vezes, complementada pela aponia, que se traduz por ausência de dor, ausência de esforço como sofrimento. Segundo Epicuro, a felicidade alcança-se com a ataraxia, que proporciona um prazer estável, e deve ser acompanhada pela aponia, ou seja, pela ausência de dor física.
Esta praga ocidental dionisíaca introduzida pelo objetivo em si mesmo representado pela da busca da felicidade através do caminho do menor esforço possível, também chamada pelos utilitaristas de racionalismo individual, tem lançado as pessoas desesperadamente em busca de atalhos para esta alegria efêmera, que pode vir desde um gole de uma gelada cerveja, até o sexo inconseqüente, e, no estado mais agudo, ao uso de crack ou outras drogas mais sociais.
As pessoas elegeram, em nome destes princípios, que somente estarão realizadas quando alcançarem a tal felicidade. Essa busca por algo que nem sequer sabem se realmente o desejam, a felicidade, e que quando encontrá-la não fazem perguntas para si mesmo se é isto que é importante para as suas vidas.
Em primeiro lugar deveriam perguntar: para que serviria a felicidade? Depois, a segunda e óbvia pergunta seria: se a felicidade seria em si mesmo um fim para o seu projeto de vida. A terceira pergunta seria então: o que seria de suas vidas depois de alcançar a felicidade.
Respondendo a estas perguntas os filósofos gregos criaram pelo menos cinco variantes de escolas de pensamento filosófico para justificarem cada uma destas possibilidades.
A questão moral (costumes), que é a Ética secular da praxis social, foi derivada da tentativa de substituição à época dos filósofos gregos desde 550 a. C., dos preceitos determinativos do comportamento social e pessoal dados pela religião e pela tradição: tais preceitos doutrinários e dogmáticos.
Quando se tentou substituí-los (a religião e a tradição) pela racionalidade filosófica, dando-se aos preceitos éticos as justificativas lógicas e principiológicas para o comportamento considerado reto, socialmente aceitável, baseados na razão instrumental.
Eliminar-se-iam o medo da punição eterna, da punição de consciência, o medo da reprovação social baseada nos costumes tradicionais intraduzíveis, místicos e míticos, pelas variantes racionalistas principais: a) Ataraxia; b)Epicurismo; c) Ceticismo; d)Justiça; e) Estoicismo.
a) Ataraxia: é a busca da completa serenidade interior, pelo abandono total das perturbações produzidas pelo desejo, através do abandono total de todo desejo; é o desejo não realizado, não concretizado, que leva à frustração. E o principal de todos os desejos é o desejo de felicidade. A frustração levada às últimas consequências conduz à violência ou à apatia, tornando o indivíduo antissocial.
b) Epicurismo: ou hedonismo, seria a busca utilitarista da felicidade através do prazer, fazendo-se um balanço desta busca da felicidade através da economia e escolha racional entre o prazer e o dever, entre o sacrifício e o prazer, fugir da dor e do sacrifício desnecessário e improducente, minimizando as expectativas de sofrimento e maximizando as expectativas de prazer e de vantagens através do cálculo egoísta entre o dever e o prazer, entre o custo e o benefício.
c) Ceticismo: seria a busca racional da verdade absoluta pelo abandono de todas as idéias e noções préconcebidas e apriorísticas; buscar a verdade livre de quaisquer condições preexistentes, epoché, imutáveis ou indiscutíveis, insofismáveis. Tudo pode e deve ser questionado, examinado, verificado, investigado, posto à prova, nada pode ser desprezado ou excluído da censura e da dúvida.
Duvidar de conceitos e das verdades eternas e das afirmações insofismáveis.
Tudo pode ser questionado, verificado, discutido e modificado. Tudo deve ser testado, demonstrado e atestado. Somente pode ser verdadeiro aquilo que sobreviver ao fato concreto. No limite, chega-se ao niilismo Nietzcheriano: nada é nada, nada é tudo, e tudo é nada, não existem propósitos nas ações e intenções humanas.
d) Justiça: a noção de justiça, representada pela balança, indica que os nossos atos não podem exceder nem ficarem aquém da medida certa e exata, nos momentos e lugares certos: sem excessos nem falhas, ou faltas. Sendo justos estaremos sempre mantendo o equilíbrio da balança; nem bondade, nem maldade; nem doar nem receber; nem retirar nem entregar nada que não seja direito. Cumprir os deveres na estrita medida do necessário.
e) Estoicismo: é aquela corrente filosófica que ficou conhecida por defender a importância do sacrifício pelo futuro, deixar de gastar hoje para usufruir depois, pois nada se consegue de útil sem sacrifício, sem o esforço devido. O sacrifício de agora, a poupança, a previdência, a prevenção, abstinência é que podem prover e determinar o amanhã.
A vida sem coragem para fazer renúncias, para abrir mão do imediatismo dionisíaco e das fantasias e dos sonhos acaba em arrependimento e frustração; o planejamento, a obstinação, a frugalidade, a simplicidade e a abnegação são os únicos caminhos para o sucesso.
Como se vê, não é fácil entender-se a questão do desejo humano. A questão é mais antiga ainda quando se considerar que Ataraxia e o Estoicismo foram contribuições epistêmicas legadas pelos orientais, chineses, indianos, trazidas à cultura helênica antes da era dos filósofos, pelos grandes aventureiros que saíram pelo Oriente em busca de novos conhecimentos. Estes conhecimentos datavam de mais de dois milênios anteriores à cultura helênica.
O imediatismo e a ignorância audaciosos levam pessoas simplórias intelectualmente a submeterem-se aos enganadores pseudos-guias espirituais, que sem preparo moral submetem pessoas que sem respostas para as suas angústias e premidas pelo desespero entregam-se ao que lhes parece ser a única solução imediata, e a última saída em muitos casos se esgotados os recursos da medicina e do sistema jurídico estatal.
A ausência de solução não implica necessariamente em qualquer solução. É preciso ter a humildade para entender e aceitar esta fatalidade.
Diante da morte e da precariedade muitas pessoas aceitam resignadas o seu destino. Outras justificam atos criminosos em nome do desespero da ausência de alternativas.
O Estado deveria valorizar mais as pessoas que procuram fugir a estas alternativas, e o que vemos é o contrário: o perdão do crime famélico, o perdão dos menores delinqüentes, em lugar de valorizar aqueles que nas mesmas condições preferiram as privações ao cometimento de atos antissociais.
A liberdade é uma prerrogativa dos irracionais, dos animais e da natureza. O maior privilégio da razão e do ser humano dotado dela é poder se autoconter, sublimar os seus impulsos animais e intrínsecos e se autodominar. Isto é a verdadeira liberdade: a liberdade de não fazer o que lhe é facultado, mas, não lhe convém.
O autocontrole explicita o lado racional e social dos grupos humanos diferenciando-nos dos animais que apenas seguem aos seus instintos, sem autocensura.
Sofrer faz parte da existência humana, nossos sentidos nos despertam o prazer e a dor pelos mesmos mecanismos. Fugir de um deles em detrimento do outro somente nos remete ao primarismo infantil por que ambos os aspectos fazem parte do nosso sistema fisiológico.
Alguma coisa do nosso primitivo instinto reptiliano continua latente apesar da evolução darwiniana, e teima em não evoluir, este instinto aguça a nossa sexualidade, a nossa gula e o nosso medo da morte.
Os sentidos da educação, da socialização, da religião, da ética, da moral, e da razão falhariam se a raça humana não conseguir domar os instintos mais primitivos quais sejam: o sexo, a gula, a morte e o medo. Sem isso não seremos humanos.
Apenas animais em evolução.
A Liberdade
Na natureza o conceito de liberdade, visto do alto da engenharia, é um caso de inaplicabilidade total. Se recorrermos à famosa Teoria dos Sistemas Gerais de Bertalanffy, veremos que o tal grau de liberdade absoluto termina em caos total, por causa do princípio da entropia tomado emprestado da Termodinâmica, ramo da Física que estuda as energias.
O princípio da Entropia nos diz, segundo a primeira lei da termodinâmica, que a energia uma vez criada (transformada - pois nada se cria no universo - da matéria) se não for formatada, se não for domada esta energia livre irá causar uma sinergia e uma sinestesia em algum lugar do universo, aumentando o grau de desordem, pois que os físicos são muito pessimistas com relação à espontaneidade da ordem natural no universo, por causa da lei da entropia eles acreditam que a única coisa que prospera espontaneamente no universo é a desordem.
O princípio da entropia choca-se frontalmente com o desejo dos ecologistas. A entropia deixa muito claro que o fim do universo, do multiverso, das múltiplas dimensões espaço-temporais possíveis e existentes é o caos, e não a ordem, não o cosmos Grego.
Se você tomar, ainda na engenharia, a roda do seu automóvel, vai verificar que ela somente é útil porque teve os seus graus diversos de liberdade totalmente limitados severamente.
Uma roda de automóvel possui muitos graus de liberdade, mas, somente alguns destes graus de liberdade podem nos ser úteis.
Para começar, uma roda pode:
a) girar para frente;
b) girar para trás;
c) girar à esquerda;
d) girar à direita;
e) subir;
f) descer;
g) oscilar para frente;
h) oscilar para trás;
i) oscilar para a lateral direita;
j) oscilar para a lateral esquerda;
k) cambar para a direita;
l) cambar para a esquerda;
m) girar no eixo longitudinal nos dois sentidos
n) fazer qualquer combinação dos casos anteriores, dois a dois, três a três, etc.;
Como se pode imaginar, quase que infinitos modos de movimento pode ter uma roda de automóvel.
Tal veículo seria um perigo total para si mesmo, e um perigo total para a segurança de trânsito: seria inviável como transporte.
Então, os engenheiros mecânicos de suspensão de automóvel limitaram severamente estes graus de liberdade da roda, ou seja, os engenheiros transformaram a roda-livre em roda cativa, escrava, limitada aos movimentos realmente úteis e previsíveis, controlados, limitados e administrados para se tornarem úteis como meio de transporte.
Com se pode depreender a liberdade é uma utopia do mais alto grau de periculosidade não somente porque ela destrói qualquer forma de organização baseada em subordinação a qualquer sistema organizado.
Para produzir a ordem e a organização são necessários dois insumos: Inteligência e controle. Para o controle se efetivar é necessário informação, e pela informação controles são acionados para corrigir através do feedback os desvios desorganizativos que podem ser destrutivos e desestruturantes para os sistema.
Portanto, vigilância e controle permanentes são necessários para manter o sistema em sua integridade. Nada disso está assegurado com a liberdade total, absoluta, pois para cada grau a mais de liberdade exigem-se muito mais controles reduzindo estes graus de liberdade. Liberdade e controle andam em lados e sentidos opostos. Liberdade e racionalidade coletiva vivem em permanente conflito de racionalidade.
O ser humano não é capaz de, utilizando a sua racionalidade individual, produzir coletivamente racionalidade social, seria lutar contra as suas próprias expectativas individuais, pois ele seria incapaz de ver o bem comum, este objeto virtual que pertence a todos e não pertence a ninguém individualmente, logo, não traz vantagens pessoais para todos individualmente, mas afeta a todos.
A racionalidade coletiva tem de ser imposta de cima para baixo, ela não nasce espontaneamente nem de baixo para cima, nem do individual para o coletivo.
Para isso, muitas decisões de liderança precisam ser antipopulares e muitas vezes antidemocráticas, como, por exemplo, a vacinação obrigatória, que no século passado, mereceu protestos de ninguém menos do que o maior jurista do mundo, Rui Barbosa, que acusou o Estado de estar violando o direito legítimo do cidadão de dispor de seu próprio corpo, contra o Estado, mas, em nome do bem comum o Estado violou este princípio, porque o bem estar coletivo se sobrepõe ao bem estar individual.
Ademais o indivíduo nunca pode saber exatamente o que é bom para si, faltam informações em quantidade, faltam qualidade e capacidade de interpretar estas informações, como, por exemplo, na escolha de um computador pessoal, de um modelo de iphone, de um automóvel, de um remédio ou de uma profissão.
As escolhas que dependem desta racionalidade individual levam ao irracional coletivo. A racionalidade coletiva depende da interferência do gerenciamento político que se sobrepõe aos desejos imediatistas e individualistas que são incapazes de perceberem os benefícios coletivos advindos de uma outra possibilidade para além do que o seu horizonte pessoal permitiria por si só sem contrariar a sua racionalidade individual. Seria um contrasenso o indivíduo se sacrificar sem perceber de imediato as vantagens que o seu sacrifício representaria para o todo, e consequentemente, para si. Poucos abnegados são capazes de aceitarem este sacrifício.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Liberdade: O Vai-e-vem No Eterno Retorno (Nietzche)

disponivel na AMAZON.COM livros de autoria de prof Msc Roberto da Silva Rocha Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

O Vai-e-vem No Eterno Retorno (Nietzche)






[Eterno retorno] é a lei de um mundo sem ser, sem unidade, sem identidade. (Deleuze)



Eterno Retorno é um conceito desenvolvido pelo filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), considerado por ele próprio um dos seus pensamentos mais aterrorizadores. Foi durante um passeio em 1881 que Nietzsche refletiu sobre os sentidos das vivências em alternâncias que se “repetem”. Embora em várias de suas obras encontremos pistas do que seria o Eterno Retorno, é na sua obra A Gaia Ciência (1882), um dos mais belos livros antes de Nietzsche sofrer das baixas de sua saúde, que ele nos brinda com a idéia mais nítida do que seria esse conceito:



“E

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Desigualdade social: origens

Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

O Corpo Teórico do Liberalismo

O utilitarismo forma uma das bases do liberalismo.

Esta base conceptual do liberalismo contém um dilema teórico que compreende as relações entre o dever e o prazer. Nesta óptica o pobre faz um balanço entre o prazer e o dever e minimiza os deveres para obter um máximo de prazer, assim o balanço da pobreza resume-se à economia de esforço para sair da pobreza.

As bases do pensamento teórico utilitarista deixam sem resposta se o emprego do cálculo utilitarista, em vista da dificuldade de se tomar uma decisão que contrarie os seus princípios, pode tornar-se uma ameaça social, ou, uma ameaça à coletividade. Justamente porque a minimização do dever pode fazer o pobre desestruturar a sociedade inviabilizando o progresso; ou, se a maximização sem limites do prazer pode tornar a competição no mercado selvagem e descontrolada, destruindo a ordem social pela ausência de regras e limites definidos.

A solução de Bentham para este dilema é que as pessoas, na sua grande maioria, são perfeitamente capazes de autorregulamentação, autocontenção, autocontrole. Para isto vir a verificar-se é preciso reduzir o poder do governo na direção do individualismo democrático:[1] obedecer pontualmente, para censurar livremente.

O conjunto de princípios utilitaristas juntamente com as idéias de liberalismo econômico, liberdade intelectual, tolerância religiosa deveriam estar centrados na questão do balanço entre a liberdade e a autoridade exercidas por quem não pode ter nenhum privilégio por ser autoridade (estado, ou, governo minimalista).

O utilitarismo, consequentemente, aboliu a concepção de bem-comum e não consegue conceber o que seria o bem supremo, nesse caso, esta concepção platônica torna-se um absurdo teórico para os utilitaristas, assim como a concepção de bem-comum de Rousseau na qual o homem saiu do estado-de-natureza onde era totalmente livre, para obedecer a um governante.

Para Bentham, isto seria uma troca irracional que transforma a idéia do contrato social numa aberração ou contradição na perspectiva utilitarista.

É a promessa da segurança que leva ao contrato social. Não é contrato social que cria a expectativa da segurança.

Segundo os utilitaristas esta promessa de segurança é apenas o pretexto para tolher a liberdade. Por isto a forma de governo proposta por Bentham deveria misturar democracia direta, monarquia e aristocracia.

A idéia de cheks and balances é pura quimera doutrinária em face da dificuldade de adminstrar-se um conjunto de interesses individuais distintos, dentro dessa ótica utilitarista.

Para Bentham o governo deveria restringir-se a proteger o direito à propriedade privada, pois a propriedade representa a poupança do trabalho realizado e guardado para usufruto futuro, ou seja, o dever cumprido no passado que potencialmente pode ser transformado em prazer futuro quando desfrutado.

John Stuart Mill (1806-1873) formava, com aqueles que ele mesmo chamava de filósofos radicais, o grupo de utilitaristas trabalhando a teoria de utilidade através da perspectiva metodológica do dedutivismo.

Este processo de construção teórica envolvia a descoberta de determinadas leis naturais baseadas em um conjunto de axiomas psicológicos, os quais foram enunciados por Bentham e trabalhados por James Mill (1773-1836).

Macaulay, Thomas Babington[2] (1800-1859) pensador contrário ao grupo dos utilitaristas, partiu deste conjunto de axiomas para fazer a refutação da teoria utilitarista com base nos princípios que engendraram a teoria utilitarista, principalmente aquele princípio segundo o qual as ações humanas seriam comandadas pela / para a busca da maximização do prazer.

Considerada muito apriorística, superficial e irrefutável: um dogma não científico na perspectiva metodológica poperiana[3]. Não encontrava na análise histórica a prova de que as ações humanas no passado pudessem ser justificadas pelo princípio da busca do prazer, portanto o que não poderia ser comprovado factualmente não passaria de conjectura solta num contexto subjetivo sem possibilidade alguma de uma generalização.

Admitiu Mill, John Stuart. que este erro teria sido cometido por seu pai, James Mill, e atribuiu o equívoco ao método, não às conclusões.

A confusão metodológica girava em torno das alternativas em discussão que conduzissem à uma teoria histórica paradigmática: estavam em disputa o método histórico, a filosofia da História e o positivismo representado pela idéia da física social.

Mill, John S., na tentativa de desfazer o equívoco, optou por misturar a abordagem histórico-filosófica combinada com a física social comteana[4]. A idéia de progresso da História através de etapas definidas, para Mill, John S. era básico no entendimento da Ciência Política.

A princípio Mill, John S. distinguiu dois estágios de sociedade: o natural, onde os melhores líderes dirigiam-na, e o estágio de transição, onde não eram mais os melhores que dirigiam a sociedade, semelhantemente ao raciocínio comteano que buscara esta concepção sobre a evolução do desenvolvimento da civilização que partindo do estágio teológico e metafísico chegou ao estágio positivo, ou experimental, segundo esta corrente Mill, John S. concluiu que mesmo existindo as condições para o progresso ele só surge através de idéias novas, dentro das condições de um clima de liberdade onde o balanço entre a estabilidade e a mudança deve ser administrado sem ameaçar a integridade do sistema social, iluminados pela ciência positiva e pelo ideal de História defendido pelos socialistas franceses, uma vez que o ideal de igualdade lhe parecia cada vez mais irreversível naquele momento efervescente de perspectivas de mudanças nas relações sociais, na perspectiva de uma democracia radical liberal dos utilitaristas.

O ideal de máximo de prazer com um mínimo de esforço precisava de uma revisão conceitual e teórica para adaptar-se aos princípios da filosofia de História adotada por Mill, John S., já em sua fase revisionista de sua teoria de utilidade.

Propôs uma mudança de função do governo, de promotor do prazer e minimizador do dever. Para isto Mill, John S., recorreu às bases do epicurismo[5].

Mill, John S., introduziu o fator qualidade para substituir o fator quantidade na definição do imperativo categórico do prazer dentro da sua teoria utilitarista revisada, com isto relativisou este fundamento (categoria analítica, ou imperativo categórico) da teoria utilitarista.

Segundo esta nova versão o prazer não seria um produto evidente, seria mais subjetivo, sofisticado e complexo.

Um prazer poderia ser, dentro deste novo entendimento, conseguido até mesmo com muito esforço e com o sacrifício de outros prazeres.

Prazeres superiores evidenciariam indivíduos superiores, que para alcançarem tais prazeres deveriam ser realmente livres. Para isto acontecer o melhor governo seria aquele que fosse aceito pelos cidadãos, desejado e necessário para manter a ordem e promover o progresso, já que o progresso pressupõe ordem, segundo a concepção positivista, a segurança deve ser o objetivo do Estado, ordem significa, principalmente para os liberais, a defesa ao direito da propriedade privada e a liberdade para o funcionamento do mercado econômico.

O Psicologismo de Rousseau

Rousseau, em seu Discurso sobre a origem das desigualdades humanas, faz um ensaio sobre o processo de formação do estado liberal referido ao valor da propriedade privada e ao contrato social que fundou o estado liberal.

O marco da criação da sociedade e do estado liberal, para Rousseau, foi quando surgiu a diferenciação de classes sociais que foi o momento em que o homem deixou de ser coletor e passou a ser agricultor, começou a acumular ou guardar para uso futuro o produto de seu trabalho de caça, pesca, coleta e agricultura, formando um primeiro patrimônio.

A partir do momento que o homem deixou de ser nômade, e cercou / delimitou um pedaço de território para si e disse "isto é meu" então surgiu ali, naquele momento, a sociedade liberal, surgiu o estado liberal fundado no reconhecimento da propriedade privada por uma autoridade criada para cuidar do direito de propriedade.

Segundo Rousseau a sociabilidade do homem não é uma habilidade ou característica natural, o estado da natureza[6] caracteriza-se pela suficiência do instinto selvagem, ao contrário o estado de sociedade que caracteriza-se pela suficiência da razão iluminista, positivista, acima do instinto.
O homem natural é amoral, não compreende vícios nem virtudes, não precisa da sociedade nem do Estado.

O princípio da sociedade e dos vícios surgiu com a posse de bens, ou seja, quando foi declarada a primeira propriedade privada, quando surgiu a diferenciação entre pobres e ricos, entre proprietários e não-proprietários.

Portanto, a desigualdade é quase nula no estado da natureza selvagem (estágio pré-socializado) do homem, as desigualdades resultaram da sociedade, das interações sociais, quando se fala em sociedade fala-se em desigualdade, fala-se em pobreza e em riquezas, segundo Rousseau.

Para Robert Mitchels[7] quando se fala em organização fala-se em hierarquia, quando se fala em hierarquia fala-se em diferenciação social, fala-se em privilégios, portanto, fala-se em elites: não pode haver democracia num sistema organizado, segundo Mitchels; para Rousseau, não poderá haver democracia fora do estado selvagem, ou seja, a sociedade é imanentemente antidemocrática segundo Rousseau.

Da vida social nasceram: a riqueza, a pobreza, a beleza ou lascívia, a dominação, a servidão, a paixão romantizada.

Da propriedade surgiu a necessidade de cooperação, a princípio, eventual, depois, de curto e médio alcance, depois, de longo prazo que ensejou a construção da sociedade, do estado e do pacto social, ou, contrato social.

O paradoxo Rousseauniano consiste na negação do princípio de Mandeville[8] onde este último defende a lógica da razão individual como primum movens do indivíduo a despeito do efeito que isto causaria à racionalidade coletiva onde a racionalidade coletiva resultaria da somatória das lógicas individuais, necessariamente.

Para negar o princípio da racionalidade mandeviliana Rousseau nega qualquer racionalidade derivada da sociedade, pois o homem somente seria racional fora da sociedade, segundo o princípio de que as desigualdades sociais não guardam qualquer relação com as habilidades individuais que diferenciariam os indivíduos, quer dizer, não são as virtudes ou os vícios que criariam diferenciações sociais.

As diferenciações sociais, segundo Rousseau, são virtualidades criadas pela e para a sociedade artificial e fictícia sem fundamento na natureza. "A desigualdade não é legítima do ponto de vista natural"[9]. É o efeito grupo-social que criaria as qualidades e defeitos da diferenciação socioeconômica dos indivíduos.

[1]FULLER, T. BENTHAM, Jeremy. MILL, James. IN STRAUSS, L. CROSPEY, J. History of Political Philosophy. Chicago: SN. p.717
[2] Historiador e político britânico,redigiu um novo código de leis e começou a escrever e deixou inacabada a obra História da Inglaterra.
[3] POPPER, K. R. The logic of scientific discovery. LONDON : Hutchinson, 1965. P. 32. Karl Popper é defensor da idéia de metodologia científica baseada na precariedade e provisoriedade das verdades científicas, as quais só são válidas se puderem ser verificadas e se puderem ou, enquanto resistirem ao teste da refutabilidade.
[4] Auguste Comte (1798-1857). Criador da Sociologia, pai do positivismo que foi uma revolução na ciência separando a tradição e a religião da ciência, que passou a ser eminentemente experimentalista (empiricista).
[5] Epicuro filósofo grego 341-270 A.C. que defendia a doutrina que substituía o bem pelos prazeres sensuais, o mal pela dor, segundo a qual a felicidade consistia em minimizar-se os deveres e maximizar-se os prazeres.
[6] O estado da natureza é uma expressão (categoria analítica ontológica) que indica ou define uma hipotética situação pré-civilização do homem que vivia sem qualquer tipo de estrutura gregária.
[7] Lei de Bronze da oligarquia.
[8] A Fábula das Abelhas. de Mandeville, onde explica a organização das abelhas a partir da suposição de que cada inseto preocupa-se apenas com os seu prazer, por isto a colméia funciona com prosperidade. Apud Darwin-Dohrn, A. Mandeville, em seu livro Fábula das abelhas, que serviu de inspiração para Adam Schmith criar a teoria da riqueza das nações liberais, contrariou a realidade da sociobiologia das abelhas, construindo um aforismo sobre o comportamento delas de modo a distorcer o altruísmo e organização das abelhas. Como disse Mandeville: as abelhas conseguem viver com segurança e abastança porque cada uma cuida de si mesma e procura fazer o melhor para si mesma sem se importar com o que a outra abelha faz na colméia.

[9] Ibidem Rousseau. pág 25.